Capítulo 10

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     A manhã de sábado estava perfeita, não tinha uma nuvem no céu e o dia prometia ficar numa temperatura até agradável, mesmo estando no outono do Rio de Janeiro. Ah, mas não faz tanta diferença assim, fica sempre quente nesse estado... Tinha levantado cedo para adiantar as coisas para o Mestre Mosquito. Já estava pronto para ir tomar café, quando de repente a porta do meu quarto se abriu e meu pai entrou, vestido com a calça de capoeira e de camiseta do nosso grupo.

     — Já está pronto filho? – Foi falando, enquanto se sentava em minha cama.

     — Ué pai, que surpresa é essa? Vai jogar hoje? Faz tempo que o senhor não joga com a gente. O Quinho vive reclamando que o senhor não aparece mais lá!

     — Vou sim, já tinha prometido ao Tarcísio que aparecia assim que tivesse uma folguinha.

     — Ah, entendi! Quer dizer que pros seus filhos, o senhor diz que está sem tempo, mas pro Mestre Mosquito, o senhor conseguiu uma folguinha! – Falei, fazendo cara de ofendido, só pra ver qual seria a reação do meu pai.

     — Oxe, esse menino... Você sabe que eu tava todo cheio de serviço! Teu irmão também sabe disso. Não tava indo na roda de vocês dia de semana por causa das obras.

     — Tá bom seu Sebastião, tá bom... Vou fingir que acredito... – Falei, já rindo.

     — Ave-Maria, seu cabra, não venha mangando de mim não, senão tu levas umas "peias". Não é porque tu já estás grande que não te dou umas palmadas bem-dadas no rabo, seu moleque! E vamos logo tomar esse café, antes que sua mãe chame a gente no grito.

     Saímos do meu quarto e fomos tomar café. Minha mãe também estava arrumada, pronta para sair, quando chegamos na cozinha.

     — Bom dia mainha, vai com a gente assistir a roda?

     — Bom dia meu filho. Dormiu bem? Não vi você chegar ontem a noite.

     — Cheguei um pouco mais tarde mãe. Mas e aí? Vai ver a roda? Painho vai jogar dessa vez. A senhora sempre acompanha quando ele joga!

     — Vou poder não. Já tinha combinado com a Veneranda de irmos naquele abrigo que está precisando de ajuda. Vamos lá ver o que eles estão precisando e se der vamos fazer um mutirão pra ajudar eles.

     — Se eles tiverem precisando de muita coisa, avisa que eu falo com o pessoal lá da ONG. A Judith sempre consegue muita ajuda nesses casos.

     — Deixem de "conversê" vocês dois e vamos tomar logo esse café, que já está ficando tarde pra ir pra lá. Já deve ter chegado todo mundo! – Meu pai foi falando, todo impaciente, que minha mãe até se espantou.

     — Tá leso Sebastião? Onde já se viu, filho de deus, essa pressa toda! Qual o motivo desse "trelelê" todo? Já tem quase um ano que você não vai jogar capoeira com teus filhos. Por que essa correria logo hoje? Tá agoniado desse jeito por quê?

     — Também tô querendo saber, mãe. O pai entrou no meu quarto me apressando todo. Não entendi nada!

     — Oxe, não é nada demais. Eu prometi ao Tarcísio que ia, e palavra minha eu cumpro.

     Olhei pra minha mãe, enquanto me sentava à mesa pra tomar o meu café. Ela me olhou, deu uma piscadela e então, se sentou, junto com meu pai e começamos o nosso café, novamente com meu pai apressando todo mundo. Tinha motivo pro meu pai estar naquele agito todo, e eu já sabia do porquê desse auê todo. Ele não ficou me esperando acordado junto com minha mãe, não tocou um momento no fato de eu ter saído pro cinema ontem com o Ricardo. É, seu Sebastião tá achando que vai conhecer o Ricardo hoje lá na roda. Ele só inventou a desculpa de ter combinado com o mestre Mosquito. Tadinho, mas não vai ser hoje que ele vai conhecer o ruivo.

Anjo CapoeiristaOnde histórias criam vida. Descubra agora