Capítulo Treze: Dúvidas

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O caos lá fora cessou depois de vinte minutos, cada um que sobreviveu teria bons motivos para ir a um psicólogo. Contei dezoito colegas junto comigo que sobreviveram ao ataque. Um número suficiente para construir uma barreira forte na escada com o talento de cada um. No meu relógio constavam 11h30. Logo seria o horário do término das aulas onde iríamos para nossas cas... Essa não. Minha mãe disse de manhã que havia ido ao mercado. Com a invasão oficial ela poderia estar em perigo. Já perdi meu melhor amigo, não podia perder minha mãe.

Fui até o corredor ficar sozinho para poder entrar em contato com ela. Ainda podia ver o movimento dos alienígenas indo e vindo pelo Campus e as demais ruas. Minha casa logo a frente, intacta. Felizmente, meu celular estava no meu bolso, ainda restavam 80% de bateria. Precisava usar com sabedoria a partir de agora. Digitei o número de casa, chamou até ir para a caixa de mensagem.

- E então, - Adam veio até mim sorrateiramente. - Alguma notícia?

- Não - minha voz saiu trêmula. - Estou com muito medo do que pode ter acontecido com minha mãe. Não saber é o que mais me afeta.

Adam colocou sua mão em meu ombro, procurando me confortar. Nesse momento, nem mesmo ele poderia amenizar esse mau pressentimento em meu coração.

- Ei, vocês - sussurrou Violet. - Venham ver isso.

Segui sem questionar.

- Não pode ser - ouvi alguém lá dentro dizer desanimado.

Entramos na sala, onde um dos nossos colegas estava colocando seu celular no centro da mesa. Percebi que a ligação estava no viva-voz e direcionada à polícia.

- O que que tá pegando? - Quis saber.

- Ouça isso - disse um dos meus colegas.

O telefone chamou e chamou até uma mensagem gravada de uma mulher nos trazer uma notícia que sabíamos ser terrível:

"Aguarde ou ligue novamente. O serviço de emergência está com um alto volume de ligações."

O silêncio reinou na sala, nem mesmo nossa respiração podia ser ouvida, como se tivéssemos parado de respirar.

- Estamos mesmos sozinhos - disse um deles. - Pegaram até a força policial.

Ninguém mais sabia o que dizer, nem o que fazer, mas eu sim.

- Violet, preciso falar com você - cochichei em seu ouvido.

- Fala.

- A sós, por favor.

Entendendo o recado, ela me acompanhou até a outra sala. Lá eu a questionei sobre o armamento que havíamos deixando no baú.

- Você não viu? Ele está lá embaixo da mesa.

- Acho que não reparei. O pessoal já sabe?

- Sim, cada um aqui é confiável. Graças a Wal, temos como lutar contra os alienígenas. Temos que fazer isso com sabedoria para não sermos pegos. Parece que somos a última resistência.

- Sobre isso... - Fiz uma pausa. - Eu preciso sair daqui.

- No que está pensando?

- Tenho que ver com meus próprios olhos se minha mãe está bem.

- Isso é suicídio!

- Eu preciso arriscar, Vi. Preciso ver minha mãe e tirar esse meu pressentimento. Meus instintos me dizem que ela é um deles, por isso preciso ver.

- Sabe que, se ela estiver na sua casa, você vai ter que lutar contra sua própria mãe para poder fugir depois.

Levei uma grande facada nas costas quando ela disse isso. Teria coragem para bater na minha própria mãe? Mesmo sendo outra pessoa... outra... coisa?

- Sei disso. Nunca levantei minha mão contra ela, o que me deixa ressentido é saber que é um alienígena no corpo dela.

- Não sei se os outros irão concordar com esse seu plano.

- Não quero uma votação, eu vou de um jeito ou de outro. Se me pegarem, será um a menos para a resistência, uma perda baixa se comparado com a extinção de Beverly Falls.

- Você até tem um argumento válido, mas não deixa de ser um ato egoísta.

- Vamos fazer um acordo, se eu voltar vivo, você pode me bater na cabeça. Sabe como eu odeio quando fazem isso até mesmo de brincadeira, mas essa proposta será necessária para dizer que eu consegui ver o que queria e voltei pra você em segurança.

- Promete se cuidar? - Ela repousou sua mão em meu peito. Percebi que ela estava no limite psicológico e não suportaria perder mais um amigo. - Promete voltar pra mim?

- Prometo. - Beijei sua testa junto de um forte abraço.

Quando abri meus olhos, percebi pelo canto do olho alguém nos observando. Olhei em sua direção e dei de cara com Adam entre a janela. Quando notou que eu o tinha visto, ele se atrapalhou todo em uma falsa encenação de distração ao olhar para suas unhas.

- Adam?

- Ah... oii... eu... Shay... - Quanto mais ele tentava ficar sério, mais bonitinho ficava. Seu rosto claro ficando vermelho.

- O que está fazendo aqui, gatinho - Violet formulou a pergunta que queria sair de meus lábios.

- Desculpa interromper - disse envergonhado, chegando até nós. - Eu... meio que... ouvi a conversa.

- Por favor, Adam. Já deixei bem claro pra Vi que eu vou de um jeito ou de outro.

- Posso te impedir usando a força bruta.

Me senti ameaçado e, mesmo gostando dele, não ia baixar a cabeça como um cão. Cheguei perto do seu rosto com minha cara irada e sussurrei as palavras em seu ouvido esquerdo:

- Tenta me deter. Só tenta.

- Parem vocês dois - Violet interveio. - Precisamos ficar juntos se formos realmente os últimos sobreviventes dessa cidade.

- Tá bom, então. - Adam cruzou os braços. - Se ele vai, eu vou junto.

- Ah, mas nã... - Ele me interrompeu, colocando seu dedo indicador em meus lábios.

- Eu vou com você querendo ou não. Quer mesmo perder tempo discutindo comigo?

Droga, ele tinha razão quando disse que perderia tempo discutindo. Adam mostrou ser mais teimoso do que eu. Tudo bem, não vou discutir. Não vou entrar no seu jogo. Quero saber se minha mãe está bem e a salvo. Só assim poderei ter a paz que preciso antes de lutar pela nossa sobrevivência.

Night Hunters (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora