Capítulo XLVII

1.4K 165 308
                                    

Aquela sensação de que o meu mundo havia desmoronado permaneceu por muito tempo. Ser filha da Diretora Olga parecia a pior coisa que poderia ter acontecido. Ela disse que havia conhecido o meu pai em uma conferência estudantil, e acabou tendo um caso com ele. Quando ele soube da gravidez, simplesmente desapareceu e a deixou sozinha, sem qualquer amparo ou apoio, e nunca mais deu qualquer notícia. Mesmo com todo o constrangimento e tristeza que eu sentia, conseguia me conformar quando pensava na sorte de ter sido criada pela Dona Regina.

Não consegui contar a notícia para os meus amigos durante dias, nem mesmo para o meu namorado. Mas, quando compreendi que eu não poderia mudar nada daquilo, acabei revelando e eles ficaram tão chocados quanto eu. Era difícil acreditar que uma das únicas pessoas que tinha a obrigação de me amar simplesmente havia me odiado.

— E quanto ao resultado da prova? – Dante pergunta, ansioso. — Você passou?

— Não sei, talvez – respondo, deixando a bolsa no chão do quarto. — O resultado ainda não saiu. Disseram que pode sair até a semana que vem. Então agora é aguardar. 

— Você vai passar, tenho certeza – ele diz, tocando o meu rosto e me beijando. — Agora trate de se arrumar. Não vamos querer perder a formatura.

— É, não vamos querer – digo, sorrindo, soltando pequenos gritinhos. — É hoje que vou conhecer a Vicky Nevada: a maior estrela da década! Estou enfartando! Preciso estar muito bonita e me destacar naquele meio. Quero que ela me note, então talvez eu leve uma faixa. Ou talvez eu provoque um incêndio... Não sei. Eu preciso que ela me note!Mas tenho certeza de que vou querer uma foto! Ou talvez eu entre no camarim dela. Já passou pela minha cabeça inúmeras coisas que eu poderia roubar. Perfume, sandálias, um brinco, toalha... Não consigo me decidir! Mas qualquer coisa serve. Roubaria até um rolo de papel higiênico. 

— Sabe que vai ter milhares de pessoas lá, não sabe? A imprensa toda vai estar lá e, se ela tiver que tirar foto com alguém, com certeza vai ser com os formandos – ele me recorda. — Além do mais, dona Zoé, roubar é crime e você já pode ser presa. E provocar um incêndio também. Acho meio difícil você conseguir chegar perto dela.

— Não preciso de outra pessoa jogando um balde d'água fria nos meus sonhos – digo, o empurrando para fora do quarto. — Agora me espere aqui. Vou me trocar.

****

— Meu Deus, eu vou chorar! – Dona Regina diz, assim que saio do quarto. — Você está tão bonita, Zoé! Queria tanto que estivesse se formando hoje...

— Nem sempre as coisas saem como a gente quer – respondo, sorrindo. — Mas temos que tentar tirar proveito de tudo.

— Estou orgulhosa de você – ela ri, segurando a minha mão. — Vamos, não podemos nos atrasar. O rapaz já está no carro, nos esperando. Quero sentar bem na frente para ver a formatura de perto. Estou tão feliz pela Brenda, a Nanda e o Diego... São pessoas boas. Não quero chorar! Não vou chorar. 

— Também estou feliz, Pão de Forma.

Dante nos esperava no carro que o Artur havia emprestado. O Padre Constantino estava ao seu lado, e era a primeira vez em que eu não o via usando a batina. A Brenda estava atrás, usando um vestido lilás e segurando a beca nos braços para vestir quando chegasse na escola. 

— Grande dia! – Digo para ela. — Você está maravilhosa!

— Você também está!

— É, eu sei. É por isso que o seu irmão não consegue tirar os olhos de mim.

Quando chegamos à escola, Brenda se juntou com os outros formandos – os quais haviam feito uma pequena aglomeração no corredor. Todo mundo estava muito bem-vestido e elegante, e era nítida a felicidade no rosto de cada um deles. Por todos os corredores haviam faixas e cartazes parabenizando-os e havia um enorme quadro com a foto deles. Enquanto eles se divertiam e trocavam abraços nervosos e melancólicos, o restante de nós seguimos para o auditório e nos assentamos.

As Quatro Estações de ZoéOnde histórias criam vida. Descubra agora