Capítulo Vinte e Sete: No Covil do Inimigo

5 1 0
                                    

Zeus voltou ao normal bem diante dos meus olhos, se tornando aquele cachorro salsicha inocente e fofo. Caminhou até meu colo, procurando se aconchegar. Eu simplesmente fiquei ali, observando o cadáver do draconídeo por mais tempo do que gostaria.

— Desculpe por não ter notado — disse Violet sem graça. — Pelo visto, seu companheiro é um cão do inferno. Só não sei como ele veio parar aqui e porque escolheu você.

— Não tinha como saber, Vi.

Minha melhor amiga fez as perguntas certas, fosse o que fosse, eu descobriria mais pra frente.

— Você poderia vestir aquela armadura, Shaylan, quem sabe é do seu tamanho? — Incentivou Adam. — Assim você estará bem equipado para lutar ao nosso lado.

Do meu tamanho? Ele disse aquilo mesmo?

Deitei Zeus delicadamente no chão e me dirigi ao draconídeo. Felizmente, seu corpo não entrou em estado de putrefação como pensei. Tive que me esforçar muito para não ficar enjoado perante aquele cadáver. Comecei tirando suas ombreiras e procurando encaixá-las em mim. E não é que a armadura era mágica? Automaticamente ela se encaixou nos meus ombros, me deixando confortável. Nem mesmo tinha peso algum, era como se fizesse parte da minha vestimenta.

Uma parte de mim gostou muito daquele resultado, tirei o restante de sua armadura, me trajando por completo. Estava me sentindo um cavaleiro medieval. A espada era fácil de manejar, como eu tinha costume em usar uma, peguei minha catana com Violet e testei uns golpes com ambas no ar. Não tive dificuldade para me adaptar a elas. Estava ficando confiante e pronto para lutar ao lado dos meus amigos.

— Me sinto pronto para agir. Agora não serei um estorvo para vocês.

— Nem pensei que seria um — Adam rebateu rapidamente. — Estão prontos?

Eu e Violet acenamos com a cabeça firmemente. A hora de agir chegara, poderíamos mudar o rumo daquela guerra se saíssemos vitoriosos da investigação.

Entramos no covil por um lance de escadas que nos levava mais ao fundo da terra, as lamparinas eram nosso meio para locomoção. O lugar chegava a ser claustrofóbico e assustador. O silêncio causava um certo desconforto.

— Fiquem atrás de mim — Adam comandou. — Eu posso guiá-los com minhas habilidades.

Notei que seus olhos brilhavam novamente em vermelho, pelas pesquisas que fiz sobre lobisomens, aqueles que possuíam tal coloração avermelhada eram os líderes de um bando. Conectei ao fato de Adam ser o líder dos jogadores de futebol americano, então os demais poderiam ser parte da sua alcateia. Estava tudo interligado, já que eles eram parte do grupo de sobreviventes e por isso a facilidade de tirar as portas das salas do último corredor.

Após descermos um lance de escadas vimos um longo corredor cheio de salas. Demos uma olhada no seu conteúdo por curiosidade. Cada uma delas continha um determinado tipo de criatura das quais nunca tinha visto ou ouvido falar. Uma mais assustadora do que a outra. Algumas se agitavam quando nos viam, tentando nos atacar sem sucesso, outras andavam para lá e para cá tentando sair. Zeus ao meu lado, mais atento que o normal, suas orelhas erguidas no ar.

— Essas criaturas, com certeza, estão sendo usadas para testes cruéis — Violet refletiu o que para mim seria o óbvio. — Isso não fica assim.

Nunca vi minha melhor amiga tão irritada. Eu veria o momento onde ela, Adam e Zeus lutariam mostrando quem eram de verdade, sendo eu o único humano no meio do grupo. Me senti um pária naquele momento.

“Você veio, Shaylan” disse a voz de Thomas em minha cabeça.

Escutá-la dento da outra dimensão era uma coisa, mas na vida desperta era outra. Sua voz entrou em minha mente tão forte que caí de joelhos enquanto segurava minha cabeça com ambas as mãos achando que ela iria explodir. Senti Zeus tentando pular em mim com preocupação.

— Shaylan. — Ouvi Adam dizer. — O que foi?

— É o Thomas. Ele está falando comigo.

— Meu irmão está bem? — Violet me socorreu. — Onde ele está?

Fiz essas perguntas enquanto recobrava a compostura.

“Diga à minha irmã que estou no final do terceiro corredor à direita. Posso levá-los até mim”.

— E quanto ao doutor louco? — perguntei.

Thomas ficou quieto.

— Thomas? Sei que você está me ouvindo, cara, me responda.

— O que foi? — Violet quis saber. Não a respondi de imediato. Toda vez que Thomas se comunicava comigo minha cabeça latejava. Era incômoda, mas suportável.

“Sobre isso… Eu preciso que saibam de uma coisa”.

— O que seria? — Quis saber.

“Eu estou trabalhando com o doutor, usando essas criaturas para evoluí-las em armas perigosas, muitas delas já se tornaram protótipos de seus planos e logo serão soltas em Beverly Falls para matar o restante dos rebeldes. Eu estou sendo manipulado por seu poder psíquico, vão precisar lutar comigo até esse poder se desfazer”.

— Agora entendi tudo.

— O que foi? — Adam me pressionou.

— Fale com a gente, por favor. — Violet não se aguentava mais sem saber de novas informações.

— Temos um empecilho pela frente — comecei. — Seu irmão está no final do terceiro corredor à direita. Bem e vivo.

— Isso é bom… né? — Adam perguntou.

— Quem dera. — Suspirei.

— O que quer dizer com isso? — Violet perguntou aflita.

— Seu irmão está sendo manipulado pelo doutor reptiliano. Teremos que matar esse monstro para salvar Thomas. Violet… você vai ter que lutar contra seu próprio irmão para eu poder salvá-lo das correias psíquicas.

Após revelar isso, nenhum de nós tornou a falar qualquer coisa. O momento para mudar o curso da guerra finalmente chegara. E todos poderíamos acabar morrendo naquela batalha.

Night Hunters (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora