— Teremos que engessar o seu braço – o médico do hospital me informa, segurando a radiografia com ambas as mãos. — Foi uma fratura e tanto!
— Não, não precisa – sorrio, fingindo não estar sentindo a dor no meu antebraço esquerdo, que quase me enlouquece. — Foi só um arranhão. O meu braço não precisa ser engessado.
— Moça, o médico está certo. O seu braço quase partiu ao meio, quando eu, bem... Você realmente precisa engessá-lo.
— Cale a boca! Você é médico por acaso?
— Não, mas sou estudante de medicina veterinária – ele se aproxima, ainda preocupado por ter sido a causa de tudo isso. — No curso, já fiz algumas radiografias bovinas e, bem, o seu braço está visivelmente quebrado.
Inspiro lentamente, tentando impedir a mim mesma de cometer um crime. Olho pelo vidro da janela. O meu cabelo parece ter sido penteado por um bando de orangotangos selvagens e míopes, e o meu vestido está rasgado e sujo de barro, como se eu tivesse acabado de voltar de uma expedição no Monte Everest. A minha autoestima está péssima! Estou horrível e me sinto horrível, sentindo o peso da culpa da minha estupidez, e esse idiota ainda consegue piorar a situação.
— Está me comparando com uma vaca? Olha aqui, vaca é a sua...
— Ele está certo, Srta. Teresa. Não há como consertar o seu braço sem que o engessemos. E, se não o fizer rapidamente, ele pode infeccionar e causar danos severos. Você pode até mesmo perdê-lo!
Reviro os olhos, revoltada. É a primeira vez que uma de nós quebra algum osso do corpo e é torturante pensar no que pode acontecer daqui em diante. Possivelmente, não afetará as outras, como quando a Maia perdeu um dente. Mas o problema é: e se afetar? Meu Deus! Me tornei mais irresponsável que a Zoé! Estou ficando histérica!
Melhor não pensar muito.
— Prontinho. Viu, não ficou tão ruim.
— Você não diria isso se estivesse no meu lugar. Isso nem mesmo parece simétrico! Olha aquela ondulação ali na ponta. Uma criança de cinco anos engessaria melhor do que você.
Percebo a troca de olhares entre os dois.
— Vou te receitar um calmante – ele senta na cadeira e o rapaz o observa.
O médico é muito mais baixo que ele e não aparenta ter mais do que cinquenta anos. Seus braços largos e flácidos e o pescoço curto fazem com que pareça uma pessoa desleixada. Seus miúdos olhos escuros quase não acompanham o movimento da caneta, mas, mesmo assim, ele parece ser um bom profissional.
O rapaz, por outro lado, aparenta medir pouco mais de um metro e oitenta. Ele é muito bonito e forte, mas não tem o porte de físico de um atleta. Na verdade, é a combinação de seus traços que o tornam extremamente charmoso e atraente. Seus músculos são perceptíveis debaixo da camisa azul-marinho, mas não são muito definidos. Seus olhos verde-claros cintilam um brilho quase surreal, e seus lábios são tão perfeitamente delineados e avermelhados, que deixam seus dentes ainda mais brancos, o que o torna quase irresistível.
Quero dizer, para as garotas da idade dele, obviamente.
— Já está pronta para voltar para casa, Srta. Teresa – o médico informa.
— Obrigada!
Levanto-me e ajeito a cadeira com o braço direito, até que os pés fiquem alinhados à reta do piso.
— Quando poderei tirar isso?
— Daqui a trinta dias – ele sorri.
Dou um passo para trás, perplexa.
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As Quatro Estações de Zoé
Novela Juvenil*Livro vencedor do prêmio The Wattys 2021* Enquanto Zoé é uma adolescente irresponsável e autoconfiante, Maia é uma criança com baixa autoestima e carinhosa. Teresa, por outro lado, é uma mulher inteligente e organizada, e Despina é uma senhora rabu...