Capítulo XXIV

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Eu sempre sonhei em ser uma artista bem famosa e bonita. A vovó Regina diz que posso ser uma bailarina quando crescer, pois sou muito talentosa, mas às vezes fico me perguntando se é isso mesmo que quero, pois também gosto de cantar, de fazer teatro e de fazer entrevistas. Mas dançar balé faz com que eu me sinta como uma borboleta. Uma borboleta rosa e bem grande que dança em volta das flores. Eu gostaria de ser uma borboleta.

Fico em pé na cama e começo a fazer os meus passos. Flexiono os meus joelhos e faço o plié. Depois, mexo a minha perna direita e faço o frappé, que é um dos movimentos que mais gosto de fazer. Tento erguer o braço esquerdo para fazer o effacé, mas ele está muito pesado. É como se eu não conseguisse mexê-lo.

— Vovó! – Grito, quase chorando. — Vovó, por favor, me ajude!

— Maia? – Ela grita de volta, aparecendo assustada no meu quarto. — Meu Deus, Maia, o que houve?

— Tem uma coisa dura no meu braço! – Continuo gritando, aterrorizada. — Mas eu não fiz nada, eu juro! Será que estou virando uma estátua? Eu não quero virar uma estátua!

Ela não diz nada, apenas começa a rir e a me abraçar bem apertado até que eu fique calma.

— Não se preocupe com isso, querida – ela fala com a voz suave. — Não precisa se assustar, está bem? A Teresa acabou machucando o braço e isso afetou vocês, mas hoje mesmo vamos ao médico tirar isso, tudo bem?

— Ir ao médico? – Os meus olhos se enchem de lágrimas. — Vai doer?

— Não, não vai – ela alisa os meus cabelos. A vovó costuma dizer que eles se parecem com fios de ouro. — E hoje vou levá-la à aula de balé assim que voltarmos do médico, tudo bem? Mas você tem que me prometer que não vai deixar ninguém ver o gesso que está em seu braço, certo?

— Por que? – Pergunto.

— Porque muita gente não iria entender, Maia – ela sorri. — As pessoas já viram a Zoé e a Teresa com o braço quebrado e quase viram a Despina, também. Talvez, se vissem você com o braço quebrado, poderiam achar que sou eu quem está fazendo isso com vocês e iriam me chamar de monstro. Já pensou nisso?

— Não quero que ninguém pense nada disso, vovó, nem que te chamem de monstro! Vou ficar quietinha e não vou deixar ninguém ver o braço.

Ela me dá um beijo na testa.

— Tive uma ótima ideia – ela vai até o guarda-roupa, na parte da Zoé, e rasga um pedaço de pano. Depois, vai até onde estão os meus brinquedos e pega a cabeça de uma boneca. — Vou colocar essa fita de pano em volta do seu pescoço, para apoiar o seu braço. Agora, vou colocar a cabeça da boneca na sua mão e cobrir o seu braço desse jeito. Assim, todo mundo vai pensar que você está carregando um bebê, que tal?

— Excelente ideia, vovó! – Digo sorrindo. — Está ficando lindo!

****

Depois do almoço, a vovó deixou a Brenda cuidando da cafeteria e me levou até o médico. Todo mundo que nos via na rua dizia que eu era uma menina muito bonita, e nem ligavam para o fato de eu usar óculos. Diziam, também, que eu era uma boa mãe por cuidar tão bem da minha boneca. E eu realmente era! Até coloquei uma florzinha no cabelo dela para que ela ficasse mais parecida com uma princesa.

— Vamos ver esse bracinho – o médico diz, assim que me sento na cadeira do hospital. — Já está mesmo na hora de tirar o gesso. Se você estiver com medo, pode fechar os olhos. Vai ouvir um barulhinho, mas não vai doer nada, eu te garanto.

— Tudo bem – digo. — Não estou com medo, pode tirar o gesso. A vovó disse que sou corajosa, e sou mesmo!

— É assim que se diz – a vovó fala, sorrindo.

As Quatro Estações de ZoéOnde histórias criam vida. Descubra agora