Capítulo XLV

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O dia mal havia amanhecido e eu já estava em pé, ansiosa para receber alta. A Dona Regina havia deixado um vestido azul para mim, dependurado na poltrona de visitas, e, mesmo não o tendo experimentado ainda, sabia que ficaria curto. Agora que estava claro, com os raios de sol invadindo o lugar, conseguia ver os detalhes daquele quarto de hospital. Não era muito grande, cabia apenas uma cama, uma poltrona velha e alguns aparelhos. A tinta da parede estava descascando e a luz do quarto era terrivelmente alaranjada. Era um alívio saber que eu já estava prestes a ir embora.

— Teresa? – Dante pergunta, entrando no quarto. Ele está muito bonito, vestindo roupas sociais e está segurando um buquê de jasmins. — Não sabia que viria para o hospital.

— Vim buscar a Zoé – minto, balançando os ombros. — Então, vocês dois estão...

— Sim – ele confirma, um pouco desconfortável. — Estamos namorando. Me desculpe por não ter falado nada, mas não deu tempo de conversar com você sobre isso antes. E você deixou bem claro que não me queria, então...

— Dante, não precisa se justificar, eu realmente fui clara quanto a isso – sorrio educadamente. — Bom, fico contente que tenham se entendido.

Caminho para atravessar a porta, mas ele segura o meu braço.

— Está... tudo bem mesmo para você? – Ele pergunta gentilmente, um pouco preocupado.

— Claro que está – respondo, agora ficando diante dele. — Está realmente tudo bem.

Encaro-o por alguns instantes, respirando a fragrância do seu doce e característico perfume. Gostaria que ele não estivesse usando-o. Gostaria que ele não fosse tão atraente. Mas ele é a pessoa mais linda que já conheci.

Então, seguro o seu rosto e dou-lhe um beijo.

— Teresa, eu não posso... Não quero – ele diz, desconfortável, afastando-se de mim. — Isso é errado! Vocês são da mesma família e... e é com a Zoé que eu quero ficar. Não é certo que façamos isso... Eu não sou um homem assim. Eu não quero ser a pessoa que vai fazê-la sofrer. Me comprometi com algo e vou seguir com isso. Eu a amo e sou fiel à ela! Então, por favor, não. 

— Eu sei que é – digo com sinceridade, orgulhosa da sua atitude. — Então é isso, Dante. Se cuide!

Ele fecha os olhos e suspira.

— Isso é um adeus?

— Não, não é – respondo, abrindo um largo sorriso. — Isso é um até breve. Daqui a algum tempo, você vai entender.

Atravesso a porta em direção ao corredor e começo a sentir um arrepio percorrendo todo o meu corpo. Esse hospital, definitivamente, deveria oferecer algum serviço de mobilidade que facilitasse a nossa passagem por aqui. Ou talvez devesse ter uma maior controle sobre os ar-condicionados.

— Teresa! – Ouço a voz do rapaz me gritando, ecoando por todo o silencioso e vazio corredor. — Dona Despina?

Viro o meu rosto para o rapaz, que está visivelmente surpreso.

— Olá, Dante – sorrio, parada no meio do corredor.

— A senhora acertou o meu nome – ele ri, ainda confuso. — O que faz aqui? Quero dizer, sei que a senhora é da família, mas a Teresa acabou de sair e pensei... Que a alcançaria... Quero saber se viu onde a Zoé... está.

Dou alguns passos na direção dele, balançando a cabeça.

— Ah, garoto, você não ouviu nada do que te aconselhei, não é mesmo? – Questiono, sorrindo. — Você ultrapassou todas as faixas de segurança e decidiu se arriscar nesse terreno perigoso. Você é persistente. E eu gosto disso. Faça a nossa garota feliz.

As Quatro Estações de ZoéOnde histórias criam vida. Descubra agora