Anjo Capoeirista

Capítulo 60

      Apesar de toda a história, a reação que Ricardo teve foi muito além do que eu esperava. Eu estava com muito medo que ele entrasse numa espiral de negação e autopiedade e se culpasse por tudo o que tinha acontecido, mas ele acabou absorvendo a parcela dolorida da história e se deu tão bem com os dois "irmãos" que eu fiquei aliviado. Mas mesmo assim, enquanto eu fazia carinho nele, que estava deitado com a cabeça no meu colo, ele começou a perguntar sobre a nova família.

      — Amor, será que o pai do Renan e do Ramon já contou para a mãe deles sobre mim?

      — Você não está querendo dizer que o "Seu Pai" já falou de você para a "Sua Mãe"?! Não sei, meu anjo, mas acredito que ele deve ter tentado... Até porque ele vai ter que fazer o exame de DNA, a não ser que ele colha o material da sua mãe sem que ela note e só conte pra ela quando o resultado do exame for conhecido... Seria uma grande surpresa!

      Minha mãe, percebendo o que nós conversávamos, sentou ao nosso lado e falou pro meu ruivo não se deixar abater, porque era bem certo de que quando ele se encontrasse com os pais "verdadeiros", estes o receberiam de braços abertos.

      — Mesmo descobrindo que o filho perdido deles é gay? – Ricardo questionou, um pouco amedrontado pela possibilidade de ser rejeitado pela mãe, muito por causa do tratamento que sempre recebeu da mãe que ele sempre teve.

      — Coração de mãe não se engana, meu filho. Assim que ela puser os olhos em você, vai querer te pegar no colo. Por essa luz que me ilumina, você vai ver o que é um abraço de mãe que reencontra um filho... Mas você já tem um exemplo aqui, pra mim e pra Tião, você já é nosso filho. – Mainha falou isso e deu um beijo em Ricardo. Se levantou e voltou para perto de meu pai e tio Bené, que estavam prestando atenção no que nós falávamos.

      Como sempre, minha mãe tem a palavra certa pra dizer pra não deixar ninguém de moral baixa.

      Ainda ficamos conversando por mais um tempo, até meu tio falar que estava cansado da viagem e todos nos recolhermos para dormir, afinal, os próximos dias seriam dinamite pura.

Luciana

      Thiago entrou no apartamento chamando por mim, que desde a última terça-feira estava em ritmo frenético para tentar descobrir falcatruas do meu pai, tudo por causa da terrível descoberta sobre a vida do Ricardo.

      — Amor, cadê você?

       — Aqui no quarto, Thi... Vem ver o que eu descobri...

       — Ai minha mãe! Luciana, você não foi na casa do seu pai bater de frente com ele?

       — Não... Tá louco... Fui lá, mas por outro motivo... Não bati de frente com ele, não... Eles me acham descontrolada, mas não vou dar esse gostinho pro Sr. Roberto Fabri... É outra coisa... Andei assuntando com a mamãe e descobri que a víbora da tia Martina trabalhava no hospital que Ricardo nasceu, antes de vir trabalhar na empresa da família... Já é um ponto de partida na investigação.

      — Amor, você vai investigar isso sozinha? Teu pai vai desconfiar quando vir você se interessando pelos assuntos da família.

      — Não... Já contratei um investigador... Ele que vai ficar a cargo desse trabalho... Eu vou continuar como a filha rebelde... Só perturbando em outros assuntos... Metendo o bedelho na direção da empresa... Fazendo que ele, tia Martina e a cobra da Luzia pensem que eu quero tomar as rédeas da área financeira... Assim desvio a atenção deles do Ricardo... Até a hora de dar o bote...

      — Não esquece que o Márcio falou que o tio dele vai pegar o caso.

      — Não esqueci disso, Thi... Tudo que eu descobrir, vou passar pra eles. Aliás, o tio do Márcio chegava hoje, né? Tava pensando aqui, de arrumar um jeito de pegar uns fios de cabelo do meu pai e da minha mãe e fazer um exame de DNA...