Capítulo XXXIX

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Me sentei bem ao fundo, ao lado de Regina, e esperamos os minutos restantes para que a aula começasse. O dia estava cinzento como um nevoeiro e não havia qualquer sinal do sol entre as densas nuvens. Eu odiava esperar. Odiava o fato de estar ali e, principalmente, odiava o fato de não estar no meu corpo, e nem com a minha voz.

— Olá, turma – o estrupício da Olga disse assim que entrou na sala de aula. — Hoje, como a maioria de vocês sabe, é um dia muito atípico aqui no colégio. Estamos recebendo o Sr. Jorge Luiz aqui conosco. Como sabem, ele é um oficial de justiça e está aqui para averiguar algo que todos possuímos conhecimento e que está provado em boa parte dos diários escolares: que a Zoé é uma aluna irresponsável e indisciplinada, e não está apta para se formar no Ensino Médio.

Controlo a minha vontade de me levantar e dar um soco em seu rosto. O oficial é um senhor alto e gordo, e, mesmo me esforçando ao máximo, não consigo imaginar que tenha tido cabelo algum dia.

— Como a Diretora Olga já informou, então acredito que não preciso me apresentar novamente, vim fazer algumas perguntas para vocês, para tomar mais conhecimento do caso – ele começa, caminhando lentamente em frente ao quadro. — Foi denunciado por esta mulher que a aluna Zoé de Albuquerque atingiu mais de 55% das faltas, o que, conforme acredito que todos saibam, é muito mais do que o permitido. Entretanto, como absolutamente todas as histórias possuem dois lados, foi-nos apresentado um outro fato: a Zoé compareceu aos 75% de aulas obrigatórias e os diários de frequência foram adulterados.

— Isso é uma barbaridade! – Olga diz, balançando a cabeça.

— Bom, sendo ou não sendo, gostaria de ouvir o que a Zoé tem a dizer sobre isso – o homem diz, procurando por ela. — Zoé, poderia se levantar, por gentileza?

— Meritíssimo, ela não podê-lo-ei vi-lo – Regina diz, um pouco nervosa, arrancando algumas risadinhas na sala. — Teve uma crise de ansiedade e precisou-se ficar-se em repouso. Então, vim a representando-a. E tudo o que lhe disse-lhe na última parte por vós mencionada, Excelência, é pertinentemente verídico.

Ele a encara.

— Bom, a senhora parece um pouco nervosa, talvez eu possa fazer as perguntas para a senhorita que está ao seu lado. E não precisa me chamar de "Meritíssimo" ou de "Excelência", pois não estamos em um tribunal e eu não sou juiz, apesar de que a maioria das pessoas sempre confunde – ele aponta para mim, certamente identificando o "parentesco" entre mim e Zoé. — Você, senhorita, como se chama?

— Des... Teresa – digo, olhando para a Brenda e engrossando a voz. — Me chamo Teresa. Sou tia da Zoé.

— O que a senhora tem a dizer sobre isso?

— Bom, ela realmente faltou algumas vezes, devido à precária condição de saúde de sua avó, que é uma senhora muito bonita e divertida. Entretanto, como o senhor pode ter observado, a Zoé sempre ficou acima da média, o que, no meu modesto ponto de vista, significa mais do que estar presente nas aulas – falo, mas o meu corpo começa a suar e a pinicar. — Por isso... Por isso...

— Está tudo bem, Teresa?

— Sim, majestade – digo, esfregando as minhas costas na cadeira. — Só estou com um desconforto. Fico emocionada ao falar da minha sobrinha Zoé. O senhor me dá permissão para tomar um ar fresco?

— Como eu já disse, não estamos em um tribunal. Pode ir, sim. Enquanto isso, vou direcionar as perguntas às outras pessoas.

Saio correndo em direção à porta e sigo para o banheiro, sentindo o meu corpo comichando. Me sinto como se estivesse em um caldeirão de cozido de Despina. O calor começa a me incomodar e as gotas de suor escorrem vastamente pela minha testa. Então, tiro o casaco e o deixo sobre uma das portas. Depois, caminho até a pia e lavo o meu rosto para aliviar o calor.

As Quatro Estações de ZoéOnde histórias criam vida. Descubra agora