Capítulo XLVI

1.2K 174 209
                                    

A Dona Regina não poderia estar mais animada com a notícia de que poderia reabrir a cafeteria. Ela havia comprado tinta para pintar o lugar, toalhas de mesas novíssimas e quadros decorativos que eu mesma escolhi, e passamos horas e horas reformando o lugar. Após tantas mudanças, realmente parecia um lugar mais sofisticado e acolhedor, o que fez atrair novos clientes e a obrigou a contratar mais dois funcionários. Os meus amigos estavam muito felizes com o meu namoro com o Dante, incluindo a Dona Regina. 

Por outro lado, a questão sobre o meu estudo não estava indo nada bem. Eu havia recebido uma carta informando que, de fato, os três anos em que estudei no Ensino Médio haviam sido anulados devido ao excesso de faltas. Mas ainda havia uma solução. Eu poderia fazer uma prova e, caso passasse, conseguiria o diploma e poderia ir para a faculdade.

Além disso, aquele estava sendo o primeiro mês em que eu não havia me transformado em nenhuma das outras três. Eu continuava sendo a Zoé independentemente do clima e, sinceramente, isso foi incrivelmente bom. Pude curtir um dia ensolarado com os meus amigos na beira do lago, e um dia frio com agasalhos e chocolate quente em frente à televisão. E eu amava a sensação de andar por Hauste de mãos dadas com o meu namorado sentindo o cheiro das flores de uma agradável tarde amena.

— Sabe, Pão de Forma, quando estava me afogando, me recordei de algo que eu nunca pensei ser possível me recordar – comento com a Dona Regina, amarrando o avental. — Ou talvez tenha sido uma alucinação, não sei.

— E como foi isso? – Ela pergunta, fazendo a massa ganhar forma de rosquinhas.

— Ah, não sei explicar ao certo, mas eu estava dentro do útero da minha mãe – começo, me recordando da lembrança. — Eu me sentia confortável lá dentro, mas não era bem-vinda. Então eu fui crescendo e crescendo... até eu nascer. E foi uma mulher quem fez o parto.

— Uma mulher?

— Sim – afirmo. — Mas a minha mãe me odiava. Ela nem mesmo queria me dar um nome. Chegou a sugerir "Despina", "Teresa" e "Maia", apenas porque a outra mulher a pressionou para me dar um. Mas, no final, acabei recebendo o nome de Zoé... – paro de falar e começo a rir. — Sabe o que eu acho engraçado nisso tudo? O tanto que a minha mãe me odiava, a outra mulher retribuía com amor. Acha que é apenas um sonho? Ou foi apenas uma alucinação?

Ela continua fazendo as rosquinhas e olhando para frente, agora um pouco tensa.

— Essa não – ela diz, deixando a massa de lado e indo até a cafeteria. — O que ela faz aqui?

Balanço a cabeça, não compreendendo o que está dizendo. Então, começo a segui-la e, assim, compreendo o seu espanto.

— As pessoas realmente não consideram a qualidade como um requisito básico para frequentar um estabelecimento – a Diretora Olga diz, olhando ao redor como se tivesse nojo de estar na cafeteria. — Quando me contaram que você havia reaberto esse lugar, mal pude acreditar. Isso é uma atentado contra a saúde pública – ela para de falar e me encara. — Ora, vejam só... Zoé! Eu não estava errada quanto ao seu futuro, não é mesmo? Mas confesso que pensei que você fosse mais inteligente do que isso. Não escolheu o velho rico.

Sinto a Dona Regina cerrar os punhos, nervosa.

— O que faz aqui, Olga? – Ela questiona, nervosa. — Dê o fora daqui!

— Você se acha muito por sustentar esse lugar, não é, Regina? – Ela franze o cenho. — Sem isso aqui você não é nada. Eu tenho pena de você. Pena por você ser tão fracassada. Você se prende muito fácil àquilo que te destrói.

— As minhas escolhas não me destruíram, Olga! As suas, sim. Você fez a sua escolha naquela noite e não conseguiu conviver com isso! Você já fez com que a Zoé fosse expulsa da escola, já tentou fechar a cafeteria e ainda não está satisfeita? Por que não nos deixa em paz?

As Quatro Estações de ZoéOnde histórias criam vida. Descubra agora