Capítulo Vinte e Nove: O Poder de um Humano

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As trepadeiras se enrolaram em mim fortemente. Podia senti-las arranhando minha pele, sentia dor mesmo estando em uma dimensão astral. Perguntei-me se meu corpo no mundo real estaria sofrendo. Eram tantas de uma vez que logo seria enterrado vivo entre elas.

“Acalme-se, Shaylan. Você pode fazer muito mais do que isso. Aqui você tem capacidade de fazer maravilhas que não pode na vida real.”

“Como assim?”

“Imagine que você possui uma pele impenetrável.”

Segui a dica de Thomas, já estava soterrado por trepadeiras que me deixavam perto de uma crise de pânico. Imaginei minha pele tão dura e resistente quanto aço, como a do Superman.

Assim como desejei e imaginei ser real, aconteceu. As trepadeiras já não me incomodavam mais, não sentia mais a dor de ter minha pele rasgada pelos espinhos. Ainda assim, estar soterrado me deixava muito incomodado.

— Afastem-se de mim — ordenei fortemente.

As trepadeiras obedeceram a minha vontade, afastaram-se rapidamente, deixando um espaço aberto entre Thomas e eu. Tão logo se afastaram, tornaram a se voltar contra mim. Não era eu quem as controlava, havia uma vontade maior que a minha em querer que eu não concluísse minha missão.

Tudo bem então, era guerra que queria? Vou mostrar agora mesmo o soldado da resistência. Estendi minha mão direita à frente, focalizando uma barreira, as trepadeiras se chocaram contra meu escudo invisível.

— Interessante.

Se no astral eu podia ter poderes, tudo que eu imaginasse aconteceria naquela dimensão. Não havia limites ali. Imaginei meu corpo flutuando livremente pelo ar. Assim foi feito. Me via acima de Thomas e das trepadeiras, elas passaram a me perseguir, fui desviando de cada investida com facilidade e leveza. Para poder cortar aquelas raízes enquanto voava, focalizei minha catana na mão direita e ela apareceu em seguida.

Aquilo era bom, eu era uma das pessoas mais criativas e estar em uma dimensão onde tudo que eu imaginava se tornava real, me agradava e muito.

Fui cortando cada raiz das trepadeiras que vinham até mim. Me peguei gritando de prazer por conta da adrenalina.

“Não esqueça seu objetivo, Shaylan” Thomas me repreendeu. “Você poderá explorar cada dom quando acabarmos com isso.”

— Desculpe pela empolgação.

Após voltar para meu verdadeiro objetivo, fechei os olhos, passando a concentrar uma energia cósmica dentro de mim. Estava me tornando uma bomba humana pronta para explodir. Meu corpo brilhou intensamente conforme eu me fechava corporalmente como uma bola. Quando a hora chegou, estendi meu corpo todo, deixando fluir aquela energia cósmica. Tudo ficou em chamas, nenhuma trepadeira ou raiz fora poupada. Tudo se reduziu a cinzas. Agora era eu e Thomas.

“Muito bom, Shaylan, você vai se adaptar rapidamente a esse dom. Agora preciso que você entre em minha mente e quebre a ligação que tenho com o doutor louco. Isso vai dar um choque térmico em seu cérebro, essa brecha será o necessário para Adam matá-lo.”

O corpo de Thomas estava inerte na cama do jeito que eu o havia encontrado. Fiquei em pé em frente a sua cabeça. Ajoelhei-me até encostar minha testa na sua. Respirei fundo para entrar na última batalha psíquica que teria que travar.

— Está na hora de acordar, amigo.

Segurei sua cabeça com minhas mãos quando Thomas abriu os olhos encontrando os meus. Este contato visual me levou até o cérebro do doutor louco. Agora eu me via como uma linha elétrica percorrendo o cérebro do reptiliano.

— Achei você.

