No dia seguinte, eu já estava pronto para dar minha resposta, eu iria ajuda-lo a levar escondido naquela noite as armas para a escola. Violet e eu encontramos na hora do recreio uma sala abandonada cheia de tralhas velhas e antigas (um tipo de depósito) no último andar, onde ninguém se interessava em explorar.
Quando soou o sinal para retornamos, corremos até nossa sala. Depois de alguns minutos, Adam me abordou na minha cadeira. Foi tão rápido que me deixou sem reação.
— Como ele está? — perguntou inclinando os braços na mesa, seu rosto perto do meu.
Torci muito para não ficar vermelho naquela hora. Um arrepio percorreu todo o meu corpo, sentir a respiração dele perto dos meus lábios não ajudava. Tudo em mim estava tenso e agitado. Nunca fiquei tão perto de alguém que gostava.
— Wal tá bem, cara — disse normalmente. Pelo menos, minha voz não me traiu. — Só estou preocupado com o modo que ele vem agindo.
— Nunca conversei direito com ele, mas sinto que ele é uma pessoa legal.
Aquela conversação sobre meu amigo aos poucos me aliviava. Logo minha postura já estava relaxada.
— Ele é sim. O tipo de pessoa que você gostaria de ter por perto.
— Então… eu queria muito falar com ele sobre um lance. Teria como você dar esse recado para mim?
Adam querendo conversar com Walter? Nesses anos que estudamos juntos, eles nunca conversaram direito, e o modo como falou me deixou muito inquieto. Alguma coisa séria deve ter acontecido, mas qual a relação desse acontecimento? Adam também viu ou acreditava em alienígenas?
— Dou sim, eu poderia saber sobre qual assunto?
— Desculpa, Shay. Isso é pessoal e só o Walter pode me ajudar nesse momento.
— Tá bom — soei tristonho. Uma parte de mim queria que ele contasse ou confiasse em mim.
Em seguida, ele se levantou, dando as costas para mim e indo se sentar. Senti as mãos de alguém tocando meu ombro em uma massagem. Nem percebi que Violet estava atrás de mim, escutando tudo que conversávamos.
— Fica assim não, gatinho. — Ela procurou ser gentil, o que me fez achar que o meu tom de voz nas palavras finais deu a resposta que ela queria sobre meus sentimentos por Adam.
— Tô de boa, Vi. Preciso ir ao banheiro.
Nem a deixei responder, já fui me encaminhando para a saída, ainda bem que o professor não estava por perto, dando-me a oportunidade de sair de fininho.
Querendo constatar estar sozinho, dei uma olhada completa no toalete, então fui até a pia e me olhei no espelho. Meus olhos lacrimejavam, meus lábios tremiam. Aquele não era eu, não era o tipo de pessoa que mostra seus sentimentos para ninguém, nem mesmo para o Wal. Eles me viam como um homem frio, mas essa frieza era o que me permitia não deixar meus sentimentos expostos e sem proteção. Já fui machucado uma vez e a sensação era tão horrível e pesada que te mata aos poucos. Se você não souber lidar com isso, simplesmente desiste.
Eu escolhi não desistir, mas também escolhi construir barreiras impenetráveis para ninguém querer entrar. Isso me trouxe um custo, um preço que eu escolhi pagar, mas consigo conviver muito bem com ele. Mas o Adam me deixa assim… sensível.
Procurei me controlar e apagar aquela pequena fraqueza, quando vi pelas janelas de fora, acima de mim, Danton sendo forçado a ir para trás das árvores por uns três garotos da nossa idade (provavelmente do segundo ou terceiro ano). Eu diria que se tratava de um acerto de contas. Resolvi subir na pia para ver melhor, antes que eles sumissem de vista. Seria constrangedor alguém me pegar naquele ato, mas minha curiosidade era maior que minha preocupação com a minha reputação. Eu também não era o único a estar cabulando a aula.
— Tomou, otário.
Todos desapareceram por um momento e tudo que pude ouvir foram os gritos de Danton. O modo de gritar daquele menino me deixou assustado. Seria um acerto de contas? Porque se fosse, não precisava de todo aquele escarcéu.
Fiquei esperando ver alguma coisa, mas nada aconteceu. Até Danton correr como se sua vida dependesse disso. Vi os outros dois garotos com os olhos brilhantes. Um deles se atracou contra as costas de Danton, derrubando-o no chão. Uma briga para mantê-lo ali deu início. Os dois trocavam socos, chutes e Danton o xingava com palavrões e insultos conforme tentava se soltar. O segundo só esperava alguma brecha para ajudar o companheiro.
O terceiro apareceu, carregando alguma coisa entre as mãos. Ao semicerrar meus olhos pude enxergar melhor. A imagem quase me fez gritar também (ainda bem que coloquei minha mão na boca antes mesmo de pensar em fazê-lo). Era um tipo de criatura redonda e gosmenta, sua pelagem era rosada e possuía tentáculos em torno de seu corpo que mexiam agitadamente. A criatura tinha um olho no meio de seu corpo rechonchudo, acompanhado de dentes enormes e afiados, seus tentáculos também possuíam olhos. Era a criatura mais medonha e assustadora que já vi.
Danton conseguiu sair das amarras dos dois meninos e se arrastou no chão, ofegante. Por um segundo, nossos olhos se encontraram (ambos arregalados com o que eu via para com o que ele vivia). Ele ia abrir a boca para dizer meu nome quando a criatura nas mãos do terceiro menino deu um salto, indo parar nas suas costas. Danton rolou no chão, mas a criatura previu aquele movimento, rolou para o lado oposto, ficando em cima de sua barriga, logo saltou para sua cara, sufocando-o em meio aos gritos. Danton se debatia violentamente enquanto a criatura entrava totalmente por sua boca.
E assim ele ficou, seu corpo tremia no chão como se sofresse ataques epiléticos, até cessar por si mesmo. Parou de tremer aparentando estar morto. Depois de alguns segundos, ele se levantou de uma forma anormal, limpou sua boca com o punho e olhou ao redor, constatando que ninguém havia visto aquilo.
Antes de me esconder, pude ver seus olhos brilhantes e vazios, como Wal descrevera para mim. E ali eu fiquei, imóvel em cima da pia com a mão na boca e meus olhos arregalados e molhados.
Walter tinha razão, estávamos sendo atacados por alienígenas que queriam dominar nossa cidade. Beverly Falls era o palco perfeito para dar início àquele plano macabro e eu sabia que cada um estaria sozinho a partir de agora.
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Night Hunters (Concluído)
AvventuraBevery Falls não tinha nada de incomum - uma cidade monótona até. Tudo seguia seu rumo equilibrado para Shaylan que tinha preocupações mundanas - como passar nas provas de segunda-feira das quais não estudou - até que o chamado de seu amigo Walter s...