Capítulo XXIX

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Se alguém me dissesse que fui atropelada por um trator, depois pisoteada por uma manada de elefantes, seguido por um rolo compressor e colocada em uma máquina de lavar, eu acreditaria. A minha cabeça ainda girava em uma velocidade absurda e o meu corpo estava completamente dolorido. Talvez a lua tivesse se chocado contra a Terra e me acertado em cheio, mudando o movimento de rotação e a minha percepção de realidade.

O cheiro insuportável começa a impregnar as minhas narinas assim que começo a respirar mais forte. É um mau cheiro azedo, ácido, semelhante a... vômito! Eca! Ergo a cabeça, ainda mal, e olho ao redor. Há pelo menos três poças de vômito no cômodo. Espere! Onde estou? Há um quadro de Hipócrates dependurado na parede e uma bateria bem no centro, em cima de um tapete bege. As paredes são revestidas de espuma acústica e há apenas uma janela estreita na parte de cima. Estou tentando entender o que houve, mas não tenho nenhuma recordação aparente.

Aos poucos, tento me levantar do chão. Está quente. Muito quente mesmo. A minha roupa parece emborrachada e estou completamente suada. O meu cabelo deve estar horrível!

— Oh, meu Deus! Estou fantasiada! – Digo para mim mesma, passando as mãos sobre o meu corpo. — E esse vômito é... meu? Que nojo! Como foi que isso aconteceu?

Caminho em direção à única porta e tento abri-la, mas está trancada e estou relativamente fraca. Bato algumas vezes, mas, aparentemente, ninguém me ouve. Como eu vim parar aqui? Será que fui sequestrada? Talvez eu seja sonâmbula.

Quem eu quero enganar? Eu fui mesmo sequestrada!

Ouço o barulho da maçaneta e, imediatamente, pego as duas baquetas para me defender. Talvez meus sequestradores tenham uma arma, mas não posso ficar totalmente desprotegida. E se eles tentarem fazer alguma coisa contra mim?

Quando a porta se abre, estendo as duas mãos contra eles, defensiva. Mas, para a minha surpresa, são dois rostos completamente conhecidos. Dois rostos que eu, definitivamente, não gostaria de ver naquela situação. 

— Brenda? – Olho para a garota, depois viro o rosto. — Dante? O que fazem aqui? O que eu faço aqui? O que fizeram comigo?

— Teresa? – Ela pergunta muito mais surpresa do que eu. — Como isso... aconteceu? Por quê... por que está aqui? Quando foi que... Isso é... impossível! Impossível!

Dou alguns passos para trás.

— Como você fez isso, Teresa? Como chegou aqui? Onde está a Zoé? – Dante pergunta, um pouco confuso. Ele está com alguns hematomas no rosto e o seu punho está enfaixado. — Você está vestida... como ela! Como isso é possível? Você estava na festa? Como eu não te vi? O que está acontecendo aqui?

Sinto a minha garganta seca e a minha cabeça dolorida, enquanto tento juntar as peças do quebra-cabeça. Acho que estou começando a entender. A Zoé veio a uma festa à fantasia. Mas por que não voltou para casa? A minha mente começa a fervilhar, se esforçando para encontrar uma solução, e o meu estômago ainda está mal. Eles não podem, jamais, saber quem realmente somos.

— Tem uma explicação para isso – começo, limpando a garganta. — Bom, eu vim ontem à noite atrás da Zoé, porque fiquei preocupada com ela. Resolvi vestir uma fantasia igual à dela para poder me "infiltrar" sem constrangê-la. Afinal, já fui uma adolescente e sei o quanto isso pode arruinar uma vida. Talvez eu tenha aceitado alguns refrigerante que, como podemos supor, não eram refrigerantes... Mas, assim que a encontrei aqui, acabamos discutindo, porque ela estava um pouco... alterada – faço uma breve pausa, tentando decifrar suas feições e saber se estou dando uma desculpa coerente. — Então ela conseguiu fugir, me trancou e eu não consegui mais sair desse lugar. Vocês sabem como a Zoé é inconsequente. 

As Quatro Estações de ZoéOnde histórias criam vida. Descubra agora