Capítulo 35

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     Como era de se esperar a agitação começou cedo em casa. Dava pra ouvir minha mãe reclamando, antes de eu entrar na cozinha pra tomar café. Dessa vez não teve "reunião", mas meu pai estava no pé dela, pedindo a lista de compras e minha mãe retrucando: "Te aquieta Sebastião, vocês só vão comprar os ingredientes amanhã!". Entrei pianinho na cozinha, pra ver se ele não me notava, mas não adiantou. Fui colocado no meio da tempestade...

     — Ó paí ó, meu preto! Tua mainha não quer adiantar a lista de compras!

     — Deixe de bestagem, Sebastião. Tu sabe muito bem o que precisa comprar. Faço a lista hoje à noite e amanhã ela vai estar na sua mão, arre... Ô homem apressado!

     — Ei, nem vem... Me deixem fora dessa discussão de vocês!

     Era sempre assim, quando chegava perto de alguma comemoração ou festa. Eles ficavam parecendo cão e gato de tanto que discutiam. Mas acabavam sempre nos chamegos. Meu pai quando coloca uma ideia na cabeça, não sossega enquanto não realiza e minha mãe é sempre prática e puxa ele pra realidade. Tomamos nosso café, depois de minha mãe ter convencido meu pai a deixar a lista pro dia seguinte.

     Fui pro trabalho, e tivemos tantos relatórios para revisar, que quando percebi já estava na hora da saída. Liguei pro meu namorado, avisando que já estava de saída e que iria passar na faculdade para encontrar com ele. Me despedi do pessoal do escritório, peguei minha mochila e ia saindo, quando Mariano me perguntou se eu queria carona. Respondi que não, agradecendo, pois iria na direção diferente da que sempre ia ao sair do trabalho. Saí da ONG e fui andando até o Largo do Estácio para pegar um ônibus que me deixava próximo a universidade que Ricardo estudava. Fiquei esperando por uns quinze minutos quando finalmente o tal ônibus passou. Estava até um pouco vazio, pela hora que era. Achei que iria que nem sardinha em lata, mas até que dava pra se movimentar dentro do busão. Não tinha lugar pra sentar, mas mesmo viajando em pé, não fui sarrado por ninguém até descer perto da universidade. Ricardo já estava me esperando no pátio, junto com Andrei, Maurício e Murilo, que tinha vindo encontrar com a Joana. Murilo, Eduardo e Sérgio não estudavam na mesma faculdade que meu namorado. Murilo tinha vindo encontrar com a namorada e quando ficou sabendo que eu vinha encontrar Ricardo, ficou por lá pra falar comigo.

     Cumprimentei os rapazes quando cheguei perto deles e abracei Ricardo, tirando-o do chão. Ele ficou todo envergonhado, porque Andrei começou a botar pilha com o coro de "beija... beija... beija...". E como eu estava morrendo de saudades do meu ruivinho, dei um beijo cinematográfico nele, arrancando aplausos e tapinhas nas costas e incentivos como "Aeeee... Isso mesmo... Mais um..." de Andrei, Maurício, Murilo e Joana, que tinha acabado de se juntar ao grupo.

     Coloquei Ricardo no chão, ainda fazendo carinho em seus cabelos, quando Joana comentou que já estava de saída e queria saber se nós iríamos de carona com ela e Murilo. Andrei confirmou que queria carona, mas eu disse que não. Que tinha ido buscar o Ricardo para ir lá pra casa. Ainda confirmei com eles se iriam no sábado no almoço. Andrei respondeu na maior cara dura que não perdiam mais nenhuma boca-livre lá em casa, fazendo que todos nós caíssemos na gargalhada. Maurício perguntou se nós iríamos carona com ele, ou se iríamos a algum outro lugar antes de ir pra minha casa. Como dissemos que íamos direto pra casa, ele pediu que só esperássemos um pouquinho que ele ia só se despedir da namorada e já voltava. Joana, Murilo e Andrei foram embora enquanto Murilo foi falar com a namorada. Ficamos eu e Ricardo esperando, e enquanto o colega de turma dele não retornava, ficamos namorando mais um pouco, no pátio da universidade. Ricardo ainda não ficava muito confortável em receber tantas demonstrações de carinho minhas em público, e eu tentava fazê-lo enxergar que não havia problema nenhum com isso, não estávamos fazendo sexo na frente de todo mundo, mas ele ficava envergonhado cada vez que alguém passava por nós olhando. Puxei Ricardo para um banco de pedra que ficava perto de onde estávamos.

Anjo CapoeiristaOnde histórias criam vida. Descubra agora