Sinto a escurecidão.
Sinto que ela me tomou.
Uma voz me chama mas não estou focada nela agora.
Estou em uma rua, mas não tem ninguém, não vejo ninguém.
Então ela aparece. Não a identifico, mas sei que é ela, eu sinto que é ela como toda maldita vez.
- Você foi embora. - Acuso com raiva e o lugar a minha volta vai se transformando.
- Fui.
- Você me abandonou.
- Abandonei e você fará o mesmo.
- Não. - Grito pra ela que ri.
Eu não farei isso.
Nunca farei.
Então minha pequena principessa aparece correndo na minha direção mas paralisa alguns passos antes.
Ela nunca apareceu aqui. Eu sempre estive sozinha. O que ela faz aqui?.
- Você vai embora também? - Me pergunta com o narizinho já vermelho.
- Nunca vou te deixar Aurora. - Afirmo e ela se joga em meus braços. - Nunca ouviu bem, essa é uma promessa.
●●●
Acordo me sentindo meio zonza e com a cabeça doendo. Demoro pra identificar o que está acontecendo então vou me lembrando.
- Aurora. - Sussurro e me levanto num rompante sentindo tudo latejar e minha perna doer.
- Mamma. - Escuto seu chorinho e olho em volta a encontrando encolhida atrás de mim.
- Ah meu Deus Aurora, vem cá pequena. - A pego a abraçando o mais forte possível e a escuto chorar de soluçar. - Vamos ficar bem, não se preocupe, seu babbo já está chegando.
Tento a consolar me fazendo acreditar fielmente em minhas palavras e sei que meu amigo nos encontraria até mesmo se estivéssemos na Rússia.
Olho em volta e vejo o pequeno quarto com mofos em alguns lugares, os vidros das janelas escuros com grades que parecem recém colocadas. Fora isso tem apenas um colchão fino que é onde estou nesse momento com minha filha e permaneço até ver que minha pequena chorou até dormir desmaiada em meus braços.
Deus, não nos deixe morrer aqui.
Imploro.
Aurora ainda vai crescer, descobrir do que mais gosta, vai infenizar a vida do seu melhor amigo com seu jeito meigo e mandão, vai ver os golfinhos que tanto deseja, ela vai brigar comigo na adolescência, vai arrancar suspiros conforme crescer deixando os homens da família malucos, vai me pedir apoio quando namorar e dar cabelos brancos a Lucca.
Cristo.
Lucca.
Ainda tenho muito o que viver ao seu lado. Quero que ele cumpre a promessa de me levar pra ver o mundo, quero o ver ser pai novamente mais babão do que já é quando vierem outros bebês, quero vê-lo ao meu lado de cabelos brancos e ainda sim um coroa bonitão que vai me fazer brigar com ele pois as novinhas continuarão o olhando por onde for e ele só saberá rir de mim enquanto ganha mais um prêmio pelos méritos da empresa.
Eu ainda tenho muita coisa pra fazer.
Preciso conquistar um emprego na empresa dos Ricci, ainda nem aprendi italiano ou me mudei pra Roma. Quero uma grande festa de casamento e ligar todos os dias durante a lua de mel pra saber como Aurora está.
Quero ver meu sobrinho nascer e Donna se formar na faculdade pra virar minha psicóloga por que com toda certeza não sou normal. Quero ter outros filhos e brigar com Lucca por se parecer com ele, porém ficar feliz no final. Preciso ver meu pai sendo feliz com muitos netos em volta.
Isso não vai acabar tão fácil assim.
Não sei quanto tempo se passou, mas meus braços já começaram a doer então deixei uma Aurora apagada no canto do colchão o mais longe da porta possível. Dormir é bom, ela está cansada e espero que não acorde com qualquer coisa.
Tento abrir a porta é claro trancada, mas não custava tentar não é mesmo, tento as janelas e dá no mesmo. Por fim fecho os olhos tentando escutar algo lá fora, mas só vem murmúrios em italiano onde não entendo nada.
Em um rompante a porta se abre e a cadela desalmada da Antonnella aparece e sorri como uma doente ao me ver de pé.
- O que você quer Antonnella? - Tomei coragem pra perguntar.
Como uma mulher tão bonita e com um futuro inteiro pela frente acaba assim?
- O que todos querem. - Respondeu.
- Dinheiro. - Afirmei e ela sorriu como uma madita doente.
- Lucca fará o que eu quiser. - Ela pegou um celular e tirou uma foto de Aurora dormindo mas quando ia tirar a minha me analisou e sorrio maldodamente antes de guardar o celular e encostar a porta.
- É so falar a quantidade que ele aparece aqui em menos de uma hora. - Tentei entrar no seu jogo mas ela desconversou.
- Ela te chamou de mãe, sabia? - Fala ríspida.
- Eu sou a mãe dela. - Ela gargalhou e depois me olhou séria.
- Eu sou a mãe dela, eu que deveria estar casada com o Lucca, não você.
Então veio o primeiro tapa onde eu estava despercebida e nem vi chegando, mas no segundo segurei seu pulso.
- Tsc, tsc. - Estalou a língua e sorriu. - Aceita ou meu amigo entra e bate nela.
Eu gelei na mesma hora. Como essa doente pode pensar e falar isso de uma criança que saiu dela, que ela deveria amar?
Então no segundo tapa eu me segurei e não fiz nada. Olhava pra Aurora dormindo tranquila sem ver essa atrocidade e feliz por ela não ficar mais traumatizada do que já ficará.
Minha filha me deu forças por estar apenas cansada de chorar e ter dormido. Por ela eu enfrento Antonnella, o homem que está lá fora e o próprio diabo.
Veio um soco em seguida na costela, na barriga e eles continuaram, reprimia o grito e quando me joguei no chão veio o chute e gemi pela dor sem entender muito o que acontecia a minha volta.
Mas então ela parou assustada e saiu.
Tentei entender o que aconteceu mas estava meio fora de mim. Continuei jogada no chão apenas olhando pra Aurora e segurando com todas minha forças para não gritar de dor a cada respirada.
- Olívia. - Escuto uma voz diferente da deles e acho que já estou delirando.
Então vejo Aurora querendo acordar e uma mão diferente em meus braços.
- Tira. - Murmuro e as lágrimas se rompem. - Tira ela daqui.
Quando vejo que Aurora está fora daquele lugar eu deixo a escuridão me tomar.
Não aguentava mais.
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Querido Italiano - Série Poderosos e Irresistíveis 2
Romance| Livro 2 | Recomendo a leitura dos livros da série na sequência. Lucca Ricci. Um italiano insistente que quando decide algo vai nisso até o fim. E ele decidiu que a teria. Que teria a linda morena que o encantou de primeira ao sorrir e mostrar sua...