Capítulo Dois: Valentões

38 3 0
                                    

Em meio aos nossos colegas, vimos Violet recostada na porta principal conversando com duas meninas, ela acenou em nossa direção assim que nos viu, retribuímos de volta conforme ela corria até nossa presença depois de se despedir das amigas.

— Meninos, tenho algo pra lhes mostrar — disse alegremente.

— O quê? — eu e Wal falamos juntos.

— Vamos lá… adivinhem.

Tanto eu quanto Wal a olhamos da ponta da cabeça aos pés, percebi na hora o que ela queria mostrar: seus cabelos cacheados estavam pintados com rosa escuro nas pontas. Nossa amiga gostava de moda e sempre estava se atualizando. Fora que ela sempre se vestia pra matar, prova disso eram as calças jeans apertadas que usava, além da camisa preta com manga longa e gola em V realçando seus seios.

— Ahhh… já achei.

— Desculpa, mas eu não tô vendo nada.

— Sério, Wal — disse surpreso. — Olha com mais atenção.

— Vamos, gatinho, está na cara — Violet incentivava.

Wal ficou olhando concentrado para Violet, não querendo ficar pra trás, até que no fim ele respondeu o que eu já previa.

— Nada.

— Já olhou para as mechas dela?

— Eu vi o tom ros… ahhhhh.

— Era só questão de esperar ele mesmo perceber — comentou Violet entre risinhos. — Homens.

Rimos da falta de atenção de Wal quando se tratava de mulher, nosso amigo era tão lento em algumas ocasiões que acabava sendo engraçado.

— Ora, se não é meu casal favorito. — Soou uma voz masculina que eu odiava.

— Eu mereço — disse Wal, com desgosto.

— Compartilho essa sensação com você, amigo.

Ficamos ali mesmo, parados, até certa pessoa chegar no nosso meio, achando-se o tal.

— Tenho a impressão de que vocês dois são namorados — o ser insignificante chamado Willian comentou, tocando no ombro de Wal, que rebateu com um tapa severo.

O cara tinha a mesma altura que a minha. Em estatura, Violet era a segunda mais alta e Wal, o terceiro – formando uma hilária escadinha quando ficávamos nessa ordem. Willian tinha cabelo curto liso, arrepiado, em estilo degradê, com as laterais raspadas, assim como uma ponta de suas sobrancelhas.

— Se formos ou não, isso nunca foi da sua conta — rosnei.

— Dá-lhe, amigo — respondeu Violet, agitando uma briga futura que sempre chegava quando estávamos por perto.

— Lá vem a agitadora que só sabe opinar e nunca agir — comentou outro mesquinho aproximando-se de nós.

Era Danton, o parceiro que não desgrudava de Willian (a diferença deles para mim e Wal era que um ajudava o outro). Danton era o mais velho do grupo, tinha uma cicatriz longa em sua face direita como se alguém o tivesse arranhado, e uma pequena abaixo do lábio direito. Apesar de aparentar ser o líder com seus olhos verdes frios e maduros, e uma beleza natural, era o que mais tinha contraste com a personalidade, muitas vezes ficando à sombra de Willian e suas vontades.

Se tinha uma coisa que eu odiava era valentões, podiam até mexer comigo, mas se envolverem alguém que eu amo, aí fico louco. Acabo sendo superprotetor, porque se for preciso, eu protejo mesmo e arrebento a cara de quem for.

— Ah, nem vem — Wal disse repentinamente, assustando-me um pouco. — Acho que vocês não sabem, né? Mas a presença de vocês me IN-CO-MO-DA bastante.

— Os incomodados que se mudem — rebateu Danton.

Tinha uma resposta na ponta da língua pra mandar praquele otário folgado, mas Wal foi mais rápido.

— Faço isso com prazer e com gosto. Ao contrário de vocês dois aí, eu e o Shay somos como irmãos, um ajuda o outro quando precisa, não se submetendo ao outro por que não consegue sair debaixo da saia do amigo, como um bebezão.

Disse isso levando eu e Violet entre os seus braços. Àquela hora só havia a gente na rua, então mais ninguém viu quando Danton puxou Wal pela gola da camisa, enforcando-o até derrubá-lo no chão.

Como eu disse… superprotetor.

Ia pular em cima do cretino, mas Violet me deteve, olhei para ela e percebi que quem iria agir em defesa do nosso amigo seria ela. Seu rosto estava mais irado do que o meu. Aproveitou ao seu favor a distração dos dois valentões que riam debochadamente. Deu uma rasteira derrubando-os no chão. Enquanto eu ajudava Wal a se levantar, vi Violet nocauteando os dois em um movimento espetacular de muay thai, usando suas pernas para alcançar o queixo de ambos.

A briga foi rápida e tanto eu quanto Wal ficamos de boca aberta com o que acabávamos de ver. Nesses anos que convivíamos juntos, nunca vi Violet usar artes marciais ou participar de uma briga.

— O quê? — Wal processava a cena.

— Desde quando você luta? — perguntei impressionado.

— Desde ano passado — confessou. — Quando percebi que meus amigos estavam sendo importunados e eu não poder fazer nada além de olhar vocês se machucando nessas brigas, decidi treinar muay thai em segredo. Pelo menos até a hora chegar.

— Garota, você é incrível — Wal comentou animado. — Fora a beleza selvagem que você tem quando luta.

— Isso você repara, né, mocinho? — Nossa amiga fingiu surpresa.

— Ops.

Cada um de nós concordou em deixá-los no chão como lição de aprendizado. Entramos no colégio juntos e de mãos dadas como Wal havia feito antes.

Night Hunters (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora