Capítulo XXXII

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Quando assisti ao filme da Branca de Neve no cinema, em um lindo dia de passeio com a vovó Regina, percebi que a princesa cantava e imediatamente os animais a obedeciam, fazendo todas as tarefas de casa que ela precisava. Desde então, tentei fazer isso diversas vezes, porque queria ajudar a vovó de alguma forma na cafeteria, e imaginei que os animais pudessem fazer algumas tarefas também, mas nunca funcionou. Até hoje.

Os pássaros não estão ajudando a arrumar as coisas por aqui, para ser sincera, mas há alguns na minha janela e agora é a oportunidade perfeita para pedir a ajuda deles.

— Ei, passarinhos, vocês podem me ajudar na cafeteria? – Pergunto, enquanto amarro o meu cabelo. — Meu nome é Maia e, mesmo eu não sendo oficialmente uma princesa, algumas pessoas dizem que me pareço com uma. A Brenda, por exemplo, sempre diz isso. Estou preocupada com a vovó, porque ela anda um pouco cansada. Podem me ajudar?

Mas os pássaros não respondem com os seus "piados" ou se movem. Apenas continuam bicando alguns grãos no chão e, quando falo mais alto, alguns voam para longe.

— Talvez eu deva cantar – sugiro, limpando a minha garganta.

Passarinhos, que vem do sul e vão para o norte

A limpeza nunca foi o meu forte

Me ajudem a arrumar esse lugar

E, como recompensa, alpiste eu vou te dar

Depois voltem para o horizonte

E contem a todos sobre quando beijei o... Dante?!

Os pássaros batem as asas para longe de mim. Por que eu cantei aquilo? Eu não beijei ninguém chamado Dante... Ou será que beijei?

— Tudo bem se não quiserem me ajudar – grito da janela. — Vou fazer isso sozinha! Estou ficando grande e posso me virar muito bem sem a ajuda de vocês! É por isso que eu amo mais as borboletas!

Abro a porta do quarto e vou para a cozinha, ainda chateada com os pássaros. Não deveria ter dito a eles que não sou uma princesa! Provavelmente foi por isso que nem demonstraram o mínimo de interesse por mim. Ou talvez se ofenderam por eu ter dito que beijei um garoto chamado Dante.

— Bom dia, querida!

— Bom dia, vovó – abro um sorriso. — Onde está a Brenda?

— Ah, ela estava um pouco indisposta hoje, então não veio trabalhar.

— Que pena – digo. — Posso te ajudar, então?

— Bom – ela coloca uma mão na cintura e me encara, me analisando. — Acho que você pode me ajudar, sim. Você pode levar esse café para a mesa 4. Mas, por favor, querida, não deixe o seu dedo encostar na bebida e nem tome um pouco, como da última vez.

— Mas eu só tomei porque estava entornando! – Me defendo. — E eu tinha acabado de tirar o gesso. 

— Eu sei, querida. Mas os clientes não gostam disso.

— Tudo bem – seguro a xícara com o pires cuidadosamente. — Não vou entornar, nem colocar o meu dedo ou beber. Pode confiar em mim.

— Eu confio em você, Maia.

Sigo para a cafeteria andando a passos calmos, pois não quero derrubar nada em mim e nem desapontar a vovó. Mas quando me aproximo da mesa 4, as minhas mãos começam a tremer e o meu coração parece brigar dentro do meu peito. O cliente é o amigo da Brenda – aquele que zombava de mim quando tinha a minha idade.  Ainda não sei ao certo o porquê de ficar assim quando eu o avisto, mas tenho a impressão de que já nos beijamos. 

As Quatro Estações de ZoéOnde histórias criam vida. Descubra agora