Prólogo

88 7 0
                                    

Segunda-Feira chegou e mais uma semana de provas já vinha pela frente. Felizmente, a prova de matemática seria depois do recreio. A primeira aula era com o professor de estudos sociais, o Sr. Ethan, cuja bondade nos permitiu estudar para a prova no seu horário.

Sentei na última mesa dupla ao lado da janela onde eu e meu melhor amigo Walter escolhemos ficar – um lugar onde aproveitávamos para olhar o cotidiano das diversas pessoas lá fora, imaginando como seria se estivéssemos no lugar delas, sendo adultos ocupados com milhões de coisas e responsabilidades.

Somos amigos de infância, assim como nossos pais foram. Já entramos em tantas confusões para proteger um ao outro de valentões que implicavam conosco, até mesmo fugimos de fininho de nossas casas para nos encontrarmos com Violet (nossa amiga que canta em uma banda de rock em baladas noturnas depois da meia-noite).

Esperava por Wal, porém a ida dele ao banheiro estava demorando mais do que o normal. Conhecendo-o muito bem, ele não era de enrolar quando estava tendo qualquer compromisso. O cara era pontual em seus objetivos, às vezes muito perfeccionista. Precisava ir atrás dele e saber do seu paradeiro.

— Professor, eu poderia ir ao banheiro?

— Pode sim, Shaylan, aproveita e traz seu amigo fujão de volta.

— Farei isso.

Saí da sala e fui direto ao banheiro masculino no final do corredor. Entrei chamando seu nome.

Ele não respondeu.

Andei pelo corredor do térreo começando a me preocupar, quando caminhei sentido à saída principal, foi aí que o vi.

Wal abriu as portas do colégio brutalmente, achei até que elas teriam quebrado com tamanha violência. Ele corria desesperado pelos corredores, aos gritos, batendo em cada sala que encontrava. Sua atitude irracional me convenceu de que algo havia acontecido lá fora. Algo sério. Paralisei no corredor, assustado, querendo saber o motivo da histeria e por que ele estava fora do colégio naquele horário.

— Os aliens estão em Beverly Falls, corram… fechem o colégio… estamos sendo atacados!

Fiquei encarando-o até nossos olhares se encontrarem. Ele colocou as mãos em sua boca, os olhos arregalados, e correu até mim, pela velocidade pensei que ele iria me derrubar no processo. Quando tocou com suas mãos trêmulas em meus ombros, chacoalhou-me igual um a boneco.

— Nós vamos morrer!

Wal não era assim, não era do seu feitio deixar suas emoções tomarem conta de si e agir como um louco. O modo como me olhava parecia querer que eu visse o que ele havia visto lá fora.

Seus gritos acabaram chamando a atenção de todos os alunos do colégio, logo o corredor estava cheio de curiosos olhando para nós dois. Momentos como esse que eu sempre procurava evitar, mas às vezes era inevitável.

— Calma, Wal. Que alienígenas?

— Lá fora, Shay, eles pegaram dois homens à força e… e… e…

Só quando se acalmou, Wal percebeu os colegas ao nosso redor. Pensei que ele iria se desculpar, mas o que disse a seguir me deixou muito envergonhado:

— Protejam nosso colégio, os alienígenas estão chegando.

Nossos colegas não sabiam como reagir, nem mesmo os professores esboçaram uma reação, até que os valentões começaram a rir e logo foram seguidos. Felizmente, nem todos fizeram isso, apenas cochicharam entre os amigos sobre a cena que testemunhavam.

Procurei por Violet e quase implorei com o olhar para que ela viesse ao meu auxílio, mas ela não veio. Seu semblante preocupado era como o meu. Nosso amigo não estava bem, precisava de ajuda.

— Wal, você está nos fazendo passar vergonha.

— Isso é o de menos, cara. Nós temos que nos proteger com armas…

Não pude mais me conter. Se deixasse, ele poderia fazer uma besteira estando com os ânimos à flor da pele. Precisava ajudá-lo e amenizar aquela cena constrangedora. Peguei-o no colo e o coloquei em meu ombro direto. Já que estava passando vergonha, que terminasse com chave de ouro. Felizmente, ele era tão leve quanto uma folha.

Meus colegas abriam espaço quando eu passava em direção ao banheiro, eles riam da minha cara vermelha como um tomate e de Wal ainda balbuciando atrás de mim que precisávamos fechar o colégio.

Uma cena que seria lembrada no Colégio Loudonville por muitas gerações.

Um dia que seria inesquecível.

Night Hunters (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora