— Você está louca, Brenda? – Dou uma risada fraca para encobrir o meu nervosismo. — O que deu na sua cabeça para pensar um absurdo desses? Isso é cientificamente impossível!
— Eu sei! Mas também é cientificamente impossível escapar de um quarto cuja única saída é uma porta trancada sem sinais de arrombamento e uma janela muito estreita e alta – ela olha para cada um dos compartimentos do guarda-roupa. Como fui burra em ter deixado a minha parte aberta! — Eu posso estar ficando completamente doida, mas venho pensando nisso há um bom tempo, Teresa. Não faz sentido que vocês sejam uma família e eu nunca as tenha visto reunidas, ou que tenha uma foto de vocês juntas, ou que é sempre uma de vocês a passar os dias aqui. Também não é comum que você tenha uma filha e nunca esteja perto dela. E nem que você e a "Zoé" terem quebrado o braço esquerdo na mesma semana. E eu posso jurar que vi a Maia encobrindo o seu com uma cabeça de boneca e a Despina com uma echarpe. Além do mais, qual a outra explicação para a Zoé faltar tanto as aulas assim? Tudo bem que ela é irresponsável e mesquinha, mas sempre tem um clima...
— Isso é bobagem, Brenda! Você está criando coisas na sua cabeça! Nós apenas não costumamos...
— Teresa, por favor! – Ela me interrompe. — Essas desculpas não funcionam mais comigo! Me desculpe, pois te admiro muito, mas isso sempre foi estanho para mim, mas nunca tive coragem de me intrometer... até hoje. Eu não sou burra, Teresa. Depois daquela loucura de você ter aparecido vestida identicamente à ela e a Zoé ter desaparecido de uma hora para outra, não me restam mais dúvidas. Além do mais, a Nanda e o Diego me disseram que a Zoé estava supostamente desaparecida e que não havia voltado para casa.
Abro a boca para tentar argumentar, mas a Dona Regina aparece na porta e nos encara.
— Achei você, Teresa! – Ela diz, suspirando aliviada. — O que está fazendo? Temos alguns clientes que precisam ser atendidos – ela para um pouco e desvia o olhar para a jovem. — Ah, oi, Brenda.
Brenda e eu nos encaramos.
— O que há de errado com vocês duas? – A Dona Regina diz, reparando o clima tenso após estabelecermos um silêncio constrangedor. — Estão com uma cara esquisita...
— Ela descobriu – passo as mãos na cabeça, nervosa.
— Descobriu o quê?
— Sobre nós quatro.
— Eu sabia! – Brenda grita, apontando para mim, relativamente incrédula. — Eu sabia! Eu sabia! Não estou louca! Eu pensei que viria aqui, surtaria, e que a Zoé apareceria, me desmentindo, e que eu ficaria aqui como uma louca desequilibrada. Mas agora você acabou de confirmar e...
— Brenda, pelo amor de Deus, se controle! – Digo em voz alta, segurando-a.
— Sobre... sobre vocês quatro? – Dona Regina questiona, incrédula. — Estamos falando sobre a mesma coisa?
— Infelizmente, sim.
— Como isso é possível? Como vocês se transformam? Como são a mesma pessoa sendo... uma só? Não faz sentido! – Brenda dá alguns passos de um lado para o outro, saindo de perto de mim. — Não pode ser real! Isso não é real!
— Sente-se, querida – a Dona Regina diz.
Foi muito difícil controlar a situação. A Dona Regina precisou dispensar todos os clientes e fechar a cafeteria durante algumas horas, até que explicássemos para a Brenda tudo o que sabíamos a respeito das "transformações" da Zoé. A garota ficou em estado de choque, talvez acreditando que ainda estivesse sob o efeito do álcool da noite anterior, mas já não dava mais para continuar mentindo ou escondendo dela. Confesso ter ficado surpresa que, em 17 anos acobertando toda essa insanidade, aquela era a primeira vez em que alguma pessoa, de fato, desconfiava e questionava a situação. Sei que é errado me gabar em uma hora dessas, mas estou orgulhosa por ter pensado nessa estratégia e ela ter funcionado durante tanto tempo.
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As Quatro Estações de Zoé
Ficção Adolescente*Livro vencedor do prêmio The Wattys 2021* Enquanto Zoé é uma adolescente irresponsável e autoconfiante, Maia é uma criança com baixa autoestima e carinhosa. Teresa, por outro lado, é uma mulher inteligente e organizada, e Despina é uma senhora rabu...