Capítulo Vinte e Dois: Por trás do Ataque

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— Parem, parem, parem. — Comecei a me alterar.

Ficar perto do cadáver da mãe do meu melhor amigo estava me destruindo aos poucos.

— Desculpe por ter chegado a esse ponto, amigo, mas ela não é a mãe de Wal — Violet falava comigo ainda com a arma mirada para minha mãe. — Assim como essa aí na sua frente não é…

— Vai trair sua raça de novo, garota? — A voz de minha mãe estava carregada de raiva contida. — Já não basta ter destruído nossos planos a quinhentos anos atrás e agora quer nos atrapalhar de novo. Imperdoável.

— Culpa de vocês por quererem destruir e conquistar tudo que tocam — rebateu minha melhor amiga firmemente. — Este planeta tem sua beleza própria, mesmo que a maldade dos próprios seres humanos acabe falando mais alto.

O lobo nada fazia, ficou em seu lugar após matar o alienígena, só esperando as ordens de Violet. Não queria admitir, mas aquele animal não parava de olhar para mim. Felizmente, ele estava do meu lado. Aquilo me incomodaria se não estivesse tão quebrado psicologicamente.

— Há uma outra coisa que nenhum de nós te contou até agora — disse minha mãe com as mãos levantadas como eu fizera antes de ser nocauteado. Ela andou vagarosamente até ficar perto de um entulho de barras de ferro descansadas uma em cima da outra.

— O que seria? Meu banimento da minha terra natal? — Violet ironizou sem nenhum traço de humor.

— Tudo isso que estamos fazendo, na verdade, é por você e seu irmão.

— Como? — Minha melhor amiga pareceu abalada com a informação. O benefício da dúvida foi plantado direitinho em sua mente. — Isso é mentira.

— Não… não é. Eu não iria mentir para salvar minha vida. Não sou assim e você sabe disso.

— Me explique isso. Dependendo da resposta, eu não vou atirar em você.

— A primeira tentativa de dominação interrompida por você e seu irmão acabou matando os dois líderes da missão, eram eles quem queriam destruir este planeta para que pudéssemos habitar no lugar dos humanos. Seus pais que eram os segundo em comando caso algo assim acontecesse deveriam assumir a liderança. Só que o meio de comunicação havia sido perdido e todos nós que sobrevivemos tivemos que nos esconder por muitos anos. Até que um de nossos irmãos conseguiu restaurar a comunicação. Seus pais nos pediram atualização de tudo o que havia acontecido e se vocês estavam vivos. Dissemos que sim, apesar de não sabermos o seu paradeiro. A partir daí foi nos dado uma segunda missão, tínhamos que encontrá-los para levá-los para casa em segurança. A missão original deveria ser abortada, nos foi dado a ordem de deixar os humanos em sua própria ignorância.

— Meus pais estão fazendo tudo isso por mim? Por que não me avisaram logo? Poderia ter impedido tudo isso.

— Aquelas ordens não eram o nosso desejo, discordamos no começo, mas seus pais foram a favor de continuar com a missão. Sabíamos que como eles eram a autoridade máxima, não iriamos a lugar algum no final, por isso acabamos mentindo para seus pais depois de um plano em conjunto, dizendo que os humanos os haviam matado por serem diferentes. Vimos uma oportunidade de voltarmos a terminar o que começamos quinhentos anos atrás e funcionou. Mandamos um vídeo editado onde vocês eram caçados e torturados até a morte. Seus pais acreditaram em nós e fizeram o que queríamos. Passaram a mandar nossos irmãos por teleporte em uma forma pequena e diferente que é essa que você está vendo ao lado desse lobo imundo. Essa forma não é nossa aparência de verdade. É apenas temporária.

— Por que… — disse depois de tanto tempo calado. — Por que usar a violência e não compartilhar sua sabedoria conosco?

— Porque vocês vão se destruir no final de tudo. Não vamos deixar que esse planeta cheio de tesouros caia em ruína por vocês. Vamos limpar esta terra e usar com sabedoria, já demos um pouco de nossos conhecimentos para vocês no começo e não acabou bem.

— Se o que me disse é verdade, não devia ter contado seu plano para mim, sabendo que eu vou impedi-los novamente.

— Contei nosso verdadeiro plano porque é aqui que você vai morrer, garota. — Minha mãe chutou uma das barras de ferro para cima, pegando-a rapidamente em um movimento certeiro, arremessou em direção a Violet em uma velocidade incrível ao ponto da minha melhor amiga não ter tido tempo de desviar. A barra de ferro trespassou sua barriga na região do flanco esquerdo. Pedaço de sua carne fora arrancada fora, derramando sangue enquanto Violet tombava no chão.

Nesse momento o lobo reagiu, rosnou para minha mãe e saltou em um ataque direto. O ataque previsível ajudou minha mãe a aproveitar essa oportunidade para pegar mais uma barra e rebater o lobo no ar como se fosse uma bola de beisebol. A dor foi tão forte que eu consegui ouvir ossos do lobo se quebrando junto de um choramingo. Aquilo doeu meu coração.

— Para… não machuca ele.

— E ele pode me machucar? — Minha mãe olhou diretamente para mim com surpresa. Desviei meu olhar procurando não argumentar. — Violet, não finja que está morta porque você não é humana.

Violet levantou-se totalmente curada. Sua pele sem nenhum traço de cicatriz.

— Anda tanto com os humanos que chegou a pensar que é um deles.

— Vocês não são diferentes dos humanos — zombou Violet, cuspindo sangue.

— Como é que é? — O rosto de minha mãe ficando carrancudo.

— Não importa que tipo de criaturas sejamos, ou se temos dons que outros não têm e até mesmo se somos de diferentes planetas. Você acabou de me mostrar que estão no mesmo barco que os humanos ao mentir e manipular meus pais para satisfazerem seus desejos egoístas. Você é tão mentirosa e cruel como outros humanos que já conheci.

— Nunca me compare com esses lixos, sua vadia — berrou minha mãe, pegando mais duas barras de ferro para arremessar na minha melhor amiga.

Dessa vez Violet estava atenta e determinada a lutar. Desviou com graça e beleza das duas primeiras, minha mãe irada passou a jogar aleatoriamente todas as que tinha a sua disposição. Logo captei seu plano, o lobo, após se recuperar, passou a andar sorrateiramente atrás de minha mãe. O foco dela estava totalmente concentrado em matar Violet, dando uma brecha em sua posição.

— Você devia se casar com um deles — provocou minha melhor amiga. — Imagina como seria seu filho metade humano e alienígena.

Minha mãe parou de jogar as barras e, como um animal feroz, rugiu estridentemente para poder atacar sua presa. Foi nesse momento que o lobo atacou por trás, mordendo minha mãe em sua jugular. Fechei meus olhos para não ver o que aconteceria depois. Só ouvia os protestos do alienígena no corpo de minha mãe até se cessarem por completo.

Assim como perdi a mãe do meu melhor amigo, agora havia perdido a minha também. Sabendo disso, eu acabei desmaiando novamente.

Não tive sonhos ou projeção astral. Foi o meu psicológico que havia passado do limite, levando-me a uma perda de consciência total.

Desejei muito não poder mais voltar à realidade. Não naquele mundo mal e cruel. Só queria que tudo acabasse ou fosse um pesadelo, mesmo sabendo que não era e, mais cedo ou mais tarde, eu teria que lidar com as consequências.

Night Hunters (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora