Capítulo XXXIII

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Aquele era um dos dias mais frios do ano. Talvez o mais frio de todos. E eu poderia ter permanecido na cama por mais algum tempo ou ter acordado a Regina para me preparar um chá, mas há algo que está me deixando completamente ansiosa e, aparentemente, confusa também.

Hoje é a primeira vez que não quis tomar os meus remédios e nem pretendo ir ao médico. Me sinto com mais vitalidade do que nunca – o que só pode indicar duas coisas: ou estou presa em um sonho maluco ou estou morrendo e Deus está me dando a oportunidade de viver bem os meus últimos dias.

— Dona Despina, a senhora praticando corrida? – Diego pergunta, olhando para mim naquele início de dia. — Isso é ótimo! Nunca pensei que a senhora gostasse de atividade física. Vai fazer muito bem para a sua saúde.

Apesar de estar muito frio, ele está usando regata branca e uma bermuda muito curta.

— É, talvez – respondo, ainda correndo ao lado dele. — Vem sempre correr por aqui?

— Sim, todos os dias – ele diz. — Gosto de praticar exercícios próximo ao lago, principalmente nos dias frios. Isso faz com que eu queira correr mais rápido para me aquecer e, portanto, queimar mais calorias.

— É, dá pra notar que você está em forma. A Nanda não corre junto com você?

— Não, por causa da asma – ele continua mantendo o ritmo baixo para poder me acompanhar. — A senhora tem notícias da Teresa? Ela ficou de conversar comigo e com a Nanda há alguns dias e nunca mais a vimos.

— Anda ocupada com umas coisas da cafeteria.

— Entendi... imagino o desespero de vocês – ele diz, passando a mão no cabelo suado. — E a Zoé? Como ela reagiu com a notícia?

— Qual notícia? – Paro de correr e abro o zíper da minha jaqueta.

— A Diretora Olga conseguiu uma autorização para desligar a Zoé da escola – ele diz, também parando de correr. — A senhora já sabia disso, certo?

— Não! – Respondo assustada, colocando a mão sobre a boca. — E ela também não está sabendo disso! Meu Deus, ela vai ficar arrasada!

— É mesmo lamentável – ele comenta, triste. — Eu sei que a Zoé falta muito às aulas e que não tem uma boa disciplina ou comprometimento, mas achei radical demais o que a Diretora fez. Acredito que poderia ter sido conversado, afinal, a Zoé falta às aulas, na maioria das vezes, para cuidar... – ele para de falar e me encara — da senhora! Mas a senhora, pelo que percebo, está bem de saúde. Qual o motivo da Zoé ter se ausentado dessa vez?

— Ela foi ajudar a Teresa com as coisas da cafeteria, oras – digo, agora caminhando.

— Me desculpe, Dona Despina, mas quais tipos de coisas? – Ele questiona em um tom desconfiado.

— As coisas de sempre – respondo imediatamente.

— As coisas "de sempre"? – Ele pergunta retoricamente. — Estranho... A cafeteria foi fechada há uma semana pela vigilância sanitária, então é um pouco improvável que elas estejam resolvendo as "coisas de sempre".

— O quê? A cafeteria foi fechada? – Pergunto com espanto. — Isso é mentira, só pode ser.

— A Diretora Olga fez a denuncia. Uma contra a cafeteria e a outra contra a Dona Regina. Pensei que a senhora estivesse ciente dessas coisas.

****

Corri tão rápido para a cafeteria, que é capaz de algum dos meus pulmões terem ficado no meio do caminho. O meu coração estava disparado e, mesmo com os insistentes chamados de Diego, não parei de correr. Ele estava preocupado que eu sofresse um infarto ou que eu caísse no chão e quebrasse algum osso, mas eu estava preocupada mesmo era com o que ele havia me dito.

As Quatro Estações de ZoéOnde histórias criam vida. Descubra agora