Capítulo Vinte e Quatro: Novo Membro na Equipe

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No final, eu e Adam acabamos dormindo juntos em cima da árvore aquela noite toda. Minha intenção não era dormir, mas estar abraçado com alguém que você ama em segredo te deixa em paz consigo mesmo.

- Acorda, dorminhoco. - Adam me sacudiu. - Precisamos encontrar comida. Você precisa se alimentar ou já vai dar sinais de fraqueza.

Ele tinha razão sobre esses sinais, o primeiro era minha dor de cabeça e o segundo, minha mobilidade corporal reduzida, me sentia cansado, meu corpo tremeria se me dessem algo para segurar, mesmo que fosse um simples lápis. Fora que meu humor estava bem disfórico.

Abri meus olhos lentamente para me acostumar com a luz do sol. Incrível como eu consegui dormir em cima de uma árvore sem cair no chão.

- Você tem razão. Sinto como se minhas entranhas comessem o restante da minha barriga.

- Não queremos que isso aconteça, né? - disse travesso. Logo deu um salto impecável para descer a árvore sem receio nenhum. - Vem... eu te pego. - Adam estendeu seus braços em minha direção.

- Não me deixa cair ou eu vou fazer esse lobo aí ir pra casa com o rabo entre as pernas - ameacei para aliviar a mim mesmo no intuito de acreditar que eu poderia fazer aquilo.

Usei essa distração para saltar como ele fizera. O vento se agitou rapidamente, bagunçando meu cabelo para cima, caí nos braços de Adam como um boneco de pano. Ele me segurou com firmeza como havia dito.

- Você é leve, sabia? - disse ao me colocar no chão.

- Pois é, cara, as pessoas me falam isso. A propósito... onde está Violet?

- Estou aqui. - Vi minha melhor amiga chegar por trás das árvores ao fundo do cemitério. Só então me dei conta de que minha catana estava presa em seu cinto. Havia me esquecido dela completamente. - Estava checando o perímetro. Estamos sozinhos nessa cidade, não sei onde o resto da minha raça foi parar, isso é muito incômodo.

- Então podemos andar livremente por aí? - perguntei.

- Podemos, mas não recomendo, vai que eles aparecem do nada.

- O que você propõe? - Adam perguntou.

- Andei pela rua Snyder Dr até o final, onde eu encontrei um mercado chamado Stake's IGA Foodliner. A estrada é segura até lá.

- Então vamos, por favor. Estou morrendo de fome.

Atravessamos as árvores para chegar na rua Snyder Dr, o restante do caminho foi tranquilo e silencioso. Nem mesmo tínhamos a sensação de estarmos sendo observados, parecia que éramos as últimas pessoas na Terra.

Chegamos ao supermercado Stake's do qual Violet falou. Fomos direto para a portaria principal, mas estava fechada por dentro. Felizmente, Adam usou sua superforça para forçar a abertura. Logo as fechaduras se tornaram inúteis. Entramos animados no mercado. Os produtos e tudo que havia nele estavam intocáveis, não sei o que houve, mas agradeci pelo lugar não ter sido saqueado pelos alienígenas ou até mesmo destruído.

Olhamos um para o outro e nos separamos, fui direto para a padaria onde eu pudesse encontrar frios e lanches que pudessem ser consumidos na hora, como folhados, croissants, bolinho de queijo. E que maravilha... tinha tudo isso nas prateleiras. Se estariam estragados devido ao tempo que ficaram ali, não sabia dizer, mas pude degustar com uma fome insaciável cada um deles. Se pudesse esquentá-los seria muito melhor.

Violet e Adam pareciam duas crianças indo para lá e para cá comemorando com cestas cheias de produtos alimentícios e higiênicos. Estávamos no paraíso, podíamos pegar de tudo sem sermos cobrados por isso. Sem receio de sermos presos pela polícia.

Entrei na padaria com o intuito de encontrar alguma coisa que pudesse esquentar os frios e, assim que meus olhos bateram no micro-ondas, eles brilharam.

- Yuhuuu - gritei através da sala. Agora sim poderia me alimentar adequadamente.

.............

No final da excursão, ficamos todos satisfeitos e de bom humor. Vendo melhor, percebi que poderia continuar lutando, continuar sobrevivendo se estivesse ao lado de quem gostava. Ao lado dos meus amigos. A dor da perda ficava menos dolorosa quando estava distraído com eles.

