Capítulo XIV

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Para a surpresa de todos, inclusive a minha, acabei retornando à sala de aula antes que algum inspetor fosse mandado atrás de mim. E eu merecia um prêmio por isso, já que era algo inédito. Geralmente, usava esse tempo para dar uma volta nos jardins e pensar um pouco na vida, porque ajudava a melhorar a minha concentração. Mas, como dessa vez fui obediente, poderiam me conceder o resto da semana de folga ou ao menos sem tarefas. 

Mas, infelizmente, a Diretora Olga conseguiu tornar a aula ainda mais insuportável nos obrigando a produzir poesias. E no primeiro dia de aula! Quem é que faz isso? Não que eu não goste de poesias, mas é horrível ter que assistir cada um dos alunos, um por vez, caminhar até lá na frente e falar qualquer baboseira que rime.

— Zoé.

Levanto-me, segurando a folha de fichário em branco, e desfilo até lá na frente. Passei a aula toda pensando no idiota do Dante e não consegui fazer nada. Olho um pouco nervosa para a turma. Depois, desvio o olhar para a Diretora, que me encara com seus olhos fixos e medonhos. Depois, torno a olhar para o meu papel que não possui uma única palavra escrita.

Limpo a garganta e respiro profundamente.

— Toda confusão parte de dentro. E é com o tempo que tudo se transforma. A cada estação é uma mudança. É calor que arde e comanda. É frio que chega e reclama. É primavera que vem e sorri. Mas é sempre o outono que me traz até aqui. Às vezes, isso tudo é muito confuso. É forte, é intenso, é inconstante. E eu não sei como controlar a minha mente, que insiste em pensar no... – faço silêncio imediatamente, assustada. Ergo os olhos para a turma, que está fascinada com as minhas palavras, esperando que eu termine o poema. Olho para a Diretora, cujos olhos estão brilhando feito estrelas. Anda, Zoé! É a primeira vez que a bruxa está orgulhosa de você. Não estrague tudo, nem complete com "Dante"! — Que insiste em pensar no... cabelo do elefante.

Toda a turma começa a rir.

— Por um instante, pensei que você tinha mesmo levado a atividade a sério. Mas eu já deveria esperar algo de uma sem-futuro – ela diz ranzinza. — Livro de matemática, página 76.

O primeiro dia de aula terminou tão entediante quanto começou, mas com o dobro de atividades. Ao final, enquanto estava guardando os materiais dentro da bolsa, as pessoas mais esquisitas da sala vieram elogiar o meu poema e dizer que tinha sido muito engraçado. Outras disseram que havia sido emocionante. Alguns rapazes vieram me chamar para sair e eu, obviamente, recusei todos os convites. 

 Mas, na verdade, eu não estava me importando com nenhuma daquelas opiniões, convites ou com qualquer coisa que me diziam.

— Zoé, está tudo bem? – Brenda me pergunta.

— Você iria amar se eu dissesse que não, né?

— Estou perguntando isso, porque já tem um tempão que está tentando colocar a minha bolsa dentro da sua bolsa. Parece distraída. Quer ajuda?

— Até parece que preciso de alguma ajuda sua – reviro os olhos, entregando a sua bolsa. — Só estou fazendo hora porque estou esperando pela Nanda e pelo Diego. E a sua bolsa estava presa na minha.

— Então é melhor você se apressar – ela diz, balançando as suas pulseiras barulhentas e irritantes. — Porque eles já saíram tem um tempinho. Só estamos nós duas na sala.

Ela sai pela porta, me deixando sozinha.

Olho ao redor. Brenda estava certa. Todo mundo já havia ido embora. Até mesmo a Diretora Olga havia saído, sem ao menos querer conversar comigo. Não que eu quisesse, claro, mas era estranho. 

As Quatro Estações de ZoéOnde histórias criam vida. Descubra agora