Capítulo Vinte e Oito: Três contra Dois

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— Não podemos perder mais tempo. — Adam me impressionou com sua atitude confiante. — Vamos acabar logo com isso e salvar seu irmão.

Percebi que garras afiadas saíam de suas mãos, assim como seus dentes se tornavam afiados como os de um animal feroz.

— Você não era um lobo alguns dias atrás? — questionei.

— Aquela forma era o segundo estágio do lobisomem. Esta em que estou é o primeiro. Metade da minha força duplica mais do que no segundo.

— Como eu disse, Shaylan, você precisa ver esse cara em ação — Violet falou orgulhosa.

— Então me mostra o que pode fazer, lobinho — provoquei.

Adam me olhou com malícia.

— Observe.

Fomos até o último corredor onde se encontrava uma porta de madeira grande a nossa frente. Adam tomou a dianteira, inclinando-se em posição de ataque. Correu até a porta, chocando-se contra ela. Um estrondo alto ecoou pelo corredor me forçando a tapar os ouvidos. Fumaça e poeira agitaram-se no ar bloqueando minha visão. Corri junto de Violet e Zeus ao encontro de Adam.

O espaço a nossa frente parecia um salão, cheio de máquinas, algumas com espaço de confinamento bem apertado e cheio de água (semelhante a uma cápsula grande o suficiente para caber um homem adulto), em cima de algumas mesas estava todas as ferramentas necessárias para transformar cada criatura que ali estava em uma arma.

Finalmente ficamos cara a cara com o doutor reptiliano trajado com um segundo uniforme do mesmo modelo – o que me fez questionar se ele tinha um estoque de roupas para caso precisasse. Ele estava em choque por ver três desconhecidos e um cachorro dentro de seu covil secreto. Thomas estava em sua forma humana mais ao fundo, monitorando uma mesa de controle, provavelmente onde ele mantinha as criaturas no seu lugar. Tinha cabelos curtos em um topete de onda, usava um casaco impermeável preto com forro cinza por baixo das mangas. Calças Joggers verdes e sapatos casuais rasos preto e branco. Nem mesmo se deu ao trabalho de olhar para nós, como se não estivéssemos de fato ali.

“Agora começa a batalha decisiva!” Sua voz novamente ecoou em minha mente. Desta vez estava pronto para ouvi-la a qualquer momento.

— Como posso te salvar?

“Você vai precisar seguir minhas ordens para entrar novamente na dimensão em que estou preso, diga a Violet para lutar contra mim enquanto Adam luta contra o doutor louco e Zeus cuida de seu corpo”.

— Uma boa ideia. — Olhei para meus amigos e expliquei o plano de Thomas.

Ambos concordaram em agir sem questionar.

— Todos vocês vão morrer aqui — disse o doutor, transformando-se em sua forma original novamente. Seu segundo uniforme rasgado aos pedaços ao seu lado. — Thomas, me ajude com os invasores.

O irmão de Violet nos deu atenção. Parou o que fazia, caminhou até ficar ao lado do doutor, suas mãos igualmente com garras como as de Adam. Sua expressão não demonstrava nada. Era opaca.

— É agora, pessoal, conto com vocês — falei enquanto me afastava da sala para não ser um estorvo.

— Onde você vai, Shaylan? — Quis saber Violet. Adam abriu a boca, mas se deteve. Provavelmente por ter pensado o mesmo que ela.

— Seu irmão vai me guiar até a dimensão em que se encontra preso. Para isso, preciso me afastar dessa luta para não atrapalhá-los — disse lhe entregando as duas espadas para ela usar ao seu favor.

Violet e Adam me olhavam com intenção de questionar. Não tínhamos tempo para isso, então agi rapidamente.

— Não se preocupem, Zeus vai proteger meu corpo.

Peguei meu cão do inferno, levando-o para fora da sala.

— Cuida do meu corpo — falei beijando sua testa. Zeus retribuiu lambendo meu rosto.

Recostei-me na parede gelada do corredor pronto para começar. A luta lá dentro estava ficando feroz. Ouvi Adam rosnar como um animal. Só podia ouvir sussurros e grunhidos da batalha que se travava lá dentro. Na moral… não queria nem ver como meus amigos estavam lidando com a situação. Era melhor torcer por eles à distância. Afinal, tinha minha própria batalha pela frente.

— Tudo bem, Thomas, pode começar. Estou em um lugar seguro. O que eu tenho que fazer?

“Primeiramente, foque em minha voz. Esqueça tudo que estiver ao seu redor, esqueça até mesmo a gravidade que sustenta seu corpo ao chão e à parede. Entregue-se totalmente a mim”.

Falar era fácil. Me desligar do mundo real não seria uma tarefa simples, mas obedeci exatamente como ele recomendou. Fechei meus olhos e relaxei meu corpo. Me imaginei em um espaço-tempo onde não havia nada, onde a lei da física e coerência não se aplicavam. Logo desliguei-me da realidade, conseguindo entrar em um estado astral como havia feito no dia em que Wal fora sequestrado.

Deixei meu corpo aos cuidados de Zeus enquanto o cenário mudava ao meu redor. Me vi exatamente como eu imaginava, havia nuvens acima e embaixo de mim de diversas cores, era lindo de se ver.

“Muito bem, Shaylan, você foi rápido como eu previa. Posso ver que seu dom está evoluindo rapidamente”.

— Obrigado. E agora?

“Venha por esse lado”.

Thomas me mostrou a mesma passagem da primeira vez, entrei sabendo onde iria parar.

O que me deixou incomodado foram as raízes que antes havia somente em torno de Thomas, agora preenchiam a dimensão toda, impedindo minha passagem.

“Há um mecanismo de defesa, Shaylan, que você terá que passar sozinho para poder me salvar. Ele foi ativado no momento em que comecei a lutar contra minha irmã. Ela está nesse momento tentando de tudo para me fazer recobrar a consciência, por isso esse cenário conturbado”.

— Meus amigos estão lutando por você nesse momento. Agora é minha vez de mostrar o que um humano pode fazer. Não vou ficar pra trás somente como um telespectador. Eu sou Shaylan Harrison e protejo meus amigos.

Mais confiante do que nunca, comecei a avançar diante das trepadeiras que ganharam vida e vinham em minha direção para me matar.

Night Hunters (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora