Capítulo Onze: Fim do Colégio Loudonville

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Acordei totalmente suado e tremendo, o sonho que tive foi muito forte e real, olhei para minha escrivaninha onde meu celular estava, levantei-me em um pulo indo até ele. Felizmente, minhas suspeitas de que aquele sonho fosse real caíram por terra quando vi a mensagem de Wal dizendo que estava bem.

Voltei para a cama aliviado, coloquei minha mão em minha testa para sentir minha própria temperatura. Estava quente, mas nada com que se preocupar.

Não demorou muito para que eu caísse no sono novamente. Não sabia que ter pesadelo tão forte me deixava tão cansado. Por fim, meus olhos se fecharam e não tive nenhum sonho.

.........

Desta vez consegui acordar com o despertador, não tive dificuldades em me arrumar para ir à escola. Achei estranho Wal não estar ali para me acompanhar. Deixei isso de lado para tomar café da manhã. Não vi minha mãe na cozinha quando normalmente é ela quem já acorda primeiro para preparar um lanche, mas encontrei um bilhete preso na geladeira. Nele ela dizia que havia ido ao mercado. Amassei o papel e joguei no lixo. Logo ela estaria aqui.

Fiz mais um sanduíche para ir comendo no caminho até o colégio, encarar mais um dia de suspeitas e ficar atento com quem eu poderia confiar. Hoje à tarde treinaria com Wal tiro ao alvo junto com Violet e os demais que quisessem nos seguir.

Assim que cheguei ao campus, o clima era totalmente outro. A maioria dos meus colegas estava com a cara fechada como se estivesse de luto. Ninguém mantinha contato visual com ninguém, olhavam para nenhum lugar em específico.

Droga. Será que na noite anterior todos já foram possuídos? É melhor eu entrar no jogo para não levantar suspeitas.

E lá vamos nós.

Entrei no colégio sem dizer nada. Tentei agir como um robô, de vez em quando olhava sobre meus ombros, procurando alguma pista de com quem eu pudesse conversar. Em meio a tantos rostos inexpressivos, eu comecei a suar frio. Não sei por quanto tempo poderia ficar naquele papel. Felizmente, encontrei Violet passando pelo outro corredor, ela ainda não havia me visto. Estava com os olhos inchados e vermelhos. Alguma coisa havia acontecido com ela e eu precisava saber o quê.

Fiquei encarando-a até que nossos olhos se encontraram. Quando isso aconteceu, ela se deteve no meio do corredor com a mão direita em sua boca, fiquei confuso com aquela reação dirigida a mim. Parecia que ela queria me dizer alguma coisa, mas, no momento em que eu iria até ela, o sinal tocou. Cada um, como robôs, dirigiram-se às suas respectivas salas, nesse instante de distração, não vi quando ela se retirou para a sala com os demais. Só me restou fazer o mesmo, antes que chamasse atenção.

Entrei na sala indo em direção ao meu lugar. Sentei-me preparando meu material quando vi Wal entrando atrás de Danton. Eu fiquei sem reação no começo. Ele não estava suspenso por uma semana? E Dalton era um dos possuídos e ele sabia disso, mas o modo como agia me fez pensar que ele estava ciente do que estava acontecendo ao seu redor e entrou no jogo como eu e Violet. Quem sabe o diretor finalmente tivesse percebido que ele estava certo e o convidou a voltar para o colégio a fim de nos ajudar com alguma defesa. Eram tantas teorias que vinham em minha cabeça.

Teria que esperar o momento certo para abordá-lo, precisava falar sobre meu sonho e como estava preocupado com sua segurança. Wal se sentou no lugar de sempre e nem mesmo olhou para mim. Aquilo me incomodou, mesmo sabendo que não podíamos chamar atenção, mas eu precisava muito falar com ele.

O professor de geografia, o Sr. Ryder, entrou normalmente, mas não nos cumprimentou como fazia. Foi direto para sua mesa, sentando-se nela e mexendo em sua mochila, de onde tirou uma papelada e ali ficou fixo em algum tipo de leitura.

A partir daí todos os alunos abriram seus livros em um movimento ensaiado. Fiz o mesmo. Cara.... isso estava me incomodando muito. Pelo visto até os professores foram pegos. Os adultos dificilmente acreditariam em nossos planos, então eram os alvos mais fáceis.

O horário parecia não ter fim, pois ninguém falava uma só palavra. Nem mesmo mudavam de páginas, era assustador ficar no meio de tudo aquilo. O sinal para a segunda aula tocou, mas ninguém se mexeu, apenas o professor Ryder saiu da sala, vindo o próximo em seguida, o Sr. Makson, nosso professor de filosofia com a mesma ação que o anterior.

O que fez aquela aula ser diferente foi Violet quando tocou no meu ombro e me entregou um papel dobrado. Ele dizia:

“Não fale com o Wal, te explico na hora do recreio, me encontre na sala de armamento. Eu, Adam e mais algumas pessoas estaremos lá para agirmos.”

Ainda bem que Violet sabia que não devíamos interagir naquele momento. Fiquei aliviado por saber que Adam ainda era um de nós. Escrevi no meu caderno um "ok" como resposta. Rasguei a folha silenciosamente e a entreguei por baixo de mim. O sinal para o intervalo tocou e cada um se levantou saindo em fila coordenada, um atrás do outro (atitude que nunca aconteceu no nosso colégio).

Fiquei atrás de Wal, queria falar com ele agora que tínhamos uma chance, mas fui detido por Adam atrás de mim. Seu rosto estava sério e alerta. Deixei os demais saírem e somente eu, Adam, Violet e Willian ficamos na sala.

— Pessoal eu falo com vocês depois. Preciso falar com meu amigo…

— Shay, me escuta — disse Adam, mas o cortei rapidamente. Eu realmente precisava ver Wal.

— Depois, cara, eu volto com ele e aí conversamos.

Saí às pressas para não deixar mais ninguém me impedir. Fui até o refeitório achando que ele estaria lá, mas não o encontrei. Então fui até o pátio onde ficávamos sentados no gramado fingindo estar em um piquenique como fazíamos. Nada dele. Caramba… como pode desaparecer assim tão rápido?

Passei pela quadra de esporte e foi lá que o encontrei. Estava jogando futebol americano com outros colegas e com Danton. Ainda bem que Wal estava perto para eu abordá-lo sem chamar atenção.

— Ei, garotão — sussurrei. Wal me assustou quando vi sua cabeça mexendo para o lado involuntariamente, como um espasmo muscular. — Queria falar com você.

— Sobre? — Foi direto, sem olhar para mim. Sua atitude ainda estava no jogo.

— Tive um sonho ruim onde você era sequestrado por alienígenas, mas pra isso preciso falar com você pessoalmente.

Peguei em sua mão com a intenção de levá-lo comigo.

— Eu te explico depois… em um lugar melhor.

Dei meu primeiro passo quando percebi que Wal não se mexera nem um centímetro se quer.

— Que foi?

— Lembro de duas coisas que aquelas criaturas revelaram na noite anterior.

Epa, epa, epa... Wal estava agindo muito estranho. Não me diga que… por favor, não. Que tudo que vi tenha sido um pesadelo.

Os demais jogadores pararam tudo que faziam para olhar nós dois. Aquilo estava ficando perigoso.

— Criaturas? — Fingi não entender.

— Aqueles olhos — Wal estralou o pescoço, virando pra mim. Sua expressão me deixou assustado.

Ele sorria com malícia e maldade. Seus olhos pareciam sem vida. Era assustador.

— Olhos?

— Aham. — Mais um estralo vindo de seu pescoço quando ele balançou para o lado. Alto para ser prejudicial para uma pessoa normal.

Logo os demais já estavam por perto, todos atrás de Wal com seus olhos brilhantes. Queria muito que fosse um pesadelo e que os olhos do meu melhor amigo não fossem como os dos outros.

Soltei sua mão, olhei para ele com meus olhos cheios de lágrimas ameaçando sair. Não sei por que não corri, eu não queria admitir, mas Wal já era um deles. Tinha que sair correndo agora ou nunca.

— Lembro que um deles gritou assim. — Walter abriu sua boca como sua mãe fizera, soltando um grito anormal e grave, alto o suficiente para o colégio todo ouvir. Os demais o seguiram, gritando igualmente.

— Me desculpe por deixá-lo sozinho — sussurrei em meio às lágrimas antes de agir.

Aquela era minha deixa. Disparei para dentro do colégio sem olhar para trás.

Night Hunters (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora