Capítulo Oito: Desconfiança

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Ainda no banheiro, entrei em um dos cubículos e me sentei no vaso sanitário. Tirei meu celular do bolso, indo diretamente para as mensagens mandar o que acabara de testemunhar para Walter . Minhas mãos estavam trêmulas demais para digitar a conversa toda, então resolvi fazer uma ligação, pouparia muito esforço.

O celular chamou três vezes até Wal atender.

— Shay?

— Walter… me escuta. Não temos tempo para discutir, só me ouve, tá legal?

— Ok.

— Acabei de testemunhar com meus próprios olhos Danton ser possuído por uma espécie de criatura que nunca vi na vida real. Entrou pela cavidade oral do menino, foi nojento. No final, Danton se levantou com seus olhos brilhantes como você havia me dito. — Fiz uma pausa para poder respirar. Wal do outro lado só ouvia com muita atenção. — Você queria que eu decidisse, não é mesmo? Então, aqui vai minha resposta: Eu aceito te ajudar com esse plano maluco, porque sei que temos algo muito pior acontecendo em Beverly Falls. Quando podemos começar?

— Hoje à noite. Só peço para você manter a calma e agir como se nada tivesse acontecido. Amanhã começaremos a treinar tiro ao alvo aqui em casa. Vou tirar o dia hoje para fazer os preparativos para a nossa sobrevivência.

— Tudo bem… conta comigo. A propósito, antes que eu me esqueça, o Adam quer falar com você sobre alguma coisa. Ele não me contou o assunto, mas disse que só você poderia ajudá-lo. Agora tenho quase certeza de que é sobre os aliens aqui na escola.

— Pode ser. — Wal fez uma pausa. — Ah… só mais uma coisa — disse seriamente. Congelei ao ouvir essas palavras.

— Fala.

— Não confie em ninguém. Estamos sozinhos por enquanto.

Depois desse alerta, ele desligou o telefone. O clima ficou pesado ao meu redor, ficar no banheiro já não me deixava mais com a sensação de segurança, era assustador. Como se a qualquer momento algo fosse aparecer do nada para me matar. Precisava sair de lá o mais rápido possível, minha mente me fazia ter pensamentos assustadores.

Mandei uma mensagem para Violet pedindo para me encontrar no pátio, não iria participar mais da última aula e explicaria o porquê pessoalmente. Então fui para o pátio esperá-la.

Quando o último sinal soou, vi minha amiga flertando com alguns garotos do segundo ano. O assunto parecia estar rendendo pelo modo como ria e mexia seus cabelos entre os dedos. Se os alunos soubessem com quem estavam conversando de verdade, que estavam sendo alvos fáceis de alienígenas prontos para dar o bote…

Tenho que desconfiar de todos agora, menos de Violet, Adam e Wal. Esses eu tenho certeza ainda serem eles mesmos.

Todos estavam se espalhando pelo colégio, alguns foram se sentar na grama rindo de assuntos cotidianos. Violet sentou-se aos risos com os meninos no gramado do colégio. Pensando bem… acho que esse tipo de informação não poderia ser compartilhada ao público, pois isso causaria pânico entre os demais e uma confusão que fugiria do controle. Poderia até mesmo ter um genocídio na cidade. Imaginar essas pessoas matando umas às outras por conta do medo me deixava triste e apavorado. Por isso o melhor seria manter segredo.

Segui-a, aproximando-me o suficiente para me abaixar e sussurrar em seu ouvido que precisava de sua ajuda. Ela entendeu o alerta na minha voz e pediu licença para se retirar.

— O que foi? Sua cara não me agrada nem um pouco.

— Não recebeu minha mensagem?

— Desculpa, gatinho. Desligo ele quando estou na escola. Diz aí o que está te incomodando.

— Acabei de testemunhar o que o Wal viu. Foi horrível.

— Quer dizer que… — Violet ficou apreensiva. Como se a verdade nua e crua invadisse o mundo que ela conhecia. Um mundo onde teríamos que escolher um lado, não tendo como ficar no meio termo.

— Nosso amigo estava certo o tempo todo. Estamos sendo invadidos por alienígenas, eles estão possuindo os corpos dos nossos colegas ou de qualquer um que possam encontrar desprevenido ou sozinho.

— E o que faremos agora?

— Temos que ir até a casa do Wal nos preparar para uma possível guerra interna. Temos que saber em quem podemos confiar para quando chegar o momento de nos armarmos.

— Conheço algumas pessoas confiáveis que não irão nos abandonar, só será difícil convencê-las do que está acontecendo. Preciso torcer para que elas ainda sejam elas mesmas.

— Deixem que elas vejam por si mesmas. O mais importante agora é que Wal falou algo que faz sentido.

— Sobre o quê?

— Temos que desconfiar de todos a partir de agora. Até sabermos que eles não são hospedeiros.

Violet e eu olhamos para o pátio onde a maioria dos nossos colegas ficava. Na minha mente, eu os imaginava com seus olhos brilhantes, cheios de malícia e segundas intenções, olhando para nós. Apenas esperando cada um de nós que ainda não fora possuído dar uma brecha para nos sequestrar e com isso aumentar seu poder e enfim conquistar nossa cidade sem nenhum derramamento de sangue.

Só que eu tenho uma carta na manga, ou melhor… nós humanos temos uma carta na manga. Seremos a resistência secreta que trabalhará nas sombras para impedir o sucesso do plano deles.

Nós vamos lutar.

Nós vamos sobreviver.

Nós vamos ganhar no final.

Night Hunters (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora