Meu pai entrou na sala já perguntado pelo Ricardo, sendo seguido de perto pelo Murilo, que apesar de assustado com o ímpeto do seu Sebastião, estava rindo da situação. Quando ouvi a voz do meu pai, voltei pra sala junto com Ricardo e Andrei. Ao ver Ricardo ao meu lado, o baiano abriu o sorriso e com "duas passadas" atravessou a sala e envolveu Ricardo num abraço de urso.
— Ave-Maria, meu menino, é verdade que tu vai morar mais a gente? – Falou, sem dar tempo de meu namorado responder nada.
— Calma aí, seu Sebastião, assim o senhor mata meu namorado esmagado! Pega leve, painho, ele não tá acostumado com esse quebra-costelas que o senhor dá! – Tentei salvar Ricardo dos braços de torniquete do meu pai.
Andrei e Murilo riam da minha tentativa frustrada de tirar Ricardo, que não conseguia falar nada, do abraço do meu pai.
— Ó paí ó, esse menino tá precisando de carinho de pai e mãe... Deixe ele aqui mais eu, pra que meu genrinho se acostume com o painho dele aqui! Bora, deixe de cozinhar o galo, meu preto... Já arrumaram "as troxas" pra levar? Ou quer que eu venha depois, buscar a mudança?
— Ele não tá indo de mudança... Ainda... – Andrei respondeu pro meu pai. — Ele vai passar esses dias, até as provas do Enem, porque tá dando dó na gente, ver ele todo triste, porque não vê o namorado todo dia...
— Aff, pensei que finalmente Márcio ia levar esse bichinho pra morar lá em casa! – Meu pai falou, fazendo cafuné no Ricardo.
— Não, seu Sebastião... Eles me convenceram a passar uns dias na sua casa. – Ricardo respondeu, olhando pra mim e pros moleques.
— Oxe meu branquinho... Não me chame de seu Sebastião, não... Chame de painho... Você já é meu filhote, viu! Mas já arrumaram as coisas pra levar?
— Calma aí, painho... Estávamos terminando de arrumar quando o senhor chegou... Nem parece baiano, apressado desse jeito tá parecendo é paulista! – Falei, rindo.
— Ave-Maria, tá ficando queixudo que só a porra, que a cara nem arde! Tu se respeite, Márcio Antônio, não é porque tá graúdo que não te dou umas peias! Tome tento, menino! – Meu pai falou, ainda abraçado com Ricardo.
Murilo ficou olhando de mim pro meu pai com cara de quem não tinha entendido nada, enquanto Andrei e eu caíamos na gargalhada. Ricardo estava vermelho que nem um tomate, mas ria baixinho também.
— Oxe meu rei, que cara de leso é essa? – Meu pai perguntou pro Murilo, mas quem respondeu foi Andrei:
— Esquenta não, seu Sebastião... É que o Murilão aí não entende porra nenhuma de "baianês" e ficou boiando quando o senhor falou...
— Melhor a gente terminar de arrumar as roupas e o material da faculdade, senão, daqui a pouco quem tá ligando é minha mãe... Aí a parada vai ficar séria... – Falei. — Dá pra liberar meu namorado, pra ele poder terminar de arrumar a mala dele, painho?
— Oxe, já deviam ter feito isso! – Meu pai resmungou, ainda relutando soltar Ricardo de seu abraço.
Depois de muita insistência minha, meu pai soltou meu namorado e Ricardo e eu voltamos pro quarto para terminar de guardar o que ele levaria, enquanto Andrei e Murilo ficaram na sala, conversando com meu coroa. Meu ruivinho terminou de guardar suas roupas na mochila e eu perguntei quais eram os livros e outros materiais da faculdade que ele precisaria levar, para poder guardar na mochila que ele levava pras aulas.
— O Andrei já guardou tudo pra mim, são esses que ele pôs na minha mochila, se eu precisar de mais alguma coisa, eu venho aqui e pego.
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Anjo Capoeirista
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