O primeiro dia de aula era, sem sombra de dúvidas, o dia mais insano no colégio. Tínhamos que enfrentar filas enormes apenas para saber em qual sala seríamos torturados durante todo o ano, em papéis pregados no quadro de aviso, e os alunos pareciam a beira de entrar em uma histeria coletiva. Na verdade, somente as pessoas menos populares precisavam passar por isso. Eu, sendo uma das garotas mais conhecidas e muito provavelmente a mais bonita do colégio, sempre tive quem fizesse isso por mim. E eu nem precisava pedir.
Nanda e Diego ficaram de passar na minha casa para irmos juntos, como sempre fazíamos. Agora que eles eram um dos casais mais comentados do momento, a minha luz estva ligeiramente apagada e eu precisava fazer com que ela brilhasse mais do que o sol, só não sabia como. Desde a festa do Artur, não conversei muito com nenhum dos dois, mas também não fiz muita questão. Uma hora ou outra eles acabariam reconhecendo a crueldade que fizeram comigo e viriam rastejando aos meus pés, pedindo desculpas e me tratando como a maravilhosa amiga que sou.
As poucas informações que tenho desde que estive fora de mim, foram as que a Dona Regina me passou e as que foram filtradas e deixadas pela Despina e pela Maia. E eu realmente espero que sejam suficientes.
— Está pronta, Zoé? – Diego entra no meu quarto. Por incrível que pareça, estou pronta há quarenta minutos. — Uau! Você está muito bonita! Essa saia amarela combina muito com você.
— E isso é novidade? Continue me elogiando e eu conto pra Nanda que está dando em cima de mim.
Diego ri. Ele é o meu melhor amigo desde sempre e tenho medo de perdê-lo algum dia. Conheci ele antes mesmo que a Nanda o conhecesse, mas nunca tive nenhum interesse amoroso real. Ele era uma criança legal – exceto quando monopolizava os brinquedos – e às vezes dividia a sua mesada comigo. Sempre que vinha da capital, a sua avó trazia dezenas de brinquedos dos mais variados possíveis, em todos as comemorações imagináveis. E não eram simples brinquedos. Eram os brinquedos mais divertidos e mais desejados pelas crianças da época. Mesmo com todo esse complexo de príncipe, estava sempre disposto às minhas propostas e, assim, quase sempre eu conseguia dominar a situação e conseguir alguns favores. Talvez, nas minhas crises mais loucas e no meu intenso (mas secreto) desejo de me casar, tenha imaginado ele como o noivo. Tipo, umas dezenove vezes no máximo, mas nunca fui apaixonada por ele de verdade. Para ser sincera, acho que nunca fui apaixonada por ninguém. Apenas imagino situações em que eu seria feliz, mas nada movido por uma paixão verdadeira.
Meu Deus! Eu nunca me apaixonei por ninguém!
— Zoé?
— Quantas vezes você se apaixonou antes da Nanda?
Ele franze a testa, abrindo um sorriso constrangido.
— Como assim? Por que está me perguntando isso?
— Ela é a sua primeira paixão?
— Zoé, achei que já tivéssemos conversado sobre o meu relacionamento com a Nanda. Já tem algum tempo que a gente está junto e... e eu pensei que estivesse tudo resolvido. Então...
— Não, Diego, não é nada disso – tento me acalmar, porque me sinto um pouco fora de mim. — É normal uma pessoa da nossa idade nunca ter se apaixonado antes, certo?
Aos poucos, Diego vai abaixando a mochila até colocá-la no chão. Ele está boquiaberto, como se jamais tivesse esperado por isso, e dá alguns passos lentos na minha direção.
— Está me dizendo o que eu penso que está me dizendo? Você nunca... você nunca se apaixonou?
— Até parece!
— Então é por isso que você vive inventando todas essas histórias malucas... Porque nunca se apaixonou por ninguém!
— Se contar para alguém sobre isso, arranco a sua língua fora e a coloco no...
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As Quatro Estações de Zoé
Novela Juvenil*Livro vencedor do prêmio The Wattys 2021* Enquanto Zoé é uma adolescente irresponsável e autoconfiante, Maia é uma criança com baixa autoestima e carinhosa. Teresa, por outro lado, é uma mulher inteligente e organizada, e Despina é uma senhora rabu...