Capítulo XXXIV

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Sabe quando você tem a estranha sensação de que há alguém te observando? Você não sabe como, nem onde, nem quem. Simplesmente sente que há um par de olhos fixos em você, ou, neste caso específico, dois pares. Se eu me concentrar bastante, juro que consigo escutar respirações fracas, mas ansiosas, e o que eu mais desejo é que, quando eu abrir os olhos, esteja diante de inúmeras câmeras de televisão e um apresentador esteja com o microfone apontado para mim, desejando que eu ceda uma entrevista ali mesmo no meu quarto, vestindo pijama e sem maquiagem. Tudo bem que eu gostaria de estar arrumada, com um lindo vestido e a maquiagem e o cabelo feitos, mas convenhamos que, com a minha beleza genuína, isso até que não é um problema.

Mas para o meu desespero – e espanto – não era nada disso. Era apenas o Diego e a esquisita da Brenda no meu quarto, me encarando como se eu fosse um famoso quadro de museu ou uma nobre donzela desfalecida.

— O que fazem no meu quarto? – Questiono, levantando-me da cama. — Hoje é o meu aniversário? Planejaram uma festa surpresa para mim? Ou talvez seja por causa da aposta, não é mesmo, Brenda? Tudo bem, eu vou cumprir. Poderia ao menos ter esperado eu acordar. 

— Não, Zoé. Não é o seu aniversário, nem há uma festa surpresa para você – a Dona Regina diz, aparecendo no quarto. Ela não está com uma cara boa. — Muito menos você vai cumprir o que foi apostado. Eles estão aqui, na verdade, porque descobriram sobre você. Ou melhor, sobre vocês.

Torno a me deitar e fecho os olhos. Provavelmente ainda estou presa dentro de um pesadelo terrível. E digo "pesadelo", não pelo fato do que a Dona Regina acabou de dizer, mas sim por ter a cretina da Brenda no meu quarto, aos pés da minha cama, me encarando com o seu rosto medonho.

— O que está fazendo?

— Tentando acordar – digo, fechando os olhos com mais força ainda.

— Isso não é um sonho, Zoé – a Dona Regina coloca a mão no meu braço. — Isso é real. Eles sabem sobre você.

Levanto-me outra vez e os encaro.

— Como foi que descobriram? Quem contou a eles?

— Bom, a Brenda descobriu através da Teresa e o Diego pela Despina. Acontece, Zoé, que não dá mais para mentir para eles, pois está cada vez mais difícil esconder isso tudo. Há muita coisa acontecendo com vocês e está fora do nosso controle. Acredito que as personalidades estejam começando a embaralhar de alguma forma e, de verdade, é melhor ter os seus amigos por perto quando isso se tornar pior.

Balanço a cabeça.

— A Brenda não é minha amiga – caminho em direção à porta do quarto, passando pelos dois. — Acredito, inclusive, que ela vá espalhar sobre isso para toda a escola.

— Se eu quisesse mesmo fazer isso, Zoé, já teria te entregado – ela responde de forma antipática. — Já faz algumas semanas que sei sobre isso e não contei a ninguém. Por mais que você não goste de mim (e não faço questão nenhuma de que goste), ainda tenho consideração pelas outras três.

— Bom, eu duvido – falo. — E você, Diego? Vai ficar calado? O que tem a dizer sobre isso?

— Ainda não tenho muito o que dizer – ela confessa, um pouco abatido. — Juro que estou tentando me convencer de que isso é real, mas nunca pensei na possibilidade de algo parecido. É muito difícil acreditar que vocês quatro sejam a mesma pessoa, mas, ao mesmo tempo, isso explica tanta coisa...

— A Nanda sabe?

— Ainda não.

Viro-me de costas e sigo para a cozinha. Preciso comer algo. A minha mente está fervilhando! Talvez o açúcar me ajude a processar tudo o que está acontecendo.

As Quatro Estações de ZoéOnde histórias criam vida. Descubra agora