Capítulo Dezenove: Perseguição

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A rua do Campus Dr esvaziou, não havia mais motivos para eu continuar atrás das árvores vizinhas. Segui correndo até a grade e de lá gritei por Violet:

— Chegou a hora de vocês tomarem o colégio, vamos honrar o sacrifício de Dylan.

— Tudo bem — concordou Violet ao lado de Adam. — Estamos indo pr… Cuidado, Shay! Atrás de você!

Olhei bem a tempo. Minha mãe vinha sorrateira, procurando me agarrar. Quando ela percebeu que eu iria fugir, tentou um salto por eu já estar em sua mira. Desviei de seu ataque facilmente. Ela se preparou mais uma vez para sua investida. Coloquei minha mão na bainha da espada e a retirei para o combate.

— Não me force a usar esta katana em você, mãe. — Minhas mãos tremiam por estar novamente erguendo uma arma contra ela.

— Sei que você não quer machucar sua mãe, filho, mas entenda… — Ela relaxou sua postura, ficando em pé. Parecia que ela iria dialogar comigo. Como fui iludido.

Alguém me segurou por trás, impedindo que eu pudesse reagir, meus braços estavam presos entre os braços de outra pessoa.

— Nós precisamos te levar conosco, criança. — Reconheci aquela voz na hora: era a Sra. Nellie.

Minha espada caíra aos meus pés, se eu tivesse uma brecha, poderia recuperá-la de volta.

— Estamos indo, Shay — Violet gritou no fundo da escola.

Minha amiga saiu de uma das portas do colégio com sua arma em mãos.

— Soltem meu amigo agora — ordenou. — Não estou brincando.

— Abaixe essa arma, criança — orientou minha mãe. — Meninas não devem usar esse tipo de coisa.

Violet respondeu atirando um dos dardos estimulantes em sua perna. Ela tombou no chão com um grito estridente. A mãe de Wal afrouxou seus braços por conta do ataque, isso me deu a oportunidade de reagir.

Abaixei minhas costas com força, levando a Sra. Nellie ao chão, mas logo ela já estava em meu encalço. Antes mesmo de ela se recuperar, usei aqueles segundos para pegar minha katana e em seguida a brandi, cortando o ar em um movimento lateral, acertando seu rosto e olhos. Vi a mãe de Wal cair de joelhos, aos prantos. Suas mãos cobrindo o rosto ensanguentado. Meu coração doía, se pudesse sangrar, sangraria por ter feito esse ato violento.

Sangue pingava entre suas mãos. Até cicatrizar, eu poderia usar esse momento para fugir para outro lugar.

— Vi! — gritei. — Me deixa cuidar dessas duas, faça o que pedi e protejam o colégio, montem uma barricada e fortifiquem os portões.

— Confio em você, Shay. Toma cuidado, por favor.

Agradeci a compreensão de Violet. Ela sabia que os outros alienígenas poderiam voltar a qualquer momento, estávamos lutando contra o tempo.

— Vocês me querem, não é? — zombei. — Venham me pegar, estou sozinho, vocês conseguem?

Após dizer isso eu passei a correr.

— Shaylan! — Adam berrou. Queria muito olhar para trás, mas não o fiz.

Precisava despistá-las antes de voltar para o Colégio Loudonville. Corri até o Black River, passei a nadar às pressas até o outro lado. Assim que cheguei, vi minha mãe e a sra. Nellie se aproximando.

— Não adianta correr, criança — respondeu a mãe do meu melhor amigo.

— Porque nós vamos alcançar você. — Minha mãe apontou para mim. Aquilo foi assustador.

— Duvido — respondi por trás.

Corri a toda pela floresta até chegar em um campo aberto, estava todo exposto naquela área, meu único meio de escape era prosseguir pelas árvores à minha frente. Lembrei que havia uma oficina mecânica seguindo por aquele caminho. Continuei meus passos firmes e acelerados, logo ficaria cansado e, se não encontrasse um lugar seguro, minhas pernas poderiam correr o risco de contrair uma câimbra pior do que minha fadiga.

Achei a oficina assim que saí das árvores, fui até lá para me esconder. Minha mãe e a de meu melhor amigo estavam quietas, isso nunca era bom. Tentei abrir as portas do fundo sem nenhum sucesso, tentei forçar chutando e até mesmo usando meus ombros duas vezes, o resultado foi o mesmo. Só estava me machucando. Por isso fui para as portas da frente. No estacionamento havia vários carros que não chegaram a ser usados. Pensei em entrar em um deles e, se tivesse sorte, poderia dirigir um assim como Dylan fez, isso poderia me ajudar a afastar nossas mães do colégio.

Os dois primeiros tentei abrir, mas não consegui, tirei minha camisa usando-a sob meu cotovelo para dar uma cotovelada no vidro e me proteger dos cacos. Não consegui quebrá-lo e isso me deixou irritado, me sentia um inútil. Um fraco.

Tirei minha espada com a bainha, usei-a ao meu favor e consegui o que queria facilmente. O vidro quebrou com apenas um golpe, derrubei os cacos que ficaram em pé para poder puxar a maçaneta. Constatando que ela abrira, deixei minha espada no chão. Ao entrar, fui traído pela minha mente. Passei a esquecer como dirigir um automóvel. Me odiei por isso.

Pelo retrovisor vi nossas mães se aproximando, abaixei-me no banco. Percebi que a porta estava aberta e não tinha como eu fechá-la sem denunciar minha presença. A única opção seria passar para o banco detrás e me encolher embaixo deles para não ser pego.

— Ele não pode ter ido muito longe — disse a Sra. Nellie, irritada pelo seu tom de voz.

— Ele vai ser nosso — disse minha mãe com malícia. — Veja… ele deixou sua katana aqui no chão. Pegue, vai precisar quando encontrá-lo.

Maldição. Maldição. Por que deixei minha espada para fora? Na moral, isso foi muita burrice da minha parte. Coloquei tudo a perder com essa atitude estúpida.

— Se eu fosse você, filho… eu sairia desse carro. Estou vendo sua perna aqui da janela.

Droga, seria esse o meu fim?

Levantei minha cabeça e vi minha mãe acenando pelo vidro com um humor ácido. Aquilo definitivamente não tinha nenhuma graça.

— Não tente reagir, criança — ameaçou a Sra. Nellie. — Eu sei usar essa katana.

Saí do carro com minhas mãos levantadas no ar. Me rendi, sabia que minha espada era real e poderia me matar se assim fosse o desejo da mãe do meu melhor amigo.

— Se ajoelha — sussurrou minha mãe. Ela nunca havia usado aquele tom de voz comigo.

Obedeci sem reclamar, sem reagir. Estava à mercê de nossas mães. Ambas ficaram atrás de mim, senti o fio da katana tocando meu ombro. Eu, inconscientemente, tremi ao senti-lo em minha pele. Ambas riram, caçoando de mim.

— Você vem conosco — disse a Sra. Nellie.

Senti um baque com o cabo da espada em minha nuca com uma força violenta, dessa vez a alta dor me fez desmaiar na hora. Caí ao chão, entregando-me involuntariamente à escuridão que me abraçava em um piscar de olhos.

Night Hunters (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora