Capítulo Cinco: Tortura Psicológica

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A segunda aula foi de ciências com o professor Johnny, também fomos liberados para os estudos, desta vez estudamos para a prova de inglês que seria depois da de matemática. Wal conseguiu diminuir muito sua insegurança, eu e Violet o ajudamos a se concentrar nos estudos.

O sinal para o intervalo tocou, saímos por último por sempre estarem cheios os corredores nos primeiros minutos, e ficar no meio de uma multidão que empurra para passar me deixa furioso.

Passamos por rostos de colegas que riam do nosso amigo, apontando e cochichando sobre os vídeos que filmaram para postar na internet. O refeitório não seria um bom lugar para se sentar à mesa com meus amigos e conversar pacificamente sem querer socar o nariz de algum colega meu, por mais que eu desejasse de fato socar um deles.

Ignorando cada um, fomos até o pátio após comprarmos três massa folheada. Um de calabresa para Wal, um de bauru para mim e um de frango com catupiry para Violet. Achamos nosso canto bem afastado dos demais, sentamo-nos na grama, apoiando nossas costas no tronco de uma árvore. Degustamos cada mordida daquele salgado cheio de recheio e massa macia.

Felizmente, ninguém nos incomodou, nem mesmo os valentões. Aquele momento de paz era do que Wal precisava. Distraí-o fazendo piadas e tirando risadas dos dois com minhas palhaçadas. Um momento perfeito que eu queria que durasse para sempre.

Com o fim do intervalo, chegou o momento de fazermos a prova de matemática. Consegui entender o básico da matéria de Bhaskara e equação do segundo grau. Tínhamos apenas 45 minutos para terminar a prova com 12 questões. Comecei lendo todas para ter uma noção de qual seria a mais fácil para mim, deixando as difíceis por último.

Wal e Violet estavam concentrados, fiquei feliz por ver meu melhor amigo calmo, como se tudo aquilo não tivesse acontecido.

— Ei — Wal sussurrou tão baixo que eu quase nem percebi se dirigir a mim.

— Que foi?

— Não está tão difícil quanto pensei.

— Concordo, amigo. Já respondi seis delas.

— Vamos tirar de letra essas questões.

— Fale por você. Agora eu vou ter que queimar meus neurônios para responder essas outras.

— Vamos trocar as provas então. Cada um faz aquela que o outro não fez.

— Combinado.

Trocamos rapidamente sem o professor desconfiar. Ter um melhor amigo tão doido quanto você tem seu lado bom, com muita adrenalina e história para contar.

Olhei sua prova e constatei as questões que eu não tinha feito, Wal havia respondido quatro delas – agradeci por me poupar tempo. As que ele deixou em branco duas delas consegui responder. Aquela adrenalina de responder a prova um do outro me deixou excitado.

Fiquei tão empolgado que quase não ouvi quando Wal ao meu lado gritou de pavor, derrubando seu material enquanto caía ao chão recuando para o outro canto da mesa, assustando nossos colegas que se levantaram para não pisar nele.

A sala se assustou com aquele grito repentino, até mesmo o professor havia levantado da sua mesa de supetão, os olhos de todos arregalados.

— Minha nossa, garoto — comentou o professor Franklin, levando a mão ao coração. — Quase me mata de susto.

— Eles estão lá fora. — Wal apontou trêmulo, ainda no chão.

Tanto eu quanto os outros olhamos para a janela onde dava para ver a calçada e a avenida. Não havia ninguém anormal, exceto alguns homens podando uma planta da casa de um vizinho.

— Vai começar com a mesma história, Walter? — nosso professor repreendeu.

— Acho melhor ligar pro manicômio — zombou Willian cruelmente. — Pode ser contagioso essa loucura desse retardado.

Eu me levantei para rebater. Na mesma hora, Wal levantou-se em um salto, partindo para cima do valentão. Claro que ele não chegou a tocá-lo, Danton o segurou por trás. Nesse momento, a sala toda já estava de pé esperando uma briga que não iria acontecer. O rosto de alguns estava com medo em comparação a de outros, que queriam mesmo ver uma confusão. O meu mesmo estava entre o choque e o pavor.

— Me solta agora… quero quebrar a cara desse desgraçado — Wal ameaçou furioso, seu rosto ficando vermelho.

— Você não vai quebrar ninguém, seu vacilão. — Danton o apertou mais ainda, fazendo Walter gemer de dor.

— Solta ele, seu babaca, tá o machucando. — Passei a andar até eles, disposto a brigar se fosse preciso.

— Calma, Shay — interveio Adam, tocando meu ombro.

— CHEGAA!! — Nosso professor nos surpreendeu ao gritar batendo na mesa com muita força. Aposto que a escola toda ouviu. — Quero você, Walter, lá na diretoria, agora.

— Por que eu? Nem fiz nada.

— AGORA!

Wal se acalmou e se soltou furioso dos braços de Danton.

— Bem feito, seu otário — sussurrou Willian, arrependendo-se quando terminou as palavras.

Wal deu um soco tão forte em seu nariz que a potência do ataque o fez cair para trás, batendo a cabeça na parede.

— Ai! — Danton ia atrás dele, mas Wal já havia saído da sala, batendo a porta violentamente. Então foi ao encontro do amigo, ajudando-o a estancar o sangue que jorrava sujando sua camisa.

— Esse menino tá morto — resmungou com uma careta.

Não devia, mas eu rachei de rir. Este ato imprudente que deixei sair, fez com que alguns alunos e até mesmo o professor me olhassem com julgamento e repreensão. Desculpei-me em seguida, contendo fortemente o riso que queria sair do fundo da minha garganta.

Uma surra bem dada nesse babaca.

Só quando me controlei pude ficar sério, Wal podia levar suspensão por ter feito aquilo. Precisava saber o que aconteceria com ele, mas teria que esperar o final da prova, já que o professor nos obrigou a voltarmos a sentar, com exceção de Willian e Danton que saíram da sala para irem à enfermaria.

Este começo de semana prometia. E sentia que era só a ponta do iceberg.

Night Hunters (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora