Doce Tortura

47

" Estou sentindo a bagunça borbulhando através de mim [...]
Amor, minha mente não está pronta agora [...]
Vivendo no quarto escuro,
Sim, eu estou vivendo no quarto escuro.

• Michele Morrone- Dark room"

~ Lisa

Anestesiada!
Foi assim que passei as últimas horas desde o susto pela manhã. Liguei no trabalho e mandei Ryans avisar que só iria a tarde. Kate foi tomar conta do caos e eu estou agora na farmácia mais distante da cidade pra comprar minha dose de esperança. Isso mesmo, comprar.

A pílula do dia seguinte.

Enquanto espero na fila do caixa, observo alguns testes de gravidez e eu podia jurar que eles gritavam para que eu levasse um deles. Eu me recusava a ouvi-los. No fundo do meu coração eu sabia que os meses tomando a injeção corretamente iria me livrar dessa situação.

Por via das dúvidas, Kate pediu que eu tomasse a pílula. Eu estava puta de raiva. Como deixei isso acontecer? Nunca aconteceu antes, sempre fui bem cuidadosa com as pessoas que eu fazia sexo. Puta merda! Agora não adianta ficar desesperada, tenho que me manter firme. Tudo daria certo!

- Próxima.- chama a moça do caixa e me dirijo a ela entregando o pagamento sem esperar troco.

Assim que entro no carro, olho para a pequena pílula e involuntariamente toco a barriga. Não era a coisa mais fácil do mundo e embora tenha sido recente eu me sentia culpada. Tudo aquilo me fazia lembrar de tudo que aconteceu com minha sementinha e o quanto aquilo doeu.

Porra! Levanto a cabeça sacudindo os pensamentos para longe, boto a pílula na boca e bebo água.

Oh Deus! Não estou pronta, por favor me ajude com essa situação. Foi um pequeno deslize, prometo que não acontecerá novamente. Não posso estar, não vou estar. Que ódio de mim e da minha maldita compulsividade sexual. Depois dessa vou me abster de sexo por mais 1 ano!

Olho através do retrovisor, a pele pálida, os olhos cansados e o cabelo preso em um rabo de cavalo porque se recusava a ficar acentado sem uma Xuxa. Eu precisava me tratar e precisava urgente!

Conecto o celular ao carro e digito o número do melhor psicólogo local. A pessoa que me conhece melhor do que qualquer outra nesse mundo, até mesmo melhor que eu.

########

O lugar não se parecia nada com o que eu me lembrava. Estava menos colorido. Não sei... Talvez sejam os quadros com imagens de passagens em tons neutros ou o marrom que ele escolheu para revestir os novos móveis da sala.

Me sentei no divã já sentindo minhas mãos soarem. Não que eu não já tenha feito isso antes, é que agora parecia diferente.

- Tenho que admitir que apesar das circunstâncias é muito bom vê-lá novamente querida. Faz anos que decidiu pôr fim à nossos encontros- os olhos sinceros demonstrando puro carinho e acolhimento.

- É bom vê-lo Jhon- ele sorri ao lembrar do apelido que dei a ele quando mais nova. Olho ao redor notando que naquela sala contei a ele todos meus segredos, sentimentos, dores, raivas, mágoas. Não me lembro de outra vez que tenha falado tanto desse assunto.

Eu adorava o senhor de meia idade sentado a minha frente. Ronald Jhonson me ajudou bastante durante minha vida, havíamos criado o que pode ser chamado de "relação amigável"depois de anos frequentando aquele consultório. O problema nesse cenário é que estar ali novamente significava que eu não estava bem e isso sim me causava pavor.

- Eu quero lhe dizer o quanto sinto muito pela sua mãe, querida. Estou pronto para começar se você estiver.

- Obrigada Jhon. Não sei por onde começar, eu perdi o controle sobre mim, sobre meus atos. Queria dizer que entendo o porque de tudo isso estar acontecendo mas não entendo, não sei onde me perdi, onde errei. Tudo parece tão estranho, não faço ideia de como te falar sobre isso.