Capítulo IX

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Fiquei sozinha por mais algum tempo, perdida no redemoinho de pensamentos que invadia a minha mente e despertava sentimentos melancólicos em mim, enquanto observava a trilha de formigas que passava pouco à frente dos meus pés. Elas carregavam folhas muito maiores do que o próprio tamanho e, por alguns instantes, me vi como uma, suportando um fardo quatro vezes maior do que qualquer pessoa carregava.

Para ser sincera, eu não me importo de dividir a vida com a Maia, a Teresa ou a Despina. E, por mais que eu não as conheça pessoalmente, sei basicamente como cada uma é. A questão é que eu não sei se isso vai durar para a vida toda. Não sei como vai ser o meu processo de envelhecimento, se algum dia eu vou conseguir um emprego ou como seria se alguém descobrisse. Às vezes, a minha vontade era de anunciar aos quatro cantos as minhas quatro versões.

Além de ficar famosa, talvez algum médico poderia me ajudar com isso.

De repente, ouço alguns gritos de socorro logo atrás de mim, um pouco distantes, os quais despertam a minha atenção. Imediatamente, viro o meu rosto e vejo Dante subindo a colina, a alguns metros, juntamente com outras quatro crianças. Ele corre atrás delas como um cachorro feroz persegue um gato inocente, tão raivoso e violento quanto um coiote.

Em um impulso, sentindo o coração batendo forte próximo à garganta, levanto-me do banco e agarro um pedaço de madeira que estava próximo à árvore, enquanto começo a correr em direção à eles. Não posso permitir que essas crianças sejam sequestradas ou maltratadas por esse imbecil!

— Largue essas crianças agora! – Berro, avançando em sua direção com o pedaço de madeira nas mãos. — Largue-as ou eu chamo a polícia!

Dante vira o rosto para mim, surpreso pela minha aparição repentina, cerrando seus olhos terrivelmente apaixonantes. Ele morde os lábios e balança a cabeça. Céus! Odeio achá-lo tão atraente!

— Eu disse para largá-las! – Repito, erguendo o pedaço de madeira como um taco de beisebol. — Acha mesmo que vai conseguir sequestrar todas essas crianças? Eu já assisti vários filmes sobre o tráfico de crianças e sei muito bem o que pretende fazer!

Cínico, ele observa as crianças ao redor e as aproxima do próprio corpo, aumentando ainda mais a minha raiva.

— O que te faz pensar isso? – Ele grita do alto da colina.

— Bom, você é o vilão da minha história – respondo. — Além do mais, eu te odeio e acho você uma pessoa horrível. E eu ouvi as crianças gritando por socorro, enquanto você corria atrás dela. Logo, tenho todos os motivos do mundo para pensar que você está sequestrando essas crianças.

Ele dá um sorriso de lado e balança a cabeça.

— Você tem razão. Eu sou mesmo um sequestrador de crianças.

Não me sinto tão inspirada a bancar a heroína desde o lançamento de O Rei Leão no ano passado. Os meus instintos me obrigam a ir até lá em cima e bater nele com o pedaço de madeira.

Dou alguns passos em direção à ele.

— Vai mesmo tentar me impedir com esse pedaço de galho podre?

— A única coisa podre aqui é você!

Não sei por que disse isso. Geralmente, sou muito boa com respostas, mas esse estúpido mexe com a minha mente de uma maneira que me deixa com vontade de espancá-lo a base de beijos. Quero dizer, esmagá-lo com os meus abraços. Ah, odeio esse cara!

— Se quiser me ofender, vai ter que melhorar, Zoé.

— Ah, cale essa sua boca!

Ele sorri de lado, observando-me. Depois, olha para as crianças e assente com a cabeça, como se estivesse dando uma ordem para que elas me atacassem. E, infelizmente, eu estava certa! Em fração de segundos, todas as quatro começaram a correr na minha direção, tão violentas quanto uma manada de elefantes.

As Quatro Estações de ZoéOnde histórias criam vida. Descubra agora