Capítulo XXIII

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Voltei para casa sem o meu cachecol. Estava tão assustada, que não conseguia discernir se era prudente contar para a Regina ou se escondia o segredo. Como isso pode ter acontecido? Um rapaz estar apaixonado pela Zoé, tudo bem, afinal, ela é jovem. Mas estar apaixonado pela Teresa? E, pior, estar apaixonado pelas duas ao mesmo tempo? Não, isso é um absurdo!

— Como foi o ensaio?

— Interessante – respondo, sem nem mesmo olhar para Regina.

— Não vai jantar?

— Estou sem fome – digo, seguindo diretamente para o banheiro. — Talvez mais tarde.

Depois que saí do banho, caminhei para o quarto e deitei na cama. Fiquei em silêncio, contemplando a sensação revigorante de um bom banho, mas revirando na cama e pensando em tudo o que poderia acontecer caso alguma das duas também se apaixonasse pelo rapaz. Quebrar o braço trouxe consequências inevitáveis para todas nós. Logo, se apaixonar certamente também iria trazer.

A Regina foi até o quarto para conversar, mas fingi que estava dormindo apenas para não ter que responder nada para ela. Não queria contar o que havia escutado, nem mesmo sabia se realmente deveria contar algum dia. Na verdade, preciso dar um jeito de colocar um ponto final nisso, antes que se alastre ainda mais.

Fiquei pensando tanto em como dar um jeito de evitar um caos ainda maior, que acabei adormecendo, vencida pelo cansaço.

— Bom dia, Despina – Regina me acorda acendendo a luz. — É domingo, dia de missa. Melhor se apressar, antes que se atrase.

Ela já está arrumada, usando um sobretudo verde por cima de uma blusa estampada com flores, e calça e sapatos pretos. É uma mulher elegante, mas é inegável que suas roupas ficariam melhores em mim.

Levanto-me, em silêncio, e visto uma blusa branca, o casaco e a saia vermelha do coral. Tomo os meus remédios e decido esquecer a conversa que havia escutado na noite anterior.

— Pode usar a minha echarpe – Regina oferece, colocando-a em volta do meu pescoço. — Só tome cuidado para não deixar o gesso aparecer. Estaremos em público, então é melhor redobrar a atenção.

— Tudo bem.

Regina me encara.

— Está tão silenciosa. O que está acontecendo? – Pergunta desconfiada. — A cada dia que passa, vocês ficam mais esquisitas. Tem algo que queira me contar?

— Ah, não está acontecendo nada – respondo. — Vamos andando, antes que a Olga escolha o melhor lugar. Sabe o quanto ela gosta de aparecer, não sabe?

Chegamos à igreja com alguns minutos de antecedência e haviam pouquíssimas pessoas sentadas nos bancos. A Olga já estava em pé lá na frente, no lugar mais visível possível, apenas para exibir aquela voz de matraca enferrujada.

— Olá, Dona Despina – Nanda me cumprimenta com um aceno. Ela está ao lado do Diego e, embora sejam amigos da Zoé, até que estão muito bem-vestidos e comportados.

— Ei, Dona Despina, como vai?

Paro na frente dos dois, encarando-os.

— Estão namorando?

— Sim, estamos – Diego responde, olhando para Nanda e ficando vermelho. — Onde está a Zoé?

— Acha que eu nasci grudada nela? – Pergunto com impaciência, tirando os braços dele em torno do ombro da garota. — Toda hora ficam me perguntando isso. Se não ficassem nesse agarramento todo, poderiam saber onde a Zoé está.

As Quatro Estações de ZoéOnde histórias criam vida. Descubra agora