Capítulo Vinte: Dimensão

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Apesar de estar apagado no mundo real, meu subconsciente estava desperto. Agora eu me via em um mundo totalmente estranho e distorcido. Não havia coerência em nada que existia lá. Aos meus olhos, eu parecia me ver dentro de um portal. Não havia gravidade por sinal. Meu corpo flutuava livremente pelo espaço-tempo.

Me sentia tão leve que voei de um lado para o outro em busca de alguma saída ou de alguém. Não havia qualquer objeto que pudesse tocar ou sentir sua presença. Era somente um vazio sem fim.

“Finalmente alguém conseguiu entrar nesta dimensão” ecoou uma voz grave e masculina. Parecia vir de todas as direções.

— Quem é? — Perguntei.

“Sou um dos traidores da minha raça. Paguei um preço muito caro por amar vocês, humanos.”

— Eu não gosto de falar com alguém que não posso ver — expliquei. — Apareça para mim.

“Siga por esse caminho” disse a voz. “Lá você irá encontrar o que procura.”

Uma fenda se abriu naquela dimensão onde eu vi um corredor longo e escuro, mas não me assustava. Segui firmemente até lá e caminhei por sua estrada reta até chegar do outro lado da dimensão. Desta vez havia uma cama e… um homem levitando em cima dela a uns três metros. Raízes espinhosas o prendiam firmemente.

Voei até ele e, somente quando cheguei perto, pude ver que não era humano. Era um alienígena dormindo de braços cruzados apoiado em seu colo. Ele respirava pausadamente. Diria que ele estava em uma espécie de coma, ou em estado de hibernação. Suas orelhas pontudas eram azuladas. Seu corpo era definido como o meu.

Tentei arrancar as raízes em vão, elas se regeneravam com velocidade impressionante. Forcei novamente e desta vez acabei me cortando no processo, não senti dor alguma, mas sabia que minha pele havia sido arranhada. Logo as raízes passaram a percorrer minha mão direita, querendo me prender junto.

“Não tente me soltar, aqui nesta dimensão é impossível. Se insistir, você vai acabar ficando preso comigo.”

Obedeci sem questionar, ainda assim fiquei tentado a achar algum meio que eu pudesse fazer para ajudá-lo.

“Este sou eu. Minha verdadeira forma.”

— Você… é lindo — sussurrei comigo mesmo. Uma resposta idiota e sem coerência que acabei soltando.

“Obrigado pelo elogio.”

— Por que está assim?

“Quando descobriram o plano de destruição meu e da minha irmã, fomos caçados sem descanso por nossos companheiros. Não demorou até nos acharem. Lutamos uns contra os outros e houve muito derramamento de sangue. Infelizmente, estávamos em menor número e, mesmo sabendo lutar com maestria, acabei sendo capturado. Consegui pelo menos dar uma brecha para minha irmã fugir e se misturar com os demais humanos. Detonei antes um explosivo que causou uma perda inestimável para a nossa raça que queria dominar a Terra naquele dia. Graças a mim e minha irmã, conseguimos retardar o plano deles por quinhentos anos. O processo foi lento, mas, pelo que estou vendo, enfim chegou o momento que eles tanto desejaram.”

— Então eu sou o único que conseguiu se comunicar com você?

“Isso mesmo. Estou há quinhentos anos tentando me comunicar com alguém. Você foi o primeiro a conseguir entrar em contato comigo.”

— E o que quer de mim? — dizia encarando seu corpo inerte. Era a primeira vez que entrava em contato com um alienígena, não era nada como os filmes mostravam.

“Preciso que você me encontre e me desperte desse sono profundo. Quero muito lutar ao seu lado e de minha irmã. Não quero que a raça humana acabe assim… como eles planejam.”

— Como farei isso? Nem sei se esse lugar é físico. É tão distorcido que não vejo como um humano como eu pode entrar nesse tipo de dimensão.

“Posso te dar as coordenadas para me achar. Estou ao norte de Beverly Falls, vocês vão precisar pegar a W Main St até chegarem no Loudonville Public Swimming. Lá vocês verão um campo estéril. Foi onde tive minha última batalha e minha prisão desde então.”

— Espera um momento, como sabe que estamos em Beverly Falls?

“Eu e minha irmã moramos aqui há quinhentos anos. Esta cidade foi escolhida para ser o ponto de partida da nossa raça para começarmos a expandir nossos territórios, sequestrando cada humano até dominarmos a Terra. Mesmo estando em um sono profundo, eu consigo ver tudo o que se passa aqui quando saio de meu esconderijo para trabalhar para ‘ele’. Nunca consegui entrar em contato com minha irmã. Ela acha que estou morto, preciso encontrá-la o mais rápido possível.”

— Por acaso, tem alguém forçando você a trabalhar?

— Eu o chamo de doutor louco. Sua verdadeira forma é reptiliana. Felizmente, ele não é perito em combate físico, mas é muito inteligente nos assuntos de medicina. Vocês terão que derrubá-lo se quiserem me salvar.

Saber que teríamos que lutar contra um alien futuramente já me deixava inquieto. Nunca fui de investir em qualquer tipo de luta, apenas agia em defesa própria quando Danton e Willian mexiam comigo ou com Wal. Não sei se daria conta dessa missão, pelo menos não em um combate físico.

Por enquanto, isso era irrelevante, ainda não chegou o momento de agir, então precisei mudar de assunto. Precisava de mais informações.

— Quem seria sua irmã? — Essa pergunta era importante para mim. Também era a chave para mudarmos o curso da guerra.

“Você conhece ela muito bem, afinal… ela escolheu vocês dois como melhores amigos.”

Meus olhos se arregalaram com a resposta que já veio em minha mente, esse tempo todo eu sou amigo de um desses alienígenas. Isso fazia de Violet uma alien diferente de sua raça pelos anos que ela viveu conosco. Aos meus olhos, ela era tão humana quanto eu, mesmo assim, não pude evitar ficar surpreso.

“Seu nome é Violet Delaor.”

Night Hunters (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora