Capítulo Trinta e Oito: Distração

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Final de semana chegou e com ele o meu tédio, mesmo depois de tudo pelo que passei, mesmo sabendo que não gostaria de repetir a dose daquela adrenalina. Eu só queria me distrair com alguma coisa que pudesse ocupar meu tempo. Sabia que, para isso, eu precisava da companhia do meu melhor amigo.

Peguei meu celular e apertei seu nome na lista telefônica e esperei. Na quarta chamada, ele atendeu.

— Fala, garotão.

— Tem planos pra hoje?

— Tenho sim, vou até a biblioteca do Mc Mullen Elementary School pesquisar um pouco mais sobre assuntos alienígenas e folclóricos existentes para me aprofundar mais. Agora que a escola está em manutenção, vou precisar me deslocar para outro lugar. Depois disso, vou caminhar um pouco pelas áreas de Beverly Falls onde nunca cheguei a andar. Quero mapear nossa cidade. E, para encerrar, vou me encontrar com Violet no Mohican-Memorial State Forest.

Realmente eram tarefas que iriam distraí-lo metade do dia. Justamente o que eu precisava.

— Posso te acompanhar na caminhada? — perguntei rápido demais, como se eu esperasse que a resposta fosse sim. Eu soei idiota até para mim mesmo. Temi que Wal pudesse responder um “não”, me deixando sozinho naquele dia tedioso.

— Opa, pode sim. — Wal pareceu lisonjeado. — Mas saiba que vamos andar muito. Quer ir mesmo assim? — ele perguntou, sombrio.

— Tudo bem, preciso me distrair um pouco — admiti. — E sobre Violet, eu poderia ir com vocês também? — Me esforcei muito para não parecer interessado

— Ela não te enviou a mensagem?

— Que mensagem?

— Já vi que não viu. — Wal riu do outro lado da linha. — Ela vai fazer uma reunião com todos nós que ainda lembramos do que aconteceu. Diz que será importante para todos.

— O que será dessa vez? — Fiquei intrigado.

— Sinceramente, eu não sei e nem quero saber. Vou deixar minhas teorias para quando o momento chegar. Adoro um bom suspense.

— Te vejo mais tarde então. Falou.

— Falou.

Desliguei o telefone e fui direto para a caixa de mensagens onde vi a mensagem dela, enviada às 08:30 da manhã. Nela dizia:

“Quero aproveitar o final de semana e falar com você, Wal, Adam e Willian. Dylan e os demais foram viajar. Nos encontre hoje à noite no Mohican-Memorial State Forest às 22:00 horas.”

Saber que minha melhor amiga estava planejando algo a mais para o grupo conseguiu me despertar do tédio. Fui me arrumar para sair depois do almoço.

Nada mais me tirava da cabeça sobre qual assunto Violet falaria.

Desci os degraus às pressas, indo para a cozinha. Minha mãe notou meu estado de humor, encarou-me com uma frigideira na mão.

— Que foi?

— Você tá agitado, filho — disse cautelosa. — Por acaso vai aprontar alguma coisa?

— O que eu vou aprontar, mãe, é uma longa caminhada o dia inteiro para me tirar desse tédio.

Empurrei uma das cadeiras para me sentar. Logo Zeus veio correndo para pular em meu colo. O peguei, deixando-o entre minhas pernas.

— Tô vendo que você está preparando ovos para o café da manhã. — Inspirei o ar, saboreando-o com água na boca.

— Pelo menos, coma alguma coisa antes de sair. — Vi minha mãe abrir a geladeira e de lá tirar uma jarra de suco de amora. — O café da manhã já está pronto.

Assim que ela preparou a mesa, me servi de dois pães, ovos mexidos, suco de amora e pêssego. Comi com gosto, saboreando cada mordida.

— Como sempre, a melhor cozinheira da cidade — elogiei, aumentando mais ainda seu ego. — Deveria ter um evento culinário em Beverly Falls. Você com certeza iria ganhar o primeiro lugar.

— Modéstia a parte, — Minha mãe abanou sua mão teatralmente. — eu cozinho como ninguém.

Rimos juntos das nossas bobeiras matinais. Zeus ganhou um pedaço do meu pão que ele engoliu na hora. Repreendi por não degustar da forma como deveria.

— Bom… vou nessa, mãe.

Saí logo após limpar meus lábios no guardanapo. Deixei Zeus pular do meu colo assim que dei indícios de levantar.

— Deveria, pelo menos, levar uma mochila para carregar um litro de água.

Dei meia volta para acatar sua ideia. Agora estava pronto para minha primeira longa caminhada.

.........

Wal e eu andamos muito como ele me disse que faria, começamos indo até o final da rua Vernon Ave – por onde Dylan conseguiu fugir dos alienígenas para pedir socorro. Fomos até uma pré-escola chamada Headstart, na qual eu nunca tinha prestado atenção. Seguimos o rio Black Forck, caminhando pelo bosque até sairmos no supermercado Ardent Mills.

Passamos a tarde toda explorando a rua Union St – a que levava até a igreja Life Community Church, onde Adam me contou sobre a história de seu tio psicopata. Minhas pernas já pediam por descanso em contraste com Wal que andava como se nunca fosse se cansar.

Reclamei do porquê de não termos explorado de carro. Ele me olhou com descrença, como se eu o tivesse insultado. Disse-me que aquele tipo de passeio não se fazia dentro de um veículo, e sim ao ar livre, tendo acesso a lugares em que um veículo não poderia passar.

Eu estava cansado, quase não conseguindo andar e só queria voltar para casa e me arrumar para encontrar Violet. Para me ajudar, Wal sugeriu me levar no ombro. Agradeci por ele se dispor a isso, meu melhor amigo bancando o fortão. Ainda bem que ele não disse nada sobre meu peso, do contrário, eu o teria dado um bom pontapé.

Enfim, descanso para minhas pernas e um bom banho para tirar meu suor ao voltarmos para casa. Agora queria vê-lo não se cansar com um peso extra em nosso retorno.

O filho da mãe tinha mesmo uma boa resistência, não reclamou nem um pouco durante nossa volta para casa comigo em suas costas. Quando chegamos, fomos direto para meu quarto. Assim que me arrumei, Wal foi o próximo. De tanto que ficava em minha casa, já havia uma gaveta pronta com suas roupas. Quando ele terminou de se arrumar, jantamos com minha mãe e logo fomos de carro ao encontro de Violet.

Finalmente iria descobrir o motivo por trás daquele encontro. Eu queria muito uma resposta depois das teorias que eu e Wal debatemos durante nossa caminhada.

Night Hunters (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora