1 de maio
Judith Hunt Ballard
Não consigo medir o nível de dor em que estou agora, e sei que já estou sedada em um bom nível, sinto as agulhas no meu corpo.
Respiro fundo e vejo que é um erro, um gemido de dor sai de mim e ouço algo se remexer, lágrimas descem pelo meu rosto e sinto uma mão acariciar minha cabeça.
-Eu estou aqui, querida.- minha mãe sussurra e desabo ao ouvir o som da voz dela.
Sinto a mão dela tremer ao passar pela minha testa e tento mexer minha mão, alguém a segura e sei que é meu pai.
-Estamos aqui, Judith.- ele fala calmo.- Não se preocupe.
Eu sinto a mão dele apertar a minha e minha mãe para de acariciar meus cabelos para alisar meu rosto.
Abro meus olhos e percebi que está de dia, a Liz entra em meu quarto e faz com que meus olhos doam.
Olho para a minha mãe e vejo as lágrimas descendo pelas bochechas dela, os olhos azuis em contraste com a vermelhidão.
Ela tenta sorrir e eu logo quero mexer meu corpo, as mãos do meu pai seguram meus ombros e eu o encaro.
-Ainda não pode levantar.- ele explica.- As incisões estão cicatrizando.
-Mas você está bem.- minha mãe sorri.- Você está acordada.- ela respira fundo.
-Tyler.- consigo falar.
-Ele está bem, já recebeu alta.- meu pai explica.- Está em casa agora, Hannah está com ele.
-Brandon também recebeu alta, Mia e Willie estão com ele. Ela vem visitar você de noite.- minha mãe explica.
Olho para meu pai esperando pela notícia ruim, tem sempre uma notícia ruim, por isso ele deixou Gabriel por último.
-Gabriel está com Tyler e Hannah.- ele informa.- E Thomas.
-Link está aqui?- pergunto.
-Sim, ele chegou um dia depois do acidente.- minha mãe explica.- Estão todos descansando.
-Geralmente estão todos aqui pela noite.- meu pai fala com calma.
Olho para a minha mãe e vejo aquele olhar que ela dá para o meu pai, aquele olhar de quem pede ajuda em um momento de crise.
Então olho para meu pai e ele tenta sorrir, parece cansado e não parece ter dormido muito bem esses dias.
-Fale.- minha voz sai rouca.- Só fale de uma vez.
-O feto não sobreviveu.- ele fala.
Desvio o olhar do dele e então encaro o teto, levo uma mão até meu rosto e limpo as lágrimas com raiva.
-Quem foi?- pergunto.
-Querida...
-Quem foi?- insisto.
-Miguel.- meu pai fala direto.
Eu não podia guardar esse ódio dentro de mim, não podia deixar que ele vencesse mais uma vez, por que ele tinha vencido quando capotou aquele carro.
Respiro fundo mais uma vez, mais um erro, pisco olhando para meu pai e então para minha mãe, os dois estão me encarando com pena e odeio isso.
-Eu não ia ter.- minto.- Não faz diferença.
-Judith.- meu pai toca meu ombro.
-Quando eu posso ir embora?- o interrompo.
-A médica falou que está cicatrizando bem, em uma semana pode receber alta.- minha mãe explica.
-Ok.- comprimo os lábios.- Eu preciso sentar. Eu posso sentar?
-Pode.- minha mãe aperta um botão e começo a me curvar.
Sinto um desconforto, mas mesmo assim eu aguento e finalmente estou sentada, meus cabelos caem ao lado do rosto.
Olho para meu braço e vejo vários curativos, então toco minha barriga e cinto os pontos, já era para eu estar acostumada.
-Eu quero ir embora.- minha voz sai fina e limpo uma lágrima.
-Você vai poder ir depois que estiver melhor.- minha mãe explica.- Para onde quiser.
-Não vou estar fugindo?- pergunto.
-Não, querida, precisa se afastar disso.- ela encara meu pai.- Já sofreu demais.
-Isso, volte quando estiver pronta.- ele balança a cabeça.- Nada de pressão.
-Eu preciso ver eles?- pergunto baixinho.- Preciso ver eles hoje?
-Não quer ver ninguém?- meu pai pergunta.
-Não.- balanço a cabeça.
-A escolha é sua.- minha mãe mexe os ombros.
Abraço meu corpo e começo a mexer nos curativos, não consigo pensar direito, não consigo me sustentar direito.
Algo está faltando, sinto como se eu tivesse perdido um membro, uma perna, um braço, não sei o que...mas parece pesado.
Não consigo olhar para ninguém agora, não consigo olhar nem para meus próprios pais, simplesmente não consigo.
Eu deveria ter previsto, deveria ter previsto que alguma coisa iria acontecer, tudo estava muito calmo, alguma coisa ia acontecer.
Cobri meu rosto e comecei a chorar, porém não sabia que ia me atingir tanto, achei que ia ser só um choro.
Mas a cama em que estava começou a balançar, isso fez minha mãe sentar ao meu lado e me abraçar como pode.
Meu corpo tremia e eu não conseguia respirar, simplesmente não conseguia respirar, parecia que eu estava morrendo.
-Eu sei, querida.- minha mãe puxa a minha cabeça e deito no peito dela.- Eu sei. Respire.
Me agarro com tudo que tenho à ela e sinto suas mãos alisando meus cabelos, não consigo parar de chorar.
Não consigo respirar, não consigo parar de chorar, não consigo fazer com que isso pare, não consigo fazer rnsda por que não sou eu controlando meu corpo.
-Eu sei, meu amor.- ela fala com uma voz calma.- Coloque para fora.- ela pede.
Sinto que tem muito mais, tem tanta coisa querendo sair, eu não consigo parar agora que comecei.
Eu não sei por que estou chorando, no final de tudo não sei por que estou chorando, talvez por causa do acidente...
-Estou cansada.- murmuro com a garganta doendo.
-Eu sei.- ela respira fundo.
De repente o choro violento se transforma em um choro menor, até minha mãe e eu estarmos deitadas na cama.
Sei que eu ainda estou agarrada a ela enquanto termino de chorar, não consigo largar minha mãe, não consigo soltá-la.
Preciso dela, de alguma forma eu preciso dela, nunca achei que precisaria tanto dela depois de crescer.
Mas percebi agora que eu continuo sendo uma criança, por que não consigo deixar ela por medo, preciso dela comigo.
Sinto a mão do meu pai no meu ombro e levo uma das mãos até segurar o pulso dele, eu preciso dos dois.
Lembro quando eu tinha medo do escuro, subia na cama deles e me escondia mas cobertas, minha mãe sempre acariciava meus cabelos enquanto meu pai me deixava subir nas costas dele.
Eu precisava deles agora assim como eu precisava deles quando era menor, eu tinha voltado a ter seis anos.
Tinha voltado a ser aquela menina medrosa e chorona, não conseguia parar de chorar, não conseguia parar de ter medo.
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A Herdeira - Mafioso - Livro 2
RomanceJudith Ballard Hunt foi sempre a melhor. Melhor aluna, melhor notas, melhor humor, melhor aparência, melhor competidora.... Porém isso sempre foi perseguido pela fama enorme dos seus pais no mundo da máfia, um mundo que seria dela algum dia. Herdeir...