Dei um choque térmico na ligação que mantinha Thomas preso ao seu cérebro, causando uma dor de cabeça no nosso inimigo.

No mundo real, eu não saberia dizer o que aconteceria depois, mas o Thomas naquela dimensão acordou em um salto após suspirar pesadamente.

Ele olhou para mim impressionado, me dando um leve sorriso.

— Obrigado — foi tudo o que disse antes de sumir por completo.

Sabia onde ele tinha ido. Sua consciência estava desperta no mundo real e era para lá que eu teria que voltar.

Acordei com Zeus lambendo meu rosto. Quando voltei a mim, Violet, Thomas e Adam estavam a minha frente esperando meu despertar.

— Como foi? — Quis saber o resultado da luta.

— Vencemos essa batalha com muito esforço — Adam disse calmamente. — O doutor reptiliano era muito forte, me deu um bom trabalho para matá-lo depois que você quebrou a ligação.

— Felizmente, eu ainda estou ativa, mesmo não tendo lutado até hoje com intensidade. — Violet acrescentou e, em seguida, devolveu minha catana. A outra ficaria com ela.

— Parecia não ter fim — Thomas falou intrigado.

— E agora?

— Seguimos em frente — Thomas tornou a falar. — Há um outro lado que vocês precisam ver. Isso vai mudar tudo a partir de agora.

— O que quer dizer? — Eu e Adam dissemos ao mesmo tempo.

— Me sigam.

Levantei-me rapidamente para seguir em frente. Guardei minha catana na bainha da minha armadura, deixando-a firme. O que poderia ser tão importante ao ponto de mudar tudo? Seguimos Thomas através de uma porta falsa, após removermos um painel de controle. Ela dava para um extenso corredor longo e escuro. Thomas tateou a parede até achar um botão de luz. Quando acendeu, eu tapei minha boca para não gritar.

Estávamos em uma parte do subterrâneo de Beverly Falls o qual eu não imaginava ser tão longo e espaçoso. Onde eu olhava havia vários casulos, um ao lado do outro, compactando as pessoas que foram sequestradas. Elas estavam em estado de hibernação. Eu não podia dizer como respiravam, mas nada que fosse grave.

— É aqui onde trancamos todos os humanos que conseguimos pegar. O plano seria usá-los como escravos futuramente, assim que tomássemos o país todo em nossas mãos.

— Realmente, isso pode mudar o rumo da guerra — refletiu Adam. — Podemos vencer.

Aquela resposta parceria ser a nossa esperança.

— Então Violet estava certa quando disse que os aliens estão usando uma aparência temporária das pessoas que possuíram — disse mais para mim mesmo do que para meus amigos. — Minha mãe está viva. — Lágrimas já começavam a invadir meus olhos.

— Isso mesmo — Thomas confirmou. — Se você acaba matando o alienígena que aparenta ter o aspecto de sua mãe, felizmente, você não a matou de verdade e sim o próprio alienígena.

— Que bom — respondi de cabeça baixa enquanto chorava. Não podia deixar o alívio que sentia guardado por muito tempo.

Adam me abraçou, me colocando em seu peito enquanto acariciava meus cabelos.

Confirmando o que queria, após me recompor, corri pelos corredores olhando desesperadamente a procura de minha mãe. Não queria… não aceitava que a última lembrança dela fosse o modo como morreu.

Felizmente meus amigos ficaram para trás, sabiam quem eu estava procurando e respeitaram o meu espaço. Agradeci por isso. O corredor parecia não ter fim e nem minha vontade de encontrá-la.

Andei e andei até que encontrei quem eu não esperava. Meu melhor amigo na segunda fileira de cima, dormindo tranquilamente dentro de seu casulo. Caí de joelhos, petrificado.

Thomas tinha razão. Aquilo mudaria o rumo da guerra. Agora tínhamos esperança e uma vantagem sobre os alienígenas.

Nós podíamos vencer.

Night Hunters (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora