Capítulo Trinta e Quatro: Antes da Batalha Final

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— O que pretende fazer? — Wal questionou atrás de nós. — Uma luta corporal não seria inteligente.

— Não vamos chegar a lutar… eu acho.

Violet olhou novamente para seus pais que ainda conversavam tranquilamente com seus soldados em sua língua materna, entendi que ela estava usando aquele momento para contar seu plano antes que fôssemos notados.

— Thomas, ainda está com o controle?

— Está no meu bolso.

— Quando eu avisar, você ativa as saídas.

— Estarei pronto.

— O que vai fazer? — questionei.

— Tentar mudar as ideias de meus pais. — Dito isso, ela gritou por seus nomes, chamando atenção.

Olhei rapidamente para os olhos do rei e da rainha de Allatra, fascinado quando se aproximaram, mas quando eles encontraram os meus olhos, desviei rapidamente para o lado.

— Vejam como esse lixo humano ainda se passa pela nossa filha — disse a rainha com tom de asco.

— Vocês dois serão os primeiros a morrer depois do que fizeram com nossos filhos. — O rei apontou para Thomas cujo olhar de tristeza chegou a dar pena.

— Vocês foram enganados pelos seus próprios soldados, mãe. Eu sou sua filha de verdade...

A rainha deu um tapa em seu rosto, seus olhos se agitando conforme a conversa ia se alongando.

— Vimos o que vocês podem fazer. Não iremos cair em seus truques.

— Mãe — chamou Thomas choroso. — Somos nós de verdade. Não há truques.

Agora o rei se dirigiu até o filho, me fez pensar que ele também levaria um tapa, mas nada aconteceu. Os dois ficaram olhando um para o outro, a tensão em nosso meio crescendo mais e mais.

— Prove — o rei disse friamente.

Thomas voltou à sua forma original, seu tom de pele azulado de orelhas pontudas.

— Mostre a eles, Violet.

Seguindo as ordens do irmão, pude ver minha melhor amiga como ela realmente era. Do mesmo tom que o irmão, só que mais claro, seus cabelos longos e brancos iguais aos da mãe só realçavam sua beleza. Seus olhos felinos de cor âmbar a deixavam uma garota madura. Em seu pescoço, um lindo colar com um amuleto na forma de uma constelação. Nunca tinha reparado até aquele momento em seu conteúdo, me fazendo questionar por quanto tempo ela andava com ele.

As faces tanto do rei quanto da rainha, antes frias e calculistas, aos poucos se moldaram em um sorriso enorme. Em seguida, passaram a rir loucamente, uma atitude irracional perante o cenário em que estávamos.

— Esse colar… — sussurrou o rei. — Enfim o encontramos. Estava com você esse tempo todo.

— Venha aqui, princesa galáctica, traga para mim o Coração do Universo — disse a rainha com as mãos estendidas para Violet.

Minha melhor amiga continuou onde estava.

— Não seja mal-criada, sua pirralha asquerosa — rosnou a rainha.

Que pais mais babacas, mudaram tanto ao ponto de tratarem a própria filha assim? Isso me deixou muito irritado. Violet colocou as mãos no colar, seu olhar estava longe da realidade.

— Este colar foi um presente de minha mãe — começou a falar. — Ele carrega os segredos de todo o universo — disse voltando seu olhar para sua mãe. — Mostre sua verdadeira forma sua lagarta reptiliana traidora. Eu sei que você não é minha mãe… Senhora Vishatir.

A reptiliana ficou em silêncio. O modo como Violet falara denunciou que algo estava errado. O que significava tudo aquilo afinal? Aquela não era sua verdadeira mãe? Minha mente já começava a ficar confusa.

O rei quebrou o silêncio com um grunhido misturado a uma gargalhada amedrontadora. Todos o encaramos imediatamente e então algo aconteceu: ele passou a rasgar sua pele como se a trocasse. Aos poucos, a pele descascada do rei passou a revelar sua verdadeira forma. Quatro olhos imediatamente se moldando, sua pele rasgando as vestes reais ao crescerem, nos mostrando uma espessura escamosa e uma longa calda. Esse novo ser tinha seis patas, duas pequenininhas no meio das patas principais. Seus enormes dentes eram assustadores e bem afiados.

— Não precisamos mais usar essa falsa aparência — disse por fim.

— A pele macia de seus pais foi bem saborosa, criança — respondeu a falsa rainha, lambendo seu beiço com sua longa língua fina. Sua forma verdadeira se tornando igual à do companheiro, com a exceção da dela ter no lugar de cabelos, fios como os de serpentes da Medusa. Eram longos e nojentos. — Sua rainha não teve forças para lutar contra nossa raça reptiliana. Ouvimos com clareza seus gritos enquanto tirávamos a pele de sua carne.

As lágrimas de Violet e Thomas escorriam ao ouvirem a maldade sair da boca da criatura reptiliana.

— É agora — sussurrei para Adam. Ele acenou para mim, deixando suas garras afiadas à mostra. Olhei para os demais e Wal com a mesma expressão. Cada um entendeu que o momento da batalha final havia chegado e estavam prontos para lutar.

Quando olhei para os olhos de Thomas, conduzi-os até seu controle. Nesse momento ele entendeu que o momento de revidar toda aquela crueldade chegara. Com um rápido movimento, Thomas retirou de seu bolso o controle remoto, apertando o botão que liberaria as criaturas.

Um forte ruído de portas sendo abertas ecoou pelos corredores, vinham de todos os lugares. Logo um botão vermelho foi acionado, iluminando tudo a nossa volta. Mais a nossa frente, ruídos e grunhidos de todas as criaturas que se aproximavam dentro do grande salão. Não demorou para que pudéssemos vê-las em suas várias formas e tamanhos se aproximando de nós.

Confesso que cada uma tinha seu lado medonho, parecida vir de muitos pesadelos que tive, felizmente sabia que estávamos seguros graças a Thomas que nos garantiu essa façanha.

— Só pode ser brincadeira — grunhiu a falsa rainha, girando sua lâmina entre os dedos.

Por um momento, fomos esquecidos e isso nos proporcionou a hora certa de nos juntarmos no lado oposto do iminente confronto.

— Precisamos sair daqui — Violet alertou. — Não queiram estar no meio dessa batalha sem nenhum armamento, vão por mim.

— Nem passou pela nossa cabeça nos envolver — disse Willian. — Faremos o que você mandar.

— Esperem a luta começar e vamos usar essa brecha para fugirmos por esse lado. — Violet apontou para uma abertura no corredor.

Se esperássemos só mais um pouco, poderíamos correr. Conseguimos engatinhar nos afastando uma boa distância dos reptilianos.

— Não os deixem escapar — comandou o falso rei furioso. — É aqui que eles serão massacrados.

Alguns soldados acharam que iriam nos alcançar quando correram em nossa direção, felizmente, foram jogados ao chão com o impacto das criaturas que finalmente chegaram.

— Corram. — Violet correu na nossa frente, nos mostrando o caminho.

Corremos para salvar nossas vidas, não era ali que eu iria morrer.

Night Hunters (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora