Capítulo 17

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CAPITULO DEZESSETE

"O obvio é a verdade mais difícil de se enxergar." Clarice Lispector.

Entro no hospital apressada com Cris ao meu lado. Vir com ela foi uma coisa boa, ela não fez perguntas e se mantem de pé. Eu não sei qual o estado de Tarkan e na verdade não sei por que me importo. Minha mente grita que o que eu mais queria pode ser que aconteça, mas o meu coração treme só de pensar.

Passo pela recepção e me encontro em um corredor branco e vazio, já estou na ala Vips por isso tudo é silencioso assim.

De onde estou posso ver Monroe aflita andando de um lado ao outro de frente a porta de emergência, junto de Leona.

— Senhora Ayra. — fala ela me avistando e vindo ao meu encontro. Seus olhos são duas bolas escuras e cheias de lagrimas, seu semblante é triste.

— Como ele está? Já teve noticias? — indago disparadamente.

— Ainda não. Não nos deixaram entrar lá e não sabemos de nada. — chora.

Passo a mão na cabeça tentando manter a calma, afinal eu não deveria estar tão nervosa.

— Como aconteceu? — Cris faz a pergunta que eu gostaria de fazer.

— Disseram que um carro bateu neles quando o senhor estava voltando para a casa. Parece que capotou diversas vezes.

Talvez ele tenha morrido ou estado em coma?

— Venha querida. — Cris se agarra a Monroe que está nervosa a leva para longe a fim de tranquiliza-la.

Meus olhos vão para Leona que nesse momento está vindo à minha direção. Sei que tudo que ela mais ama é o filho. Ela pode ser uma mulher fria e dura, mas sei que faz tudo por Tarkan e esse momento deve estar sendo difícil para ela. Posso ver nos olhos mel a vermelhidão de quem estava chorando, mas posso ver também a frieza dela para comigo.

— Então você veio. — comenta. — Achei que não daria ao trabalho.

— Esse é o meu papel, por isso estou aqui.

Ela sorri de lado e posso ver a semelhança nesse simples gesto, o quanto Tarkan se parece com ela.

— Faça o quiser, só não fique no meu caminho. — diz com seu mesmo tom.

Sento-me em uma das cadeiras e meus olhos ficam emperrados na porta dupla de vidro onde a faixada exibe emergência. Uma simples palavra pode mudar tudo, dizia mamãe. Ela me dizia que as palavras tinham poder e iam fazer de tudo para nos confundir. Agora, olhando para essa emergência eu não posso deixar de pensar em que tipo de situação Tarkan vai sair de dentro.

Meu peito aperta de uma forma que eu quase não consigo respirar, a ansiedade me toma com tanta força que parece invadir tudo em mim.

Estou com medo. Por um longo tempo eu só tive que me preocupar em como acabar com a vida daquele homem. Eu nunca precisei mais que isso, essa era a minha única preocupação. Agora, eu me vejo preocupada em como o fazer sair bem e com vida, mesmo que isso signifique o fim da minha paz ou dos meus planos.

Os ponteiros do relógio rodam e rodam, denunciando que já estamos esperando a três horas e a porta continua fechada.

— Ayra? — desperto de dentro da minha mente quando Cris me toca.

— Sim?

Ela me dá um sorriso de lábios fechados e um olhar acolhedor.

— Já faz três horas que está sentada aqui. Não quer um café?

Fale agora ou cale-se para sempreOnde histórias criam vida. Descubra agora