Capítulo 43

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NATALIE NARRANDO...

A Priscilla esqueceu de pegar as meninas e levar a Nick no simpósio a noite na faculdade. A velha Priscilla está de volta? Eu estava furiosa com tudo aquilo. Não é possível que ela faça isso novamente. Eu não a deixei falar estava com raiva e a Bela muito magoada e furiosa pela mãe ter esquecido de busca-la quando ela se comprometeu a isso. Nossa casa parecia um hospício. A Nina está manhosa e chorando por tudo e a Priscilla berrou com ela a assustando. Depois ela pegou o carro e foi embora sem dizer nada. Liguei inúmeras vezes pra ela, mandei mensagem e ela me ignorou. Liguei no prédio dela pra saber se ela estava lá e no apartamento ninguém atendeu e na portaria diziam que ela não esteve lá. Priscilla sumiu por 72 horas e ninguém nunca sabia onde ela estava ou tinha falado com ela. Nicole estava preocupada sem entender o sumiço da mãe, a Bela estava triste se sentindo culpada e a Nina perguntando onde a mãe estava. Ela não tem ido trabalhar, o celular está desligado ou não atende e nem visualiza mensagens eu não estava entendendo o que estava acontecendo. Era noite, era quinta feira e a Nick veio no meu quarto.

Nick: Mamãe?

Eu: Oi filha? – ela entrou e fechou a porta.

Nick: Tem noticias da mama? – suspirou.

Eu: Não filha. Ela não me atende, ela não visualiza minhas mensagens, as meninas continuam dizendo que não sabem onde ela está, mas eu sei que elas sabem e não querem me dizer. Eu não sei o que está acontecendo. – falei frustrada.

Nick: Mamãe, algo muito sério aconteceu pra ela ter explodido daquela maneira, ter sumido a 72 horas, não responder nossas mensagens. Eu sei que ela vai voltar, e quando isso acontecer, não briga com ela. Escute o que ela tem a dizer.

Eu: Eu vou escutar filha. Isso tudo vai passar – eu estava magoada e com raiva e minhas filhas estavam sofrendo, mas eu tinha que passar segurança pra minha filha. Ela foi dormir e eu me deitei. – Onde você está Priscilla? – falei sozinha. A hora passou e eu não conseguia dormir. Era pouco mais de meia noite quando ouvi um carro entrando na garagem, era a Priscilla. Meu coração estava disparado. Eu fechei as portas das meninas, não queria que elas ouvissem. Desci as escadas e dei de cara com a Priscilla. – Onde você estava todo esse tempo Priscilla? – falei entredentes.

Pri: Vamos subir. – suspirou e passou por mim. Ela não estava bem. Sua expressão estava cansada, pesada e triste. Eu não consegui decifrar minha mulher depois de tantos anos. Entrei no quarto e ela estava sentada na cama, do lado que ela dorme e olhando para a janela, de costas para a porta. Entrei e tranquei a porta. Sabia que qualquer grito as meninas não ouviriam, mas queria garantir que nenhuma delas viessem para o meu quarto como tem acontecido desde o dia que a Pri saiu de casa após a explosão dela.

Eu: Priscilla, eu preciso de uma explicação. – ela não me olhou, permaneceu de costas. Dois minutos depois falei novamente. – Priscilla, você volta pra casa e não diz nada? – tava começando a me irritar.

Pri: Eu tenho câncer de mama. – senti meu corpo gelar, minha expressão de raiva sumiu dando lugar a expressão de choque, de susto. Desencostei da parede e fui em direção da cama ficando sentada atrás dela. Eu não sabia se eu colocava a mão nela, se eu respirava, se eu falava alguma coisa. Eu estava em choque. Ela voltou a falar – Eu descobri no fim da tarde do dia que voltamos da nossa viagem. Eu me secava no banheiro e quando passei a mão eu senti um caroço no meu seio esquerdo próximo a axila e era doloroso e aquele caroço não estava ali antes. Quando entrou no banheiro dizendo que ia fechar a mala eu tinha acabado de sentí-lo. Quando falei com a Luíza ainda no avião quando estávamos em São Paulo, eu marcava um horário com ela. No dia seguinte as 11 da manhã a Nathalia foi comigo a consulta, eu não queria ir sozinha, e não precisa dizer que você é minha mulher que eu deveria ter te chamado, porque não é bem assim. Não é fácil. – em momento algum ela olhou para trás. Pela entonação dela eu vi que ela estava chorando e estava arrasada. Eu não estava diferente. – Eu fiz ultrassom, fiz mamografia e no dia seguinte me foi apresentado uma mastologista e oncologista, doutora Marisa Ramalho. Quando cheguei em casa depois de perder a hora no trabalho, eu não conseguia falar, eu não conseguia sentir nada além de raiva e ainda cheguei com você brigando comigo e a Isabela também, a Nick provavelmente chateada comigo e a Nina fazendo manha. Eu tava com raiva, eu estou com raiva disso tudo. Eu fui para o meu apartamento e pedi para o porteiro não dizer que eu estava lá. Na manhã seguinte fiz um exame de medidor tumoral e depois dormi o dia todo. No dia seguinte fui para a clinica fazer biopsia e voltei pra casa de uber, eu não podia dirigir então deixei o carro no prédio. Eu fiz ontem a biopsia para saber quanto tempo está aqui e se é benigno ou maligno. O resultado sai na segunda feira e com ele vai ser traçado um tratamento. – ela soltou o ar. Eu estava muda. Me senti arrastada. Me despertei com o choro dela. Um choro que eu nunca vi sair da Priscilla. Eu a abracei por trás com muita força. Seu choro era insano, doloroso, com medo, com desespero. Seus soluços eram altos, ela estava extremamente fragilizada, com raiva e com muito medo.

Eu:Eu estou aqui com você... Pode chorar... Coloca isso pra fora. – eu dei graças a Deus mil vezes ali, pelonosso quarto ser a prova de som e a porta estar trancada. Eu chorei junto, masao contrário dela, eu chorei em silêncio. Depois de um tempo ela se levantoucolocou um pijama e deitou. Ela não me olhava, ela não dizia nada, ela sóchorava, só que dessa vez em silêncio. Eu a abracei por trás dei um beijo emseu pescoço. E assim ela chorou, voltando a soluçar e a tremer em meus braços.– Eu te amo, a gente está juntas nessa,vamos superar isso como tudo que já superamos na nossa vida. Isso vai passarmeu amor. Estamos juntas ok? – a abracei mais forte. Eu não dormi, eu veleiseu sono o resto da madrugada. Fiz carinho em seu rosto, chorei em silencio.Minha mulher estava sofrendo e não era pouco. Me sentia uma estupida por terpensado mil coisas horríveis sobre ela. Agora eu entendia seu atraso, suaexplosão, seu isolamento. Ela precisava do tempo dela para processar tudo isso.Eu com certeza teria feito o mesmo no lugar dela.

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Eu chorei com a Priscilla... Impossível não imaginar essa cena....

NATIESE EM: AS VOLTAS QUE A VIDA DÁ.Onde histórias criam vida. Descubra agora