Capítulo XXXV

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A Dona Regina costumava dizer que, se fosse para ouvir notícias ruins, que ao menos fossem todas de uma só vez. Naquele dia, acordei com a notícia de que a Brenda – uma das pessoas que eu mais detestava em toda a face da Terra – e o meu melhor amigo haviam descoberto sobre mim. Pouco depois, descobri que a cafeteria da Dona Regina – o nosso único sustento e um possível lugar para eu trabalhar futuramente – havia sido fechada. Então, logo em seguida, descobri que havia sido oficialmente expulsa do colégio e poderia retroceder os últimos três anos de estudo. Na minha cabeça, não poderia ter nada que pudesse piorar. Mas o universo, inacreditavelmente, conseguiu me surpreender.

Como se não bastasse tudo isso, naquela tarde, resolvi visitar a Nanda e contar toda a verdade sobre quem eu era. Infelizmente, a encontrei em um estado que me deixou devastada. Aparentemente, as suas últimas crises de asma foram extremamente violentas, fazendo com que seus pulmões ficassem comprometidos, e agora ela respirava com a ajuda de um aparelho. O médico havia dito que era apenas por algumas semanas, até que os seus pulmões se fortalecessem, mas ainda assim era triste vê-la presa à sua cama.

Eu não fazia ideia de que tudo isso havia acontecido com ela e, portanto, me sentia ainda mais motivada a contar a minha história. Primeiramente porque eu queria provar que eu confiava nela e, em segundo lugar, porque eu precisava me justificar e não queria sair como a vilã daquilo tudo.

— O Diego passou o dia todo comigo – digo, sorrindo, sentando-me aos pés da cama e tocando o seu joelho. — Se eu fosse você, cuidava melhor do seu namorado. Acho que ele tem uma queda por mim.

Ela sorri, quase fechando seus olhos azuis-acinzentados.

— Obrigada por vir – ela diz, retirando o tubo e se sentando. — Acho que é a primeira visita sua que recebo em todos esses anos de crises.

Sobreponho a minha mão na dela e seguro firme. A sua cama fica bem ao centro de uma das paredes laterais do quarto, o fazendo com que receba a luz solar em quase toda o dia. O papel de parede dela é lilás bem claro, com desenhos de estrelas e telescópios, o que torna o quarto um lugar aconchegante. Há um abajur amarelo sobre a escrivaninha, ao lado do telefone fixo.

— Nanda, há algo que quero te contar. Na verdade, quero te contar isso há muito tempo...

Ela me encara e depois olha para Diego, retornando o olhar para mim. Está visivelmente preocupada.

— Não vá me dizer que vocês estão me traindo!

— Eca, claro que não!

— Ufa! – Ela coloca a mão no peito. — O Diego estava com uma cara esquisita e você estava sendo tão fofa comigo que pensei... que pensei... Ai, como sou boba! Não teria a menor chance de competir com você, Zoé.

— A gente não tem que competir – começo a rir. — Olha, Nanda, o que tenho a te dizer é algo mais sério...

— Que você está apaixonada pelo Dante? Se for isso, eu já sabia.

— O quê? – Fico em pé, assustada. — Por que disse isso?

— Ah, Zoé, isso é bem óbvio. Você não sabe disfarçar.

— Ela tem razão – Diego concorda, rindo.

— Não diria que estou apaixonada, até porque ele é um idiota – respondo, agora de mau humor. — O que sinto por ele é apenas uma pequena atração física. Mas, de qualquer forma, não foi sobre isso que vim te falar.

— Então você veio me dizer que a cafeteria foi fechada? Ou que foi expulsa do colégio? Ou que a Diretora Olga quer fazer você perder todo o seu progresso dos últimos 3 anos?

As Quatro Estações de ZoéOnde histórias criam vida. Descubra agora