Fale agora ou cale-se para sempre

Capítulo 1

CAPITULO UM

"Os encontros mais importantes já foram combinados pelas almas antes mesmo que os corpos se vejam".

Paulo coelho disse isso em pequenas frases e eu me pergunto sempre que leio isso se essa é uma verdade. Se for, então a minha alma esteve por um longo tempo esperando esse dia? O dia em que irei me casar com o homem que eu gostaria de manter bem longe de mim? Se a alma escolheu, então a dele também escolheu a minha? Estamos destinados a uma breve eternidade?

Cheiro doce, cheiro amargo, cheiro de felicidade, cheiro de medo e cheiro de raiva.

Inspiro diversas vezes e os mesmos cheiros ainda estão aqui, nesse grande quarto com cores claras, decoração de luxo e muito, muito brilho. Do lado de fora a movimentação é notável, até mesmo para mim que estou desde cedo trancada nesse quarto me preparando para a cerimonia que deve acontecer daqui trinta minutos.

- Me deixa ver como minha sobrinha está. - tia Penélope me gira na cadeira me colocando de costas para o grande espelho. - Oh! Perfeita. - fala emocionada tentando segurar as lágrimas para que sua maquiagem não desmanche. - Olhe só para você, está tão linda. Oh céus! Preciso de ar. - ela corre até a janela de vidro dupla.

Viro-me para o espelho para dar uma boa olhada em mim mesma. Observo meu cabelo claro preso em cascatas com uma tiara de cristal pontiaguda com pedras azuis que se misturam com a cor de meus olhos redondos e brilhantes. As maçãs do meu rosto delicadas estão rosadas e meus lábios carnudos estão com um batom claro, apenas para realçar sua beleza natural.

Toco de leve meu pescoço vazio onde vejo meus ombros finos e perfeitos como de mamãe. Já o meu nariz arrebitado foi de papai, isso eu posso garantir.

- Ainda podemos desistir. - comento me virando para minha tia que vem vindo com os olhos cheios de emoção.

Ela sorri como se eu tivesse feito uma piada, mesmo não havendo nenhum sinal de sorriso em meu rosto.

- Oh, não seja boba. Não deve contar uma piada dessas em um dia como esses, afinal o seu noivo de 13 anos atrás está lá fora esperando por você. - ela ajeita o vestido pastel social e longo que está usando. - Talvez eu deva trocar esse vestido?

- Talvez eu deva não me casar?

Ela me lança um olhar conturbado.

- Você foi criada há anos para ser a esposa perfeita e adequada da família Montenegro. Por anos as aulas de etiqueta foram necessárias e você ainda brinca com isso de desistir?

Ela não observa o quanto estou desapontada por isso. Por muito tempo tia Penélope e tio Valence foram meus pais. Depois do acidente terrível e da morte deles eles foram tudo que eu tinha. Tio Valence herdou tudo do meu pai, inclusive eu. Não posso negar, eu sempre tive uma boa educação, estudei nos melhores colégios e consigo falar varias línguas, mesmo sendo brasileira. Sim, sou brasileira e minha família se mudou para Nevada quando eu tinha oito anos e desde então estou aqui, mas não perco minha essência.

Resumindo, após meu tio herdar tudo isso decidiu unir a nossa empresa a maior em segundo lugar com a empresa dos Montenegro que sempre foi uma das maiores. Lógico que como toda historia que você já deva ter ouvido, para isso dar certos a filha única da família e o filho único deveriam estar em matrimônio e por isso ficamos noivos cedo. Na época eu tinha 14 e ele 17. Ambos deveriam respeitar a união até que pudessem se casar e se portarem como tal.