— O que está fazendo, Zoé? Aonde você está indo com essas roupas?
— Vou queimar tudo!
— Ficou maluca, garota? – A Dona Regina intervém, segurando os meus braços. — Espere, essas são as roupas da Teresa?
— Sim! – Respondo com raiva.
— Por que está fazendo isso? O que deu em você, Zoé?
— Eu não sei! – Grito, largando as roupas no chão e caindo em cima delas, chorando e passando as mãos pelos meus cabelos. — Eu não sei, eu não sei! Eu só quero ter a minha vida! Estou cansada da Teresa roubando tudo o que eu quero! Estou farta disso!
— Eu entendo você – ela diz, abaixando-se e sentando-se em cima das roupas, me abraçando. — Juro que eu te entendo, Zoé. E acredito que tudo isso tenha a ver com aquele garoto, o Dante. Estou certa?
— Ele está apaixonado por nós duas! – Digo inconsolada. — Mas ele escolheu a Teresa! A Teresa, Pão de Forma! A Teresa que é bem mais velha, mais chata e mais sem graça! Por que tudo na minha vida dá errado?
— Zoé, querida – ela alisa o meu cabelo, assim como fazia quando eu era criança —, ele está apaixonado por vocês duas. Isso quer dizer, literalmente, que ele está apaixonado duas vezes por você. Eu nunca imaginei que isso fosse acontecer algum dia, nem nos meus pesadelos mais loucos, mas confesso que não estou admirada. Vocês quatro são pessoas interessantíssimas, amáveis e fantásticas. Não importa o quanto vocês sejam diferentes.
— Obrigada, mas eu queria que ele tivesse escolhido a mim, e não a ela – digo, fungando. — Isso quer dizer que eu ainda sou uma versão ruim de mim mesma. E eu não quero esperar vinte anos para ser uma versão melhor.
— Você é a sua melhor versão – ela beija a minha testa. — Precisa ser mais paciente consigo mesma. E, acredite em mim, não é queimando as roupas da Teresa que vocês resolverão as suas diferenças.
— Mas ela queimou as minhas minissaias!
— Porque vocês são mais parecidas do que imaginam – ela ri. — Vamos tratar de resolver outros assuntos primeiro, pode ser? Temos a cafeteria para nos preocupar, o pagamento da Brenda, a questão do colégio e você precisa apoiar a sua amiga Nanda, não? Vá dormir na casa dela essa noite, colocar a conversa em dia... Creio que vocês têm muito a conversar. Mas antes, vá colocar essas roupas no armário.
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Não sei o que deu em mim, mas certamente em nenhum outro dia eu teria a força que tive para arrancar a porta do guarda-roupa da Teresa. Depois que o meu surto passou e que tomei a consciência do meu exagero, comecei a dobrar cada uma das peças, tentando fazer com que se assemelhasse ao que era antes – o que era impossível! Comecei a colocar as peças que já estavam dobradas uma em cima da outra, mas, quando me cansei, resolvi colocar o restante de qualquer jeito lá dentro. A Teresa certamente iria brigar comigo, mas ela não estava em posição de fazer nada.
Talvez eu não devesse ter colocado tanto peso em cima daquela prateleira, pois, assim que coloquei a última peça de roupa, ela desmontou e derrubou tudo no chão, fazendo um estrondoso barulho. Se a Teresa ficaria brava por eu ter arrancado a sua porta, com toda a certeza me mataria por eu ter estragado também a prateleira.
A princípio, fiquei apenas encarando aquela monstruosa pilha e pensando no quanto se assemelhava à minha parte, mas, quando decidi juntá-la, outra vez, encontrei uma caixinha de madeira em uma espécie de fundo falso, bem no canto do guarda-roupa.
— Mas o que é isso? – Pergunto a mim mesma.
Seguro a pequena e retangular caixinha nas mãos e a examino, sentando-me na cama. Ela está trancada com um pequeno cadeado desgastado e pesa pouco mais do que uma xícara de café.
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As Quatro Estações de Zoé
Novela Juvenil*Livro vencedor do prêmio The Wattys 2021* Enquanto Zoé é uma adolescente irresponsável e autoconfiante, Maia é uma criança com baixa autoestima e carinhosa. Teresa, por outro lado, é uma mulher inteligente e organizada, e Despina é uma senhora rabu...