Capítulo XLIV

1.2K 182 264
                                    

— Zoé, pelo amor de Deus! – A voz continuou repetindo e, só após ouvir aquela voz várias vezes seguidas, é que consegui identificar de quem era. — Zoé, por favor!

Dante colocou os lábios nos meus e me deu um beijo muito esquisito, como se soprasse dentro da minha boca ou tentasse sugar algo. E eu sabia que aquele beijo era horrível mesmo não sendo uma especialista em beijos. Quero dizer, eu já havia treinado no espelho e no travesseiro, e acho que me saí muito bem. E já havia dado um beijo no Diego, também. Mas esperava que o Dante soubesse o que estava fazendo. A Teresa, por exemplo, já havia beijado ele. Será que é por isso que ela desistiu? Céus, nunca pensei que ele beijasse mal!

— Preciso de uma ambulância! – Ele grita, tão escandalosamente quanto uma pessoa diante de uma tragédia. — Por favor, chamem uma ambulância!

Será que ele está dizendo que o meu beijo é tão ruim assim? Eu sabia que talvez tivesse dificuldade para dar um excelente beijo, afinal, essas coisas precisam de prática para serem aperfeiçoadas. Mas jamais imaginei que fosse um desastre ao ponto de alguém precisar de uma ambulância.

— Já estão a caminho – alguém aproxima-se dele e anuncia. — Meu Deus! Como isso foi acontecer? Há quanto tempo ela estava lá?

— Não sei dizer – ele responde, preocupado. — Não tem vinte minutos que ela saiu da minha casa, então acredito que não tenha muito tempo... Mas ela engoliu muita água! Talvez a culpa seja minha...

— A menos que tenha empurrado ela ou a convencido de se jogar na água, você não tem culpa de nada – a pessoa diz, e eu tenho quase certeza de que é Diego.

— Nós brigamos – Dante diz, chorando, comprimindo o meu peito. — Estou tão arrependido! Eu a culpei de ter feito uma coisa que... Meu Deus! Eu sou um monstro! Eu sou uma pessoa horrível! E se ela nunca me perdoar? E se ela morrer? Meu Deus, eu nunca vou me perdoar! Nunca! E agora ela me odeia! E tem razão de me odiar!

— Vai dar tudo certo, tenha calma – Diego diz, tranquilizando-o.

— Eu nunca disse a ela o que sinto... E agora eu sinto tanto! – Dante continua chorando.

— E o que exatamente você sente por ela, cara?

— Eu a amo – ele diz, derramando suas lágrimas sobre mim. — Meu Deus, eu a amo muito!

Tento abrir os olhos por completo, mas simplesmente não consigo. Há algo travado dentro de mim que me impede de fazer qualquer coisa. Sinto uma dor muito forte dentro de mim. Uma dor que queima e arde. Consigo ouvir que há muitas pessoas à minha volta, mas não posso vê-las. Consigo ouvir Dante fazendo massagem cardíaca em mim. Consigo ouvir, também, a sirene de ambulância se aproximar.

Só agora consigo entender o que está, de fato, acontecendo. Eu estou morrendo.

****

Depois de algum tempo inconsciente, já no hospital e apenas com a equipe médica ao meu redor, senti o meu corpo voltar a responder. Primeiramente, não conseguia me recordar de muitos detalhes. Mas, a única coisa que estava clara para mim, era o fato de que aquele era o pior aniversário de todos.

— Graças a Deus! – Ouço a aliviada voz da Dona Regina e, logo em seguida, ela se aproxima de mim. — Você não está morta! Isso é um milagre! Eu temi tanto, Zoé! Tanto! Não sei o que seria de mim se eu te perdesse.

Abro um sorriso. O tubo no meu rosto me incomoda um pouco.

— Acho que ela quer falar alguma coisa – a enfermeira diz, tirando o tubo de oxigênio da minha boca. — Pronto, querida, pode falar. Vou deixar vocês duas a sós.

As Quatro Estações de ZoéOnde histórias criam vida. Descubra agora