Capítulo Dezesseis: Premonição

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Eu e Willian amarramos fortemente minha mãe alienígena e amordaçamos sua boca para que não nos denunciasse quando acordasse. Agora que estava com a cabeça no lugar, pude sentir a dor dos cortes. Levantei minha camisa para ver se foram profundos, felizmente, não eram, só passavam de arranhões e cortes superficiais.

— Acho melhor você trocar de roupa. — Willian apontou para mim.

— Queria mesmo era tomar um bom banho depois disso, estou começando a feder.

— Você não é o único.

— Fique aqui enquanto eu me arrumo.

— Beleza… enquanto te espero, posso ir até a cozinha? Estou com fome.

— Sirva-se à vontade, não vamos ficar nesta casa mesmo.

Subi as escadas para aproveitar a oportunidade para me trocar. Limpei meus ferimentos com álcool e higienizei com água e sabão. Sabia que não tinha tempo para um banho demorado, por isso resolvi ser o mais rápido possível, me senti muito melhor no final.

Desci as escadas pronto para partir. Encontrei Willian comendo em pé um sanduíche enquanto me esperava. Percebi que ele estava ansioso e agitado pelo modo como andava, algo que eu compartilhava depois de tudo aquilo. Não dava para ficar parado. Somente o movimento nos deixava em alerta máximo e ativos. Agora que estava com um acompanhante, pedi para ele me ajudar com os mantimentos.

Saímos de casa com duas mochilas cheias de comida e itens de higiene básica. Antigamente nunca estaríamos trabalhando juntos como estávamos, entretanto, tínhamos algo em comum que nos ligava para um trabalho em conjunto. Ambos perdemos os nossos melhores amigos. Ficar perto dele não me causava mau humor ou incômodo. Esse novo Willian, mais colaborativo e menos um pé no saco, era mais legal de se conviver.

Juntos resolvemos passar pela Vernon Ave., lá encontramos Adam e nosso colega correndo para dentro da floresta onde daria para o Black Fork Mohican River, ambos estavam sendo os mais silenciosos possíveis para que os aliens não pudessem vê-los.

— O que vocês estão fazendo? — sussurrei para chamar a atenção. Eles ouviram, olharam para trás e acenaram.

— Andem por aqui… tomem cuidado — disse Adam, sussurrando de volta.

Willian foi à frente e eu logo o segui. Foi então que eu paralisei bem no meio do caminho, meu corpo todo parou contra a minha vontade, como se algo me detivesse. Eu estava começando a ver fragmentos da nossa cidade (não como estava agora, mas mais sombria e destruída) ao mesmo tempo em que estava acordado e lúcido.

— Shaylan, o que você tem? Tá me escutando? — Senti as mãos de Adam segurando meu rosto, tentando me tirar do transe. — Me ajudem aqui, ele entrou em transe.

— O quê? Como assim ele entrou em transe? — perguntava William desesperado. — Como ele entra em transe justo agora?

— Cala boca, seu idiota, e ajuda aqui. — Ouvi Adam dizer seriamente. — Ele é um Canalizador.

— Um o quê? — disse nosso colega.

— Deixa quieto.

Essas foram as últimas palavras que ouvi antes de apagar.

.............

Em meus devaneios, me vi em um subterrâneo onde havia muitas pessoas dentro de casulos gosmentos intubados com máscaras que os ajudavam a respirar e, em meio a muitos deles, vi Wal e corri até ele. Ele dormia serenamente, em paz. Estava em uma posição fetal, encolhido no pequeno espaço. Quando toquei em seu casulo, seus olhos despertaram. Ele apoiou sua mão junto da minha e disse:

— Nos encontre, salve-nos.

Antes que pudesse responder, fui puxado por uma força maior do que a minha vontade. Logo me vi no telhado do Colégio Loudonville. Era noite e havia muitos alienígenas em suas verdadeiras formas e tamanhos. Todos estavam circulando o colégio como se ele fosse o centro de um ritual. As estrelas no céu se apagavam uma por uma, deixando o espaço acima de mim em infinita escuridão. Nem mesmo a lua podia mostrar sua fonte de luz. Os aliens abaixo passaram a gritar e clamar em sua língua desconhecida. Eu achei que aquilo se assemelhava a um rito de adoração, como as pessoas costumam fazer quando estão na presença de seus deuses.

Logo o céu escuro brilhou, pensei que fossem as estrelas novamente, e eram. Elas caíam em uma chuva de meteoros sobre minha cidade, fogo se espalhava ao meu redor, queimando tudo que tocava. Não vi nenhum ser humano como eu, só podia testemunhar o fim de Beverly Falls enquanto meu colégio era protegido por uma redoma. Os aliens se agitavam e gritavam como se estivessem comemorando aquela destruição. Logo tudo o que eu podia ver era fogo e mais fogo crescendo e crescendo sem fim.

— Não façam isso com o nosso mundo — finalmente consegui dizer alguma coisa.

Abaixo de mim os aliens olharam em minha direção. Apontavam e riam da minha cara. Agiam como loucos. Um deles falou em minha língua e não gostei nem um pouco do que ouvi.

— Bem-vindo ao nosso mundo, garoto. Nós vencemos e conquistamos mais um planeta. Você será o sacrifício e usaremos sua cabeça como troféu, assim como os outros.

Não sei como, mas cada alienígena levantou uma estaca com muitas cabeças de várias espécies que eu conhecia ou desconhecia. Eram erguidas como troféu e se orgulhavam disso. Caí de joelhos e chorei ao ver tamanha crueldade.

— Você é nosso — alguém falou.

Quando fui olhar na direção da voz, vi dois seres enormes saindo das densas fumaças do inferno. Eram como dragões. Tinham quatro olhos selvagens, parte da testa se dividia em vários fios separados um do outro, aparentando serem serpentes venenosas. Seus dentes eram afiados, com uma língua bifurcada. O resto de seu corpo era totalmente escamoso, havia duas pequeninas mãos no meio de seu corpo, uma ficava abaixo de seu pescoço e uma outra acima de suas pernas. A criatura totalizava seis mãos habitando um mesmo corpo. Era horrível de ver, sua cauda voava em meio à densa fumaça.

— Shaylan, Shaylan — dizia Adam preocupado.

Ao despertar, vi seus olhos arregalados que não paravam de me fitar.

— Que foi?

— Você teve um apagão enquanto convulsionava — disse Willian atrás de nós. — Nos assustou, cara.

— Ouvimos você dizer algo do tipo: “Não façam isso com o nosso mundo” — explicou nosso colega.

Foi aí que lembrei da minha visão. Levantei-me num salto e minha cabeça doeu por isso.

— Agora lembrei — falei conforme massageava minha testa. — Eu tive uma visão ou algo parecido.

— E o que você viu? — perguntaram juntos.

— O fim do mundo. Nossa derrota e a conquista dos alienígenas.

Night Hunters (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora