Capítulo 63

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      Não ficamos muito mais tempo sozinhos no quarto, porque não deu nem meia hora e meus pais chegaram. Mainha já veio logo batendo na porta do quarto, querendo saber como Ricardo estava, se tinha tirado o gesso, se ainda estava sentindo dores, se queríamos jantar... Enfim, o jeito totalmente mãezona de dona Maria do Céu. Acabou que ela nos carregou pra sala e ficamos de papo com eles e com tio Bené. No meio da conversa, o celular de meu tio tocou e ele atendeu, dizendo pra nós que era ligação do Ernesto. Continuamos a conversar, enquanto meu tio falava ao celular com seu marido, e quando ele terminou, perguntou ao meu pai se poderia ir com ele buscar Ernesto no aeroporto, o voo chegaria às onze da noite. Painho que já não gosta de uma bagunça, falou que ia e queria arrastar eu e Ricardo junto.

      — Ave-Maria, Sebastião... Pra quê tanta gente pra buscar teu cunhado, vai só você e Benedito... Senão não cabe Ernesto no carro. Deixe de arerê, homem... – Mainha tentou colocar um freio na animação de painho.

      — Oxe, mas era pra Benedito, Márcio e Ricardo já irem contando as novidades pro Ernesto, assim ele já pode ajudar no caso.

      — Não precisa, painho. O tio já deve ter falado com o Ernesto, e como mainha disse, pra quê lotar o carro? Vão só o senhor e o tio buscá-lo. Eu e Ricardo temos que acordar cedo amanhã, temos aula e vamos dormir cedo hoje... O dia foi cansativo pra cacete. – Falei, recebendo confirmação de Ricardo e minha mãe.

      Ainda estávamos conversando na sala quando a campainha tocou e Felipe entrou, dando um beijo em minha mãe quando ela abriu a porta.

      — Eita, chegou animado! Não aprontou nenhuma das suas por aí não, hein Felipe? – Perguntei, porque já conheço a peça de longos carnavais.

      — Não... Tô manso essa semana, fera... Prometi a minha mãe e a madrinha. – Respondeu ainda abraçado à minha mãe.

      — É, porque você tinha dito que ia falar com o Gabriel e o Fernando... – Continuei.

      — Falei com eles, mas eles não toparam a proposta de casamento que eu fiz... Eles não estão preparados pra um trisal comigo... – O safado respondeu rindo e olhando pra minha mãe, como dizendo que tinha se comportado.

      — Oxe, você não toma jeito, menino... – Mainha falou, olhando pro afilhado, mas controlando o riso.

      — Que isso, dinda? Eu sou um rapaz sério... Pra casar... Pena que eles não aceitaram... – Respondeu, novamente abrindo aquele sorriso moleque que ele tem. — Fui lá, conversei com eles, matei as saudades da tia Cristina e da tia Rosalva. Não sabia que ela tava trabalhando no mercado agora. Mas antes passei na tia Veneranda e na tia Cida pra entregar os presentes que minha mãe mandou. Depois fui lá, conversar com os nanicos, e voltei pra almoçar com a tia Cida. Tava lá até agora... Ih, Ricardo tirou o gesso? Agora sim, tá inteirinho, porque gatinho você já é... Por falar nisso, já pensou naquilo que eu te falei? Me apresentar o teu priminho homofóbico pra eu livrar vocês dois dele...

      — Felipe! – Eu e mainha falamos juntos. O sacana ficou rindo, agora ao lado de Ricardo, quase abraçando o meu ruivo.

      — Calma aí Marcinho, não precisa ficar com ciúmes... O Ricardinho só tem olhos pra você... Não tenho nem chance... – Falou rindo. — Então deixa eu desenrolar esse paranauê pra vocês dois, você sabe que eu sou mestre em tirar encubados do armário.

      — Felipe, você não sabe como meu primo é... Ele não é uma pessoa fácil... Ele é traiçoeiro... – Ricardo falou, tentando convencer Felipe.

      — Oxe Ricardo, nem adianta que esse aí é mais cabeça dura que meu filho. Quando ele encasqueta com alguma coisa é igual a burro empacado... Não muda de ideia... – Meu pai falou e tio Bené ria da situação.

Anjo CapoeiristaOnde histórias criam vida. Descubra agora