Estávamos sentados lado a lado, recostados em uma prateleira de refrigerantes, rindo e cochichando sobre aquele momento, quando o som do sininho da porta principal sendo aberta nos deixou em alerta. Nosso humor mudou radicalmente, ficamos atentos e em silêncio. Quem quer que fosse, era silencioso. Ficamos olhando um para a cara do outro até que Violet decidiu sussurrar seu plano.

- Vamos usar esses refrigerantes como arma. - Indicou, pegando um deles.

- Sério? - ironizei.

- Deixei sua espada lá na frente, amigo, em cima do caixa.

Nós tínhamos que apreender uma lição valiosa: sempre andar armados, não importando onde estivéssemos. Não tinha como pensar em outro plano. Eu e Adam pegamos um dos refrigerantes bem na hora em que vimos uma sombra se aproximar do corredor. Engatinhamos para a outra fila, prontos para agir

- Fiquem de pé - Adam comandou. - Ao meu sinal vamos atacar.

Eu e Violet acenamos com a cabeça. Erguemos os refrigerantes no ar prontos para atacar.

- Um... dois... três.

Gritamos enquanto virávamos para o suposto alienígena, mas em vez de ter um no corredor, havia um Dachshund marrom de olhos arregalados para nós, mais assustado com nossa presença do que a gente com a de um suposto alienígena. Relaxamos nossa postura, abaixando os refrigerantes. Essa cena futuramente iria trazer boas risadas.

O pequeno cãozinho de corpo alongado e patas curtas passou a nos encarar com seus olhos atentos e curiosos. Farejou o ar em busca de comida. Aquela raça me fez me lembrar do meu antigo cachorro... o Zeus. Ele sempre foi um amor de companheiro, muito forte e sempre me ouvia, ele se deitava no meu colo, no meu pescoço, sempre alegre e amava me dar beijos do seu jeito. Super esperto e inteligente. Se você se sentasse em qualquer lugar, ele se sentava perto e ficava ali, quietinho. Observava o pôr do sol comigo em cima da varanda de minha casa. Obediente. Brincalhão. Adorava tomar banho. Ele era o melhor.

- Ei, garoto, vem cá! - Abaixei-me para chamar sua atenção.

Queria ganhar sua confiança, ele era tão fofo que queria muito poder tocá-lo. Ainda assim ele ficou parado me olhando.

- Me dê um pedaço de presunto, por favor.

Violet deu as costas, indo em direção à padaria, e voltou em seguida com o que pedi. Ela me deu o pedaço de presunto e eu usei ao meu favor. Estendi a minha frente e esperei o cachorro perceber que eu era confiável. Vocês sabiam que a melhor parte de ter um amiguinho dessa raça é que ele é extremamente fiel? Eles são capazes de criar um forte vínculo com seus donos. Ou seja: é um cachorro que sempre estará ao seu lado em todos os momentos, assim era meu Zeus.

Finalmente decidiu se aproximar depois de constatar que eu era confiável. Aproximou-se até o pedaço de presunto, cheirou novamente querendo comprovar o sabor. Joguei no chão e o deixei comer no seu espaço sem interrupções.

Ele era tão fofo que tive que me segurar para não pegá-lo repentinamente. O que me surpreendeu no final foi o próprio cachorrinho vir até meu colo. Pulou entre minhas mãos e eu o segurei como se fosse um bebê. Ele se sacudiu e empinou seu rabinho enquanto me lambia na bochecha. Seu focinho longo era gelado e me causava cócegas.

- Que bonitinho - disse Adam, acariciando sua cabeça.

- Fofo, não é - respondi todo bobo. Meu sorriso estava estampado no meu rosto.

- Pelo visto, você ganhou um novo amigo, Shaylan - Violet disse em meio a risadas. - Tem que dar um nome para ele.

- Verdade, eu até já sei qual vai ser - disse, olhando para o salsicha bem nos olhos. Ele olhava para mim com a mesma intensidade.

- Qual? - perguntaram meus amigos ao mesmo tempo.

Cocei sua barriguinha, deixando-o se agitar mais ainda de prazer.

- Zeus... em homenagem ao meu antigo cachorro.

Night Hunters (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora