Assim que entrei no colégio, não tinha nada a meu favor para usar como fechadura, então tive que ir no improviso. Tirei meu casaco rapidamente para usá-lo como suporte entre as maçanetas. Os garotos lá fora se chocaram contra a porta bem a tempo de eu conseguir dar, pelo menos, um nó. Suas mãos tentavam me pegar pelas frestas, eles agiam como loucos, rosnando diante de mim com seus olhos selvagens. Ficar no colégio não era mais seguro.
Vi Wal se aproximando lentamente, ainda com aquele sorriso malicioso. Em suas mãos havia uma pistola. Desde quando? Será que os alienígenas possuíam as memórias das pessoas também? Rezei para que não, do contrário, nem mesmo a sala do último andar estaria segura. Só sei que teria que ariscar, pois Wal apontou a pistola para o céu e disparou. Era uma arma sinalizadora. As chamas vermelhas se dispersando conforme iam se expandindo, aquilo não era bom. Podia ser um tipo de mensagem oculta.
— Iniciar operação… — dizia Wal aos gritos. — Missão: peguem todos que sobraram.
A ordem foi dada, os caras à minha frente pararam de se mexer por um momento, eu sabia o que viria a seguir e não gostaria de estar por perto quando a porta fosse arrombada. Corri pelo corredor indo para o primeiro andar, havia um lugar para me manter seguro (só esperava que os outros também estivessem lá).
Enquanto eu corria, comecei a ouvir gritos de desespero por toda parte, vinham tanto do colégio abaixo de mim quanto lá fora. Parei para olhar em uma das janelas do terceiro andar o que estaria acontecendo. O caos completo tomou as ruas do campus do Colégio Loudonville. Pessoas corriam aos montes para salvar suas vidas, desviavam de alguns carros que batiam nas árvores e casas, felizmente ninguém foi atingido. Algumas das pessoas procuravam pular os portões do colégio achando ser seguro, tentei chamar a atenção deles batendo na janela. Queria dizer que aqui não era seguro, mas não podia fazer nada por eles. Somente assistir enquanto eram capturados quando chegavam do outro lado e forçados a irem para algum lugar onde seriam possuídos por alienígenas. Ouvi tiros de armas ecoando lá fora, infelizmente não sabia dizer onde seria a origem e em que circunstâncias as pessoas estariam para atirar. Mais à frente, fumaças negras subiam aos céus, bem em direção ao centro da cidade de Beverly Falls.
Com muita dor em meu coração, dei as costas para o pessoal lá fora, subindo o último andar. Cheguei onde tínhamos combinado, vi alguns colegas levando as tralhas da sala às pressas, havia muitas espalhadas pelo corredor. Conseguiram mesmo até arrancar as portas de uma das salas. Como fizeram isso? Eram portas de madeira muito resistentes. A não ser que tivessem em mãos chaves de fenda para usarem ao seu favor, mas isso iria consumir muito do tempo deles. Pensaria nisso depois.
Perguntei o que estava acontecendo e o mais perto de mim respondeu que eles estavam construindo duas portas falsas e uma barreira nas escadas para retardar o avanço dos alienígenas no último andar. Para não atrapalhá-los desviei da maioria para poder chegar na última sala. Ao abrir a porta, vi Violet, Adam ao lado de seu time e Willian com muitos outros colegas olhando para mim, assustados, pois os gritos continuavam lá fora. Parecia que eles já previam que esse momento ia chegar, pois a sala, antes cheia de cadeiras, mesas e armários velhos, agora continha algumas cadeiras limpas, uma mesa grande e um quadro negro fixado na parede (mais uma vez me perguntei como fizeram tudo aquilo em um curto espaço de tempo).
— Você está vivo! — Violet me abraçou chorosa. — Achei que tinha te perdido também.
Abracei-a fortemente tentando não chorar, meus olhos já lacrimejados vendo-a assim.
— Pegaram o Wal, Vi.
— Nós vimos tudo pela janela, Shay — disse Willian seriamente recostado na janela, vendo tudo desmoronar. — Violet queria ir até lá para impedi-lo, mas Adam não a deixou. Sinto muito pelo seu amigo. Perdi o meu também.
— Façam parar… — dizia um garoto sentado no canto do chão, isolado dos demais com as mãos nos ouvidos. — Façam parar, por favor.
Ninguém podia censurá-lo, cada um ali naquela sala precisava lidar com aquela realidade nua e crua. Lá fora os diversos sons se misturavam, estava cheio de ruídos, gritos de vida e morte.
— O bilhete… — disse Violet, soltando de mim. — O bilhete que te mandei falando sobre o Wal, devia ter dito logo de cara que ele era um deles. Me desculpe.
— Como soube? E onde você estava ontem a noite? Wal gritou seu nome pensando que você estaria em casa até ser capturado.
A reação de Violet me deixou tão surpreso quanto a informação que eu acabei soltando para ela sobre algo que não deveria saber.
— Primeiramente foi Adam quem me avisou, disse que chegou a ver Wal sequestrar um dos seus colegas hoje de manhã com Danton e outros, antes da aula começar. E sobre ontem a noite eu não estava em casa mesmo, fui encontrar meus colegas que acreditaram em mim para uma reunião aqui no colégio. Agora... como sabe sobre esses detalhes de Walter?
— Isso eu te conto com mais calma, prometo. – Felizmente ela não quis dar prosseguimento ao assunto.
— Tentaram me sequestrar também. — Adam se aproximou de nós dois nos dando mais informações.
Ao dizer isso, meu sangue ferveu, não sei se fiquei vermelho por conta da raiva que sobreveio a mim na mesma hora. Tive que fechar meus punhos para não deixar meu desconforto visível.
— Consegui vencê-los em um combate corporal. Entrei no colégio às pressas para falar com meu time. Felizmente, eu encontrei Violet no segundo andar conversando com eles. A partir daí contei tudo que vi.
— Decidimos agir depois disso — Willian comentou ainda olhando friamente o caos na janela. Pude ver pelos seus braços cruzados como estava tenso. — Eles vieram até mim, depois que vi o comportamento estranho de Danton, não podia deixar de ajudá-los. Reunimos todos os outros que sabíamos estar sãos. E o resto é isso aqui que você está vendo.
Tudo se encaixava para mim agora. Meus amigos e colegas fizeram um ótimo trabalho em equipe em tão pouco tempo. Apesar de meu arrependimento ainda ser forte o bastante por ter dado as costas a eles.
— Se eu tivesse ouvido o que o Adam queria me dizer, isso não estaria acontecendo agora. Eu que peço desculpas.
Adam me abraçou fortemente sem pedir permissão (confesso que, para ele, eu teria deixado de qualquer jeito). Me sentia seguro em seus braços fortes. Meu porto seguro no meio de todo aquele caos perturbador.
Perdi meu melhor amigo no dia em que tudo chegou ao fim. Mesmo abraçando pela primeira vez o garoto que eu amava em segredo, ainda me sentia incompleto. Um vazio que dificilmente seria preenchido com o tempo.
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Night Hunters (Concluído)
AventuraBevery Falls não tinha nada de incomum - uma cidade monótona até. Tudo seguia seu rumo equilibrado para Shaylan que tinha preocupações mundanas - como passar nas provas de segunda-feira das quais não estudou - até que o chamado de seu amigo Walter s...