Capítulo XXII

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Os meus pés parecem dois picolés guardados a setenta graus abaixo de zero. Estou com tanto frio, que nem todas as cobertas do mundo poderiam me aquecer. Talvez eu esteja com febre. E a febre é sintoma para várias doenças. Santo Deus! Preciso de um médico!

Levanto-me e toco o chão com os pés até encontrar as minhas pantufas. Depois, me enrolo na coberta e vou para o banheiro. Dou alguns tapinhas com o braço direito no rosto enrugado, mas muito bem conservado, antes de pegar os comprimidos que estão no armário. Separo cada um deles apenas com uma mão e começo a tomá-los, um por um. Espero que isso seja suficiente. E espero, também, que a Regina não me impeça de ir ao médico, porque eu definitivamente preciso de novos remédios. Preciso fazer um checape da minha saúde urgentemente.

— Ainda não levantou, Regina? – Acendo a luz do seu quarto, acordando-a. — Queria tanto um chazinho de laranja com gengibre e mel.

— Meu Deus, Despina! – Ela resmunga, tentando cobrir o rosto por causa da claridade. — Vá você mesma preparar! Ainda é madrugada!

— Não é o que parece. Acho que já amanheceu...

— O quê? Eu perdi hora? – Ela dá um salto da cama e corre para a janela. — Não! Ainda é madrugada!

Sorrio, enganada.

— Já que está acorda e de pé, poderia fazer o chazinho para mim? É para aumentar a minha imunidade...

— Você é muito folgada e mentirosa, sabia? Às vezes me dá mais trabalho do que a Zoé!

Sigo ela até a cozinha.

— Talvez eu precise de uma nova consulta – sugiro, sentando-me na cadeira. — Quem sabe isso tudo não é falta de novos remédios?

— Você não precisa de uma nova consulta – ela enche a chaleira de água e coloca no fogão.

— Você não é médica.

Ela cruza os braços.

— Tudo bem, você vai ao médico muito em breve – ela sorri. — Vai tirar esse gesso.

— Qual gesso?

— Esse que está no seu braço.

Abaixo o olhar e dou um grito. A minha visão começa a escurecer e as minhas pernas imediatamente perdem as forças.

— Estou morrendo! – Grito. — Isso é culpa da osteoporose, certeza! Ou talvez eu tenha ossos de vidro! Eu perdi o movimento. Meus dedos estão dormentes! E se isso causar uma infecção?

— Sem escândalo, Despina! A Teresa quebrou o braço há quase um mês. Vamos tirar esse gesso na semana que vem – ela responde. — Acalme-se! Respire devagar. Você não queria ir ao médico? Isso vai ser ótimo para você!

Começo a recuperar as forças, respirando profundamente.

— Como ela quebrou?

— Foi atropelada por uma bicicleta. Não foi nada grave.

****

Passamos o restante da madrugada jogando conversa fora. A Regina havia ganhado uma porção de revistas de fofocas e começou a me atualizar sobre tudo o que acontecia no mundo dos famosos. Claro que eu não sou uma pessoa curiosa ou fofoqueira, mas é importante estar por dentro das coisas que ocorrem no mundo, afinal, toda informação é sempre muito bem-vinda.

— Vou abrir a cafeteria agora. Vai me ajudar?

— Só com um braço?

— Foi o que imaginei – ela diz. — Cubra o gesso com uma manta. As pessoas já estranharam o fato da Teresa e da Zoé terem aparecido com o braço quebrado na mesma semana. Não quero nem imaginar o que diriam se te vissem, também.

As Quatro Estações de ZoéOnde histórias criam vida. Descubra agora