“Caro professor Raymond,Eu não tinha a menor ideia de como deveria te escrever está carta.
Foram tantos anos sem qualquer rastro seu na minha vida e sem qualquer rastro meu na sua. O quê tínhamos? Memórias. Oh, muitas delas, você não concorda?
Você lembra daquela nossa viajem a Itália? Meu Deus, foi tão incrível e lindo. Você sempre tão cuidadoso e romântico. Você me fez a mulher mais feliz deste mundo.
Eu errei feio com você. Eu sei que não mereço o seu perdão. Acredite, meu amor, eu sei de tudo e adoraria tanto continuar não sabendo. Talvez eu nunca devesse ter acordado do coma ou talvez eu nunca devesse ter recuperado todas as memórias perdidas e então não faria mais mal à você.
Me perdoe, Gabriel. Eu acordei. Me perdoe por ter sobrevivido ao acidente que você mesmo provocou, mas que eu merecia completamente. Me perdoe se estou escrevendo e lhe contando de todas estás coisas.
Mas existe algo bem maior que nós dois e você não pode simplesmente ignorar. Ele é tão inteligente, sabe? Ele sonha tanto em te conhecer. Ele está tão ansioso, você não imagina o quanto ele te ama, apesar do destino ter lhe arrancado o direito de conviver ao seu lado.
A emoção me esmaga toda vez que olho para ele, entende? Ele é tão parecido com você, Gabriel. Ele tem o mesmo olhar apaixonado do pai. Exatamente o mesmo olhar que fez com que eu me apaixonasse perdidamente por você quando nos conhecemos na faculdade, lembra disso?
Eu fiquei tão nervosa no começo e tão tímida naquele belo dia de verão, e não fui eu mesma quando você chegou tão perto de mim e sorriu como um anjo. Pensei “Oh, meu Deus! Quando foi que cheguei no paraíso e ninguém me avisou?”
Ah, foi tão especial e único. Dias mais tarde, caminhamos pelo parque e sob àquela chuva tão suave, nos beijamos pela primeira vez. Éramos tão perfeitos juntos, você lembra?
Então, os anos passaram e as coisas foram mudando. Você encontrou algo que passou a se dedicar bem mais do que eu. A literatura. Oh, mas eu não lhe culpo. Eu também encontrei outra paixão e talvez tenha sido esse o meu maior erro na vida.
Você chegava tão cansado do trabalho e eu entendia, sabe? Eram tantas cobranças em cima de você. Mal podia respirar.
Mas eu também tinha necessidades, Gabriel. Eu tinha preocupações, frustrações e coisas para contar. Eu também não conseguia mais respirar ao seu lado. Como tudo foi morrendo tão rapidamente? Desde o dia que nos conhecemos, parecia não haver nada mais certo do que nós.
Um dia, você esqueceu alguma coisa e voltou cedo demais para nossa casa.
Foi tão difícil e humilhante, eu sei. Me perdoe ter sido tão covarde e traiçoeira. Me perdoe ter escondido de você que já não era só nós dois.
Você mudou completamente, Gabriel. Você ficou cego e eu entendo, juro que entendo. Por minha culpa, o frágil elo que existia entre dois irmãos foi totalmente rompido. Sinto muito mesmo. Fui a pior entre as mulheres, eu sei. Mas se eu pudesse voltar no tempo, Gabriel... se eu pudesse mudar as coisas e ter poupado você daquele inferno, eu o faria porque eu te amo. Sempre te amei, por favor acredite em mim.
Eu ouvi dizer que você seguiu em frente depois de todas as feridas que deixei marcadas em sua alma. Ouvi dizer que estava feliz e talvez até mais do que era comigo. Foi o que me fez recuar no retorno das primeiras lembranças sua, mas aí tudo foi ficando mais forte em minha cabeça e em meu coração, Gabriel.
E doeu saber que outra mulher tinha tudo que perdi. Sim, Eu perdi tudo. Você não tem ideia do quanto sempre significou para mim. Te amar nunca foi uma mentira e sei que no fundo, você sempre soube disso.
Mas houve uma ruptura. Não consigo imaginar o tamanho dessa dor e me machuca perceber que eu sou a maldita responsável por ela ser tão horrível, dilacerante e insuportável.
Eu te machuquei, amor. Eu te destruí. Eu te levei ao inferno.
Fui o seu pior, enquanto ela te levou para a luz, te curou de mim, te salvou e te mostrou o amor que eu não soube te dar.
Se soubesse o tamanho do meu arrependimento e da minha própria ferida, Gabriel... se soubesse o inferno que é a minha vida sem você do lado...
Mas eu sei que nunca voltaremos a ser àquele casal tão feliz e apaixonado de antes. Mas existe o nosso filho, Gabriel. O fruto do nosso amor se chama Arthur Gabriel, em homenagem à seu avô e também a você que foi o melhor dos homens, Enzo.
Deixarei o meu contato no verso desta carta. Não por minha causa, apesar de eu ainda te amar tanto. Mas porque o nosso Arthur não tem culpa de nada e merece uma chance.
Por favor, Gabriel, pense com amor em seu filho.”
Atenciosamente,
Helena Parker.
Quando eu poderia imaginar que a última correspondência que foi endereçada ao meu antigo lar pudesse ser uma reveladora carta de todo o meu passado?
Já são dois meses aqui, sozinho, enterrado em trabalho e escuridão. Até mesmo havia esquecido tal correspondência que trouxe na mala junto de todas as feridas.
Um simples acidente e a carta caiu no piso de madeira escura junto de O Animal Agonizante de Roth.
Como o seu conteúdo poderia ser verídico? É impossível. Helena morreu.
Só há uma maneira de descobrir, Raymond.
Apanho o celular e disco o número escrito no verso da carta, esperando que a ligação complete e a pessoa do outro lado diga que tudo não passa de um grande engano.
Meu coração acelera, mas não sei bem porquê.
— Alô? Com quem estou falando, por favor?
A voz é articulada, febril e com um tom de contida ansiedade. Impossível...
Minha pulsação é o único som que grita no silêncio da minha casa. Helena. Não. Mas é a voz dela. Estou enlouquecendo, é isso.
— Quem está falando, hein? — Ela insiste.
Fecho os olhos por um instante e engulo minha incredulidade com força.
— Sou o professor Raymond ou você prefere me chamar por Gabriel, Helena?
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Amores Proibidos - Vol. 1
RomanceA tempestade costuma castigar a cidade de Dreamland e não é uma novidade a nenhum de seus habitantes. Mas, atrasada para a aula de literatura do senhor Raymond - a brilhante, encantadora e jovem Anna Hayes não esperava contar que justamente naquele...