Ricardo
A carona com meu sogro foi providencial, como a gente acabou se atrasando por causa do café da manhã, não deu para eu falar com o Maurício e pegar carona com ele. Achei que eles iriam me deixar perto de um ponto de ônibus, mas eles fizeram questão de me deixar na entrada da faculdade. Não adiantou eu insistir que eles chegariam tarde em seus trabalhos, "painho e mainha", como eles me pediram para chamá-los, saíram do trajeto e foram comigo até a faculdade. No caminho, eles foram me questionando sobre a minha família, muito por causa do sonho que eu contei no café da manhã. Minha sogra queria saber se eles sempre me trataram com indiferença ou se isso tinha acontecido só porque eu me assumi para eles.
— Quando eu era criança, eles eram um pouco mais carinhosos comigo. Quer dizer, meu pai, minha mãe e minha irmã mais velha. Porque a Luciana sempre me tratou como se eu fosse filho dela e não irmão.
— Oxe, meu filhote, então tua irmã que te criou? – Seu Sebastião quis saber.
— Praticamente... Ela já tinha quinze anos quando eu nasci. E ela me contou que minha mãe teve depressão pós-parto e só começou a "cuidar" de mim quando eu estava quase com oito meses. Nos primeiros meses meu pai contratou uma babá e minha irmã não saía do lado dela, cuidando de mim. Acho que se a Luciana não ficasse tanto tempo me olhando, eu teria sido criado pela babá.
— Virgem santa... Meu menino, mas tua mãe não se tratou dessa doença?
— Tratou, meio que do jeito dela... Luciana sempre me disse que a mamãe começou a frequentar a igreja e foi ficando cada vez mais fanática. Luzia, minha irmã mais velha, me tratava como se eu fosse adotado, como se não fosse filho dos meus pais. Acho que ela nunca gostou de mim. Meu pai nunca foi carinhoso comigo, ele falava que filho homem tinha que ser macho, não podia chorar, que ser sensível era coisa de mulherzinha. Ele não me maltratava, mas também não me abraçava, só me incentivava a praticar esportes, dizendo que era coisa de macho.
— Olhe só, meu menino, teu pai que nunca apareça na minha frente, que não respondo por mim e faço ele engolir cada palavra dura que disse pra você junto com cada dente que ele tem na boca. E não vai ser Sebastião quem vai fazer ele engolir todos os dentes, ele que pense em te tratar mal e essa tua irmã mais velha também... – Minha sogra falou, com os olhos em fúria.
— Filhote, a gente quer conhecer essa tua irmã Luciana, vou dizer a meu preto pra ele chamar pra ela vir no dia do vatapá. E já pode avisar a ela que eu não aceito um não como resposta. Quero ela lá em casa nesse dia. – Meu sogro falou, parando o carro em frente a faculdade.
Eles desceram junto comigo quando desci do carro, me abraçaram e me deram, cada um, um beijo na testa. Coisa que meu pai ou minha mãe nunca fizeram em todos os meus dezenove anos de vida e que jamais fariam em público. Se despediram, voltaram pro carro e foram embora. Um colega da minha turma viu e veio perguntar quem era aquele casal, pois eu sempre chegava na faculdade, ou com o Andrei, ou com a Joana, tirando as últimas semanas, que eu estava vindo de carona com o Maurício. Quando respondi que eram os meus sogros, ele riu e disse:
— Cara, você é sortudo, nunca que os pais da minha namorada viriam me deixar na faculdade!
— É, eles são demais, só que eu ainda não me acostumei com todo esse carinho que eles me dão. – Respondi, olhando pro carro que se distanciava.
— Aproveita cara, já que os sogros gostam de você, já tem passe livre com a garota! – Ele continuou comentando.
— É... Na verdade, eles são pais... Do meu namorado... – Respondi, meio sem saber qual seria a reação do cara, já que eu não conversava muito com ele. Falava mais com o Maurício. Com o restante da turma era só mais um "Oi, beleza!".
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Anjo Capoeirista